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Ambiente  | 13/04/2011 08h20min

Em defesa da guarda responsável

Adotar um mascote é uma decisão séria. Arrepender-se e devolvê-lo para um abrigo costuma ser traumático

– A crueldade do homem é tamanha que nem os animais escapam.

É assim que o casal Angélica Bessa, advogada, 42 anos, e Fernando Bessa, engenheiro, 51, manifesta a indignação de ver a "devolução" de animais anteriormente adotados. Desde 2010, os dois são voluntários no Augusto Abrigo, lar especializado no acolhimento de bichos abandonados em Brasília. Atualmente, a instituição abriga 329 cachorros e 202 gatos – todos à espera de um gesto de solidariedade.

Angélica até hoje se emociona com a história de Serena, uma cadelinha que vivia com um morador de rua antes de chegar ao abrigo. Serena sofria maus-tratos os mais cruéis possíveis, conta a advogada.

– Foi até bom ela ser abandonada porque assim teve cuidados e muito amor – diz.

A vira-lata rapidamente se adaptou à nova rotina e superou os problemas do passado. Ganhou também um novo lar.

– Foi amor à primeira vista: acabei adotando minha lindinha – revela.

Infelizmente, nem todos os animais se recuperam com tanta facilidade. A bancária Ana Carolina Rabelo de Araújo Gonçalves, 34 anos, também voluntária do abrigo, adotou a cadelinha Malu – um típico caso de depressão animal.

– Ela era arredia e tinha medo de todo mundo. Não conseguia se movimentar direito por conta da patinha amputada e comia deitada – relata.

Ela adverte que a decisão de adotar deve ser muito bem pensada para que não ocorra novo abandono.

– As pessoas devem avaliar se têm paciência e tempo, pois, muitas vezes, o bicho vem com traumas. É preciso muito amor – resume.

O abandono atinge mais os cães e costuma estar relacionado a motivos banais.

– Teve casos aqui no abrigo que as pessoas adotaram um cão sem raça definida, após um tempo e o devolveram porque compraram um de raça – relata a advogada.

Às vezes, as pessoas ignoram os gastos que um animal proporciona e se arrependem da adoção. Também é comum o abandono depois de constatado que o pet é agitado. Já no canil da Zoonoses (que conta atualmente como 2.915 animais), o que mais se vê são cachorros e gatos (1)doente e deprimidos.

Animais nesse estado precisam de atenção redobrada.

– O novo lar deve ser mais atraente e seguro que o abrigo, do ponto de vista canino. Para nós, é óbvio que uma casa de família com todo o conforto, cama quentinha, comida no prato e muito amor, seja muito melhor que o abrigo – explica a veterinária Alida Gerger, consultora comportamental da ONG Cão Cidadão e coautora do livro Cão de família (Ed. Agir).

Basicamente, o tratamento visa a prática de atividades motivacionais, como exercícios e brincadeiras.

O veterinário Laurício Monteiro, responsável pela Gerência de Controle de Reservatórios e Zoonoses, explica que o órgão procura desenvolver projetos que incentivem a posse responsável de animais. A campanha tem dois objetivos: poupar os bichos de sofrimentos e incrementar a saúde pública, com o controle mais efetivo de doenças.

– Os animais são entregues aqui com o maior desprezo com a vida deles – critica. – Acima de tudo, respeite os animais – reforça Angélica Bessa.

Mudanças bruscas na rotina do mascote podem levá-lo à tristeza patológica. Segundo a veterinária Alida Gerger, a depressão animal não é igual à humana e raramente dura longos períodos.

– Ela está relacionada a algum período em que ocorreu uma mudança importante na vida do cachorro. Entre as causas mais relatadas, está a morte de pessoas ou de animais próximos. Uma viagem do dono também pode afetá-lo – exemplifica.

CORREIO BRAZILIENSE
 

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