Economia | 07/04/2011 07h11min
Achim Steiner é subsecretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e diretor-executivo do Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma)
"Em apenas dois anos, a ideia de uma "economia verde", com suas ligações ao desenvolvimento sustentável e à erradicação da pobreza, passou de uma ideia interessante a um dos dois assuntos mais importantes na vindoura Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável - ou Rio+20.
Muitas pessoas podem se perguntar se a economia verde é apenas um jargão para agradar ou, genuinamente, um novo caminho para um século de menos carbono, mais eficiente no uso de seus recursos e mais sustentável. Será a despedida do modelo desenvolvimentista do passado, como proclamam seus defensores, ou mais um caso de novas roupas ambientais para o imperador?
Talvez a resposta possa ser encontrada em algumas das transições extraordinárias que estão ocorrendo nos setores de eletricidade e de energia ao redor do mundo. Muitas pessoas, por exemplo, debocham da ideia de que a energia solar poderia ser algo além de um nicho de mercado para entusiastas ou de um custoso elefante branco, superestimado pelos benfeitores do ambiente.
Em 2002, um fundo privado de equidade estimava que as instalações anuais de painéis solares fotovoltaicos poderiam chegar a 1,5 gigawatts em 2010. Na verdade, 17,5 gigawatts foram instalados em 2010, um aumento de 130% em relação a 2009. E as instalações de painéis fotovoltaicos devem aumentar esse ano, em talvez 20,5 gigawatts, elevando a capacidade global para cerca de 50 gigawatts - o equivalente a cerca de 15 reatores nucleares.
Tudo isso não ocorre apenas em economias desenvolvidas como Alemanha, Espanha e Estados Unidos, mas em países como Bangladesh, Brasil, China, Índia, México e Marrocos. De fato, segundo uma estimativa feita pela IMS Market Research, mais de 30 países serão parte desta revolução solar emergente em 2015.
Nada disso aconteceu por sorte. Alguns países agilizaram-se cedo para abraçar a dimensão energética de uma economia verde e introduziram os incentivos e políticas públicas necessários. A capacidade de fabricação foi aumentada consideravelmente, o que diminuiu os custos pela metade nos últimos dois anos. Na verdade, prevê-se que o preço dos painéis sejam reduzidos pela metade novamente este ano.
Uma usina nuclear pode levar de 10 a 15 anos para ser construída, e uma estação energética de carvão, cinco anos. As plantas solares de tamanho médio, de cinco a 10 megawatts, no entanto, agora levam apenas três meses do planejamento à construção. Com a possibilidade de vender a energia excedente e com o livre concorrência, os painéis solares parecem bem posicionados para oferecerem soluções rápidas e em grande escala para construção.
A Agência Internacional de Energia estima que, para alcançar o acesso universal à eletricidade por 2030, cerca de US$ 33 bilhões adicionais em investimentos anuais no setor energético serão necessários. Isso parece muito dinheiro, especialmente tendo em vista as memórias recentes da crise econômica e financeira que ainda causa problemas em grandes partes do planeta. Mas novos investimentos em painéis solares chegaram perto da cifra de US$ 89 bilhões em 2010. Investimentos multibilionários também foram feitos em novos parque eólicos, plantas geotermais e para várias outras fontes de energia renovável.
A recuperação da economia verde emerge pelo setor energético, motivada por preocupações com as mudanças climáticas, com a poluição atmosférica e com segurança energética - assim como pelo desejo de gerar novos tipos de indústrias competitivas que ofereçam empregos.
Ela também pode ser vista no crescimento da indústria de reciclagem na Coreia do Sul, ou na maneira em que a Indonésia tem incluído as florestas como parte de seu planejamento econômico e social. O desafio para o Rio+20 é estar em acordo sobre uma gama de políticas de longo prazo que possam ser aplicadas gradualmente ou de uma vez para acelerar a recuperação.
No Fórum Mundial do Programa Ambiental da ONU, sediado em Nairóbi, no Quênia, demos uma contribuição fundamental para esse debate, com o lançamento de A Transition to a Green Economy (A Transição para uma Economia Verde). O relatório analisa como um investimento de 2% do PIB global na economia verde poderia elevar o crescimento econômico e ter efeitos sociais positivos, mantendo, ao mesmo tempo, a pegada de carbono da humanidade em limites sustentáveis.
Em particular, as escolhas catalíticas para 10 setores - de agricultura, pesca e florestas a transportes e construções - são tão relevantes para o desenvolvimento quanto são para os países desenvolvidos. E são tão relevantes a países mais controlados pelo Estado quanto para economias de mercado.
Haverá sempre aqueles que sorriem ceticamente à mera menção de uma economia verde e dispensam transições de longo prazo. É hora de colocar os números na mesa e mostrar como os avanços na energia solar apenas começam a mostrar que eles estão errados."
Tradução: Fernanda Grabauska
Grupo RBS Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2011 clicRBS.com.br Todos os direitos reservados.