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Cidades  | 26/07/2011 07h10min

Por uma boa distribuição de gente

Especialistas defendem cidades mais bem distribuídas e com boa densidade populacional dos espaços ocupados. De acordo com os pesquisadores, cada quadra deveria abrigar de 300 a 500 habitantes em prédios de cerca de 15 andares

Pedro Moreira  |  pedro.moreira@zerohora.com.br

Maior cidade brasileira e uma das maiores metrópoles do mundo, São Paulo abriga mais de 11 milhões de habitantes e carrega consigo um estigma: trata-se de uma cidade gigante e cheia de arranha-céus, com gente empilhada por todos os cantos - uma cidade vertical. Mas a realidade não é bem essa.

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A capital paulista é uma cidade gigante, mas horizontal, espalhada. E com baixa densidade - apenas com alguns pontos de concentração populacional -, o que faz dela um exemplo de crescimento sem planejamento. Um problema que se repete no desenho das grandes cidades brasileiras.

- Tudo na cidade é fluxo. As pessoas, a água limpa, o esgoto, a eletricidade, tudo se movimenta. E, ao se movimentar, gera impacto ambiental. Se as distâncias forem maiores, maior é o impacto. Ao levar a infraestrutura para esses lugares afastados, acaba-se valorizando terrenos entre o núcleo urbano e essas áreas, construindo mais cidades. E mais impacto - alerta o diretor da Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie, de São Paulo, Valter Caldana.

A horizontalização com baixa densidade é uma solução urbana equivocada. Empurrar as pessoas para longe de onde elas precisam estar no dia a dia é uma ação que gera uma reação ambientalmente perigosa. Como afirma Caldana, quanto mais distantes as pessoas estão, mais CO2 emitem. Além disso, áreas verdes, antes intactas, têm de ser devastadas para dar lugar a casarões em condomínios, casas de classe média, loteamentos de classe média-baixa ou casebres em vilas.

A saída para o problema? Uma cidade mais bem distribuída e contínua, com estímulo ao uso de espaços ociosos ou subutilizados. Cada quadra poderia abrigar de 300 a 500 habitantes, distribuídos em prédios de cerca de 15 andares. Os quarteirões seriam entremeados por áreas verdes de convívio e edificações de serviços de primeira necessidade, criando pequenos centros.

Trata-se do conceito de cidade compacta, consenso entre especialistas. Nesse modelo, o morador tem acesso, em uma distância que possa vencer a pé ou em transporte de baixo impacto - como a bicicleta -, à maior parte dos serviços urbanos de que precisa no dia a dia, incluindo, aí, emprego e educação. Os grandes deslocamentos ficariam restritos a necessidades específicas. A regra vale para infraestrutura e moradia:

- O hospital pode ficar a 10 quilômetros, mas o posto de saúde tem de ficar mais perto. Assim como um centro universitário de excelência, enquanto as escolas até o Ensino Médio devem ser distribuídas pelas proximidades - explica o diretor Caldana.


Porto Alegre é vertical

Ao contrário de São Paulo, Porto Alegre é uma cidade vertical. De verdade. Conforme o supervisor de informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Ademir Koucher, o município é o mais verticalizado do país entre as capitais. Pelos dados preliminares do Censo Demográfico 2010, 46,67% dos domicílios da capital gaúcha são apartamentos - o levantamento anterior (Censo 2000) já apontava a primeira posição no ranking.

Mesmo assim, houve uma expansão considerável em direção aos extremos nos últimos 10 anos, motivada pelo aumento do poder aquisitivo. Muita gente comprou ou está comprando o primeiro imóvel em condomínios horizontais na Zona Sul ou em grandes empreendimentos na Zona Norte.

Para o argentino Juan Luis Mascaró, professor de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) por 30 anos, a "mancha" dos serviços ainda está muito distante da "mancha" da moradia na capital gaúcha. Ele defende a ideia de cidade policêntrica, levando os serviços até onde as pessoas moram, em vez de levar as pessoas até os serviços. A ideia é reduzir o número de deslocamentos e a distância percorrida.


Hora de compactar espaços

Muitas ideias de compactação das áreas urbanas estão no livro Cidades para um Pequeno Planeta, do urbanista Richard Rogers. O autor defende a multifuncionalidade das cidades compactas, conectadas às pessoas que vivem nelas. E vice-versa. Valter Caldana é otimista em relação à discussão sobre a sustentabilidade das cidades brasileiras. Mesmo ciente do longo caminho a percorrer, ele entende que estamos mais conscientes de que a arquitetura e o urbanismo não são assessórios no cotidiano, e, sim, essenciais para a qualidade de vida de todos:

- Eu poder dormir meia hora a mais de manhã ou chegar em casa mais cedo para brincar com o meu filho são questões ligadas diretamente ao urbanismo. A sociedade está a cada dia mais atenta para o fato de que a cidade não é o palco, ela é uma atriz na nossa vida.

Ricardo Chaves / Agência RBS

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Foto:  Ricardo Chaves  /  Agência RBS


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