Saúde | 03/04/2011 08h12min
Falar em abolir o consumo de carne na terra do churrasco pode até soar como um insulto, mas é o que algumas pessoas estão fazendo. São os adeptos do vegetarianismo, um grupo que vem crescendo nos últimos anos a ponto de virar tema de estudo de especialistas. Em uma das mais recentes obras sobre o assunto, Vegetarianismo e Ciência (Editora Alaúde, 252 páginas, R$ 39), o cardiologista e nutrólogo Julio César Acosta Navarro, com 20 anos de sua carreira dedicados a descobrir os efeitos da dieta livre de produtos de origem animal no organismo, garante que abolir a carne das refeições não oferece qualquer prejuízo à saúde. Para Navarro, o ser humano não nasceu para ser carnívoro.
– Essa história de que na dieta sem carne há deficiência de proteína, vitaminas e sais minerais é mítica. Todos os alimentos vegetais têm esses nutrientes, mesmo que em níveis menores. Existem muitas formas de compor uma dieta equilibrada. Até mesmo grandes atletas adotam o vegetarianismo – diz o o médico chileno naturalizado brasileiro, que atua no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Não ingerir proteína acarreta a perda de massa muscular, fraqueza, déficit de crescimento, alterações metabólicas, cerebrais, de aprendizagem, musculares, cardiovasculares e imunológicas. Isto ocorre quando há falta de alimentos. A dieta vegetariana, segundo o médico, permite que se busque alternativas, como o próprio nome diz, nos vegetais.
O autor da obra faz apenas uma ressalva: mesmo o prato mais balanceado do vegetarianismo será carente de um tipo de vitamina. A B12 é a única que não é encontrada em quantidades suficientes em nenhum outro alimento que não tenha origem animal. Ela é essencial para o bom funcionamento do Sistema Nervoso Central. Em falta, pode causar depressão, por exemplo. Os sinais mais claros do déficit desse nutriente é memória prejudicada e fraqueza. Por isso, aos adeptos do vegetarianismo é indicada uma suplementação alimentar, que pode ser em cápsulas ou injetável.
Os especialistas consideram a discussão sobre as perdas de substâncias essenciais para o corpo com a dieta vegetariana ultrapassada. Há agora uma busca pela educação da população, já que quando se decide adotar hábitos diferentes de alimentação deve-se ter acompanhamento médico e nutricional. O segredo do sucesso já é batido, mas não custa reforçar: equilíbrio.
Para a endocrinologista Patrícia Santafé, do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), a dieta em si é saudável. O problema, conforme a médica, é que a maior parte das pessoas elimina a carne e seus derivados por conta própria, sem se preocupar com a reposição de nutrientes essenciais.
– Quando corta todos os produtos de origem animal da alimentação e não compensa com outros alimentos, a pessoa pode apresentar deficiência de cálcio, de ferro e de gordura. Isso compromete o colesterol e pode causar anemia – adverte Patrícia.
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