Energia | 26/03/2011 08h34min
O maior depósito de lixo nuclear do continente americano contém 200 milhões de litros de lama radioativa, subproduto da fabricação de bombas de plutônio. O local é seguro, segundo as autoridades, mas o acidente nuclear japonês fez ressurgir o medo entre os moradores locais.
Mais de vinte anos após seu fechamento, 12 mil pessoas ainda trabalham no lixão Hanford, simplesmente para garantir a limpeza da instalação que data da Segunda Guerra Mundial. Foi desta fábrica, situada no estado de Washington (noroeste dos Estados Unidos), que saiu a bomba lançada sobre Nagasaki em 1945.
Sessenta e cinco anos mais tarde, o local, que tem 15 vezes o tamanho de Paris, abriga abaixo da terra 177 contêineres de concreto cheios desta lama radioativa. Tom Carpenter, do movimento ambientalista Hanford Challenge, teme o impacto de uma catástrofe natural neste estado ameaçado por terremotos. Além disso, Handford dispõe também de uma usina nuclear em funcionamento.
Carpenter teme ainda que terroristas ou loucos coloquem as mãos nos dejetos: "Os governos não duram para sempre. Será que vai ter ainda alguém aqui em cem ou mil anos para garantir que os resíduos estejam fora de alcance, que ninguém vai entrar no local ou que os lençóis freáticos não serão contaminados?"
Nos anos 60, Hanford jogou seus dejetos diretamente na natureza: o poder público reconheceu que mais de 3,8 milhões de litros de lama tóxica havia vazado e que parte havia entrado no solo.
As autoridades, que já gastaram 100 bilhões de dólares para limpar o lixão, pretendem construir até 2019, ou seja, com 11 anos de atraso, uma nova fábrica que vai vitrificar a lama, aquecendo o material a 1.150 graus, e depois estocar pela eternidade.
"É como uma bomba-relógio. Cedo ou tarde vai acontecer alguma coisa", teme Walt Tamosaitis, engenheiro que trabalhou por 40 anos no local e afirma ter sido demitido ano passado por ter exprimido abertamente suas preocupações. "Seria terrível se os reservatórios rachassem. Não haveria como impedir isso".
O Departamento americano de Energia garante que a segurança na instalação avança, com obras para proteger o Colúmbia, rio que corre perto dali, e a demolição de duas usinas elétricas.
Mas em período de vacas magras, os ambientalistas temem que a limpeza do local pague a conta pelos cortes orçamentários debatidos no Congresso.
Tarde demais, de qualquer forma, para Gloria Wise, 67 anos, habitante da região que recebeu em 2005 uma indenização de mais de 300 mil dólares por causa de seu câncer de tireoide. A soma foi conseguida após Gloria ter processado duas grandes empresas, Dupont e General Electric, que operavam na fábrica de bombas atômicas.
"Tenho certeza de que a radioatividade entrou em nossos alimentos", contou, acrescentando que a família cultivava legumes no jardim. "Nos entregavam leite também, todos os dias, quando era criança. Nunca contavam tudo o que estava acontecendo..."
AFP
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