Cultura | 02/03/2011 07h14min
Erica McAllister está excitada (talvez, no contexto, essa não seja a escolha mais feliz de palavras, mas tudo bem. Ela está apaixonada, mas isso também não é muito melhor). "Moscas", ela se entusiasma, "são as melhores, porque elas estão em todos os lugares, e fazem de tudo. Elas fazem as coisas mais loucas. Genitália incrível. E estratégias selvagens".
Abaixo das escadarias, na arqueada Galeria Jerwood, a equipe está montando Sexual Nature (Natureza Sexual, em tradução livre), uma exposição que explora o diverso e por vezes surpreendente comportamento dos animais (ou, como os pôsteres do museu colocam de maneira ingênua, "os mais íntimos segredos da natureza").
É a primeira exposição adulta do museu, pensada para maiores de 16 anos, e contém o que a mesma publicidade chama de "informação e imagens francas sobre sexo". Então todos estão, naturalmente, excitados.
- Estou animado para ver a reação dos visitantes - diz Richard Sabin, curador sênior do Grupo de Mamíferos do museu, de cuja coleção vários espécimes - incluindo um veado vermelho, uma hiena, chipanzés e Guy, o gorila - foram selecionados para mostra.
- Eles já viram a corte animal na televisão, mas nada tão gráfico como aqui. A exposição será um assunto para as rodas de conversa, certamente. O que esperamos é que ela coloque para trás tudo isso sobre ser um assunto tabu. Porque, é claro, nada poderia ser mais natural - completa Sabin,
Um negócio estranho
Pode ser natural, mas a reprodução animal é um negócio muito estranho. Os cirrípedes, por exemplo, têm um pênis 30 vezes maior do que o comprimento de seu corpo. Cobras macho têm um órgão bifurcado, que permite a eles desviar da cauda da fêmea e penetrar de qualquer direção.
Ouriços tampam a vagina da parceira com esperma para que ninguém mais a veja. O Malurus cyaneus, ave encontrada na Austrália, tem testículos que são 25% do peso de seu corpo. A hiena fêmea pega e dispensa o macho quando vê a oportunidade, e tem uma genitália evoluída que se parece com a do macho.
Ainda assim, as moscas são melhores, afirma McAllister (ela deveria: ela é a gerente das coleções de entomologia do museu). O macho da espécie de mosca Teleopsis dalmanni, ela explica, apontando para um - fração minúscula da coleção do museu, que tem mais de 20 milhões de itens - "absorve ar, e os olhos incham como cabeças de fósforo.
Então ele solta o ar, e essas hastes endurecem e ficam ali para sempre. E são aqueles com as hastes mais largas os mais atraentes para as fêmeas".
Não há nada, no entanto, que supere o ritual de acasalamento da mosca dançarina.
- Eles gostam de dar presentes. Os machos pegam uma mosca menor e meio que a balançam na frente das fêmeas enquanto dançam. Mas eles embrulham seu presente em um pequeno balão de seda, então demora um tempo para abrir o pacote. Enquanto a fêmea está ocupada, o macho faz o que tem que fazer. Brilhante. E alguns dos machos são ainda mais malvados. Uma vez resolvido o "problema", se elas não tiverem terminado com o presente, eles simplesmente o pegam de volta para dar a outra fêmea. E alguns safados nem têm o presente, eles só fingem. É muito louco - conta McAllister.
Toda a bajulação, obviamente, faz sentido. Já que são as fêmeas que escolhem os machos com quem irão acasalar. O único objetivo do macho da mosca dançarina é concretizar o ato tantas vezes quanto puder, com quantas fêmeas for possível. É tudo sobre ter certeza de que seu DNA será mais transmitido do que o dos outros. É esse processo Darwiniano de seleção sexual que está no núcleo de Sexual Nature.
O que realmente conta
- O objetivo é mostrar que a sobrevivência não é sempre a chave para a evolução: é a reprodução que realmente conta. Tome como exemplo o pavão: as magníficas penas da cauda de dois metros são um grande obstáculo para a mobilidade, e podem ser fatais quando um predador ataca. Mas o que importa é que as mesmas penas são atraentes para as fêmeas. Elas querem o cara certo, então, muitas vezes, os machos não devem provar apenas a boa aparência, mas boa saúde - diz Tate Greenhalgh, que desenvolveu a exposição.
O processo de presentear a fêmea não é apenas generosidade cavalheiresca. Isso pode, em algumas espécies, demonstrar a habilidade do macho em capturar presas, e, assim, sua capacidade para alimentar o filhote do casal.
Quando o assunto são mamíferos do gênero masculino, diz Sabin, cercado por uma coleção de chifres e galhadas de veados, antílopes, gazelas e alces no porão da coleção, o jogo é geralmente apagar rivais em potencial e poder escolher as fêmeas disponíveis.
A galhada monumental ostentada pelo alce macho adulto - eles podem crescer de 1,2 metro a 1,4 metro em uma estação - representa "uma quantidade fenomenal de energia e de recursos, toda devotada a passar um sinal visual convincente aos machos de sua dominância física, e, às fêmeas, da qualidade de seus genes".
Aranhas estrategistas
Igualmente entusiástica é Jan Beccaloni, entomologista especialista em aracnídeos. As aranhas macho, ela explica, não têm pênis. Em vez disso, elas produzem uma teia de esperma, depositam o esperma na teia e depois esfregam os palpos (um par de estruturas pequenas, similares a patas) na teia. Depois, inserem as pinças na fêmea, "como chave e cadeado", diz Jan:
- E, acredite em mim, eles desenvolveram muitas estratégias para conseguir fazê-lo.
Comparados com a aranha-macho média, os humanos conseguem tudo com facilidade, afirma Jan:
- Essencialmente, o macho precisa ter certeza de que a fêmea está com vontade de acasalar. Ele também precisa mostrar a ela que é da mesma espécie. E ele tem que demonstrar que não é comida. Se ele erra em alguma dessas três coisas, ele pode ser comido, pois na maioria dos casos a fêmea é maior que o macho.
Uma tarântula, ela diz, "acaricia as pernas da fêmea" para garantir que ela está receptiva. Uma aranha comum de jardim lança uma teia e depois corta os fios de certa forma para informar à fêmea que ele está ali.
Para muitas aranhas macho, o risco é que, para a copulação, é necessário que elas coloquem seu abdôme suculento em frente às presas da parceira (embora algumas tenham desenvolvido mecanismos para impedir que as presas fechem). Mas, em termos evolutivos, isso "faz sentido", diz Beccaloni, "porque os machos têm uma vida muito mais curta que as fêmeas, de qualquer forma, e, se eles são comidos, significa que ele ficaram na posição correta por mais tempo e que a fêmea está bem alimentada. Em resumo, seus genes serão passados adiante. Ele não foi desperdiçado".
Tradução: Fernanda Grabauska
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