Ambiente | 21/02/2011 07h13min
Uma faixa de três quilômetros de dunas no litoral norte do Rio Grande do Sul tem servido de lição para outros municípios costeiros. Desde que a prefeitura de Osório deu andamento, em 2008, a um plano de recuperação dos cômoros da orla das praias de Atlântida Sul e Maiápolis, a comunidade vem sentindo a diferença.
A areia já não voa mais para dentro das casas. As próprias construções ficaram mais protegidas depois que um cordão de dunas se transformou em um escudo nos dias em que o mar sobe, e a força das águas faz com que avance rumo à cidade.
- As iniciativas de educação ambiental e a maneira como a comunidade vem sendo envolvida serve de modelo para municípios que ainda não entregaram o seu plano de manejo de dunas - destacou o presidente da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Carlos Fernando Niedersberg.
O que é ecologicamente correto também interfere diretamente na vida dos veranistas. Marluce da Silva Justo, 47 anos, sabe que há motivos para temer o mar. Ela, que hoje veraneia em Mariápolis, acompanhou histórias de destruição de ruas e construções na praia de Itapeva, em Torres, quando o mar subia e batia direto nas casas.
Foi na época em que passava as temporadas por lá que notou a importância das dunas. Ela percebeu que nos locais onde os montes de areia eram mais robustos o avanço da água era barrado.
É por isso que aprendeu a admirar os cômoros altos e verdes que ganham consistência em frente à casa de veraneio adquirida pela família há quatro anos.
- Não precisou ninguém falar. Essa vegetação aí na frente não é exatamente bonita, mas as pessoas precisam entender que é necessária. Sei que estamos protegidos, converso sobre isso com a minha família - conta Marluce.
Assista o especial sobre as dunas
Iniciativa já rendeu prêmio
A população se habituou a acessar o mar apenas pelos caminhos condutores construídos com tocos de madeira para que as dunas não fossem mais pisoteadas. Em quatro pontos da orla, placas educativas que apontam a importância da flora e da fauna local orientam os veranistas à mudança de conduta.
- Antes, a terra vinha até a metade da pista, e nem os carros podiam estacionar. Todo ano, máquinas retroescavadeiras tinham de tirar o excesso de areia da pista para esperar o verão, que é a época em que a população aumenta - disse a engenheira florestal da prefeitura de Osório, Margarete Chemin.
Em meados de 2010, a iniciativa recebeu um prêmio nacional de preservação ambiental e, nesses três anos, a consciência dos veranistas e moradores foi mudando.
- Estamos compensando o ambiente pelo estrago que fizemos no passado, com a construção de calçadões e estradas em locais indevidos - alertou Margarete.
O irmão de Marluce, Raul Scheffer da Silva, 59 anos, acredita que a comunidade da região já aprendeu a conviver com as dunas na orla.
- Tenho a impressão de que todo mundo ajuda a cuidar, fica até encabulado de jogar lixo no chão. Acho que daqui para frente nunca mais alguém vai mexer - disse, esperançoso, Silva.
Seis pontos sobre as dunas:
1) As dunas são áreas de preservação permanente e protegidas por leis federais e estaduais.
2) Elas protegem o lençol freático de água doce e constituem barreira natural contra as ressacas do mar.
3) Além disso, abrigam uma diversidade de animais e plantas que desenvolveram importantes estratégias de adaptação para sobreviverem nesse ambiente.
4) Durante o dia, geralmente, não podemos perceber a presença dos animais, mas seus rastros e suas tocas indicam que eles andaram por ali.
5) As dunas servem de abrigo e alimento para muitas espécies da fauna, como o tuco-tuco (foto acima), a coruja-buraqueira, a lagartixa-da-praia, além de inúmeros insetos.
6) A destruição das dunas levou o tuco-tuco, pequeno roedor que só ocorre no litoral gaúcho, para a lista de animais ameaçados de extinção.
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