Ambiente | 17/02/2011 18h44min
Imagine viver sem algumas facilidades do dia a dia, como internet 24 horas e TV a cabo. Pense como seria se quiséssemos viver de forma autossustentável. É assim que um grupo de jovens, pertencente ao Movimento das EcoVilas, encara a vida morando numa área próxima a São Francisco de Paula, na serra gaúcha.
Eles fazem parte do Instituto Arca Verde, que tem o objetivo de lidar com a natureza da maneira mais nobre, praticando a permacultura, que estabelece os costumes de uma vida simples e ecológica, em integração direta e equilibrada com o ambiente, envolvendo-se em atividades de autoprodução e aspectos básicos de nossas vidas referentes a moradia, alimentação, transporte, saúde, bem-estar, educação e energias sustentáveis.
— Não queremos mudar o sistema por aí nem nos isolar do mundo, apenas acreditamos na natureza — opina Leandro Sparremberger, 32 anos, um dos líderes do instituto.
Convidamos os porto-alegrenses Alexia Utz, 15 anos, e Raphael Kirby, 17, pra ver como é a rotina dessa galera, que mora no local há um ano e meio. Durante um dia inteiro, eles plantaram, reciclaram, colheram e ainda venderam tudo para a Cooperativa dos Produtores de São Francisco de Paula. Nossos convidados sentaram-se à mesa com os moradores do local Natália Barella (com bebê no colo, na foto abaixo), o voluntário paulista Leandro Brazuna (de amarelo), Leandro Sparremberger e Bruna Barella (de costas). O cardápio do dia foi só de comidas naturais e integrais, colhidas da horta do instituto: creme de ervilha, tortinha de repolho, tomate, arroz, acompanhados de suco natural e água.
— Achei boa demais a comida, mas não conseguiria sobreviver assim. Preciso de carne — revela Raphael, que confessou ter sentido falta do ar-condicionado durante o passeio.
Uma das maiores curiosidades da galera era a forma como os moradores fazem suas necessidades fisiológicas.
— Xixi e cocô, para nós, não são lixo, mas sim importantes recursos. A tecnologia de sanitário compostável (higiênico e sem cheiro) com separação de urina transforma o cocô em adubo, e o xixi diluído, em fertilizante — explica Leandro.
Para tomar banho, a água do chuveiro é aquecida num fogão à lenha e armazenada em um reservatório. O tratamento da água do banho é feito no local mesmo, portanto não se usam produtos químicos artificiais.
— Estamos vivendo em harmonia com estas terras e devemos cuidar com muito amor das águas — disse Natália, que guiou os convidados do Kzuka pela área do Instituto Arca Verde.
Alexia se impressiona com os modos dos moradores.
— Parece que eles vivem num mundo paralelo, mas não. O mundo deles é um ciclo, o nosso é linear, sempre acaba no lixo — concluiu Alexia.
O pessoal do instituto desafiou a dupla a colher batatas na horta. Eles também plantam milho, abóbora, kiwi, moranga, pinhão, tomate e melão. Apesar de estar com as unhas recém feitas, Alexia botou a mão na massa. O amigo Raphael também adorou a brincadeira. A cada batata colhida, um sorriso.
— Vou te dizer que colher batatas não é uma coisa de outro mundo, mas não é fácil — afirmou o guri.
Nossa dupla tomou banho de rio. Normalmente, os moradores entram na água nus, mas não na presença de convidados (ufa!).
No final do dia, após muito trabalho, levamos Alexia e Raphael para vender as batatas colhidas da horta do instituto para a Cooperativa dos Produtores de São Francisco de Paula. Assim, nossos leitores fecharam um ciclo na Ecovila.
VOLUNTARIADO
Neste verão, a Arca Verde recebe voluntários para participar da vida na Ecovila, por, no mínimo, 10 dias. O voluntário cobre seus custos de alimentação contribuindo com a taxa de R$ 10 por dia.
SAIBA MAIS
A gaúcha Letícia Rigatti e o americano Ryan Luckey visitam comunidades sustentáveis desde maio de 2010, no projeto Común Tierra. Veja mais em www.comuntierra.org.
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