Energia Limpa | 16/02/2011 15h48min
Esta previsto para este ano, a primeira usina do país que gera eletricidade regularmente a partir da queima da palha da cana-de-açúcar, material que geralmente é abandonado na lavoura. A iniciativa faz parte de um programa de US$ 68,5 milhões, que pretende implantar pelo menos mais duas unidades o até 2015 e disseminar informações para fortalecer o setor.
O objetivo do projeto, que tem apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), é viabilizar o uso da palha da cana como alternativa de geração de energia elétrica em usinas de cana. Estima-se que pelo menos metade das 80 milhões de toneladas do resíduo produzidas atualmente no Brasil pode ser direcionada à eletricidade. Segundo o responsável pelo projeto e coordenador de pesquisas no Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Suleiman José Hassuani, o volume é suficiente para abastecer 13 milhões de residências.
Na colheita da cana, os colmos (caule) é que são processados para produção de açúcar e álcool, e suas sobras viram bagaço. As folhas (verdes ou secas) e a ponta da planta, que formam a palha, ficam no campo. Parte do material é eliminada com fogo, o que gera monóxido de carbono e fuligem. Como as queimadas têm sido proibidas, a tendência é aumentar a quantidade de palha no solo.
O resíduo traz alguns benefícios agrícolas, ajuda a evitar erosão, provê nutrientes para o solo e preserva sua umidade, mas tende a favorecer o desenvolvimento de pragas e o apodrecimento da raiz. Um estudo feito pelo PNUD com o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e o Fundo de Ambiente Global (GEF), divulgado em 2005, concluiu que pelo menos metade do material poderia ser destinado a geração de energia, sem comprometer os benefícios da ação da palha na terra. Com isso, o Brasil elevaria sua produção de energia renovável.
– O objetivo é que sejam três, uma em 2011, outra em 2013 e a terceira em 2015. E vamos elaborar um modelo de negócios e um estudo técnico para outras sete – diz Hassuani.
O programa vai desenvolver equipamentos para possibilitar o processamento da palha e adaptará os dispositivos que hoje são usados para gerar energia por meio do bagaço de cana.
– O processo não elimina nem substitui o bagaço. É complementar –- destaca o responsável pelo projeto.
A primeira a receber o sistema, ainda neste ano, será a usina Alta Mogiana, em São Joaquim da Barra, na região de Ribeirão Preto (SP).
A outra frente do trabalho, que está recebendo aporte de US$ 7,8 milhões do GEF, consiste na disseminação de conhecimento e tecnologia sobre o assunto. Serão feitos estudos sobre aspectos técnicos, comerciais, regulatórios (necessidade de alterar a legislação para incentivar o aproveitamento da palha) e ambientais (cálculo mais preciso sobre o impacto na redução dos gases de efeito estufa).
– Vamos estudar o modelo de negócios, a gestão ambiental e definir os marcos para fazer usinas desse tipo – complementa Hassuani.
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