Itapema FM | 03/01/2015 12h50min
Esqueça as cortinas, o palco, as luzes, a música, a dança e os truques. Hoje você vai entrar no Circo Tihany Spectacular por outra porta: a que leva aos bastidores.
Diferentemente de outros circos das Américas, o Tihany nunca teve animais. Pelo menos nos espetáculos.
Uma voltinha além das nove cortinas, do lado de fora das duas lonas anti-fogo, já mostra o contrário. Além de pombos, galos e galinhas passearem livremente entre 22 casas rodantes, 23 camionetes e 40 carretas que levam a estrutura e a alma circense de um canto a outro do continente americano.
As aves nem se atrevem a entrar nos trailers onde vivem a diretoria e parte da equipe que faz a manutenção do circo. E não se trata de medo das autoridades, mas dos cães. São poucas as casas rodantes que não têm os seus próprios mascotes.
Do carinho dos animais de estimação até o alimento, o circo tem tudo que precisa para a sua sobrevivência. Junto à saída dos fundos da lona, existe um restaurante, que abre na hora do almoço e do espetáculo para quem vive do circo.
Diferentemente da área do público, iluminada e colorida, cheia de algodão doce, de donuts e de batata frita, o lugar onde comem os circenses se parece muito com lanchonetes espalhadas pela cidade. Cadeiras, mesas, estufas para salgadinhos e portas adornadas com cortinas de plástico.
Despedida de Joinville
Embora a semelhança com os locais por onde viaja estejam presentes, o circo é seu país e tem uma língua própria. Misturando os sotaques húngaro, búlgaro, russo, mongol, venezuelano, argentino, os “tihanenses” falam um idioma peculiar, predominantemente espanhol.
Não tem quem não fique com o sotaque influencidado, tanto pela distância da terra natal, quanto pelo convívio com pessoas de várias origens. Neste fim de semana, o Tihany se despede de Joinville. O circo que está ocupando um espaço de 24 mil metros quadrados na avenida Beira-rio, ao lado do hipermercado BIG, agora se prepara para iniciar uma nova turnê em Florianópolis.
Depois, a trupe passará por mais duas cidades brasileiras – Porto Alegre e Ponta Grossa também estão na lista – antes de seguir para o Uruguai. O espetáculo é o mesmo que foi apresentado em Joinville, o AbraKadabra, criado quando o Tihany completou meio século de vida para percorrer as Américas durante 15 anos.
Dedicação em tempo integral
A mágica é o coração do Tihany. Quando ela não está batendo no palco, se refugia em uma casa rodante não muito longe dos truques. Richard Massone tem 35 anos de Tihany e 45 como mágico profissional.
A experiência o habilitou ao cargo de diretor-executivo, que exerce há uma década. Richard faz o “show de Las Vegas” acontecer em qualquer canto das Américas, anos a fio.
– A base do espetáculo é a mesma. É criado para que dure. Mas se renova. O único que não troca é o mágico – brinca ele.
Pelo portão dos bastidores, o trailer do mágico principal do show é o segundo, em uma ala de diretoria. Quem recepciona os convidados é Pierro, de três anos e meio. O ambiente é bem iluminado e climatizado. Em poucos metros quadrados, ele tem sala de estar com telão, escritório e a cozinha americana magicamente arrumada. A suíte fica em ambiente separado.
– Moro em trailer desde que estou no circo. Aqui passo toda a minha vida e não canso. Eu quis isso. Sempre me vi viajando, foi essa a minha escolha. É tão normal quanto a vida em uma casa. A imersão no mundo de magia e negócios que é o circo consome muito tempo. Quando tira férias e visita a família na Argentina, Richard se dedica ao ócio.
– É muito difícil se abstrair desse mundo mágico. A gente tem vício de circo – confessa.
Da Bulgária para o mundo
A família de Asya Georgievi é búlgara e o marido dela, Aleksandar Georgievi, se juntou ao circo há 13 anos, quando passou a trabalhar como chofer (motorista)
– Ele é chofer aqui e faz maçã do amor – destaca Asya, enquanto preparava um café expresso durante a conversa com “AN”.
Ela explica que em seu país, os homens costumam ter a profissão de motorista. Certo dia, o circo esteve na sua cidade para procurar alguém que se juntasse à trupe. Sem resistir à distância dos encontros bianuais com o marido, Asya também se rendeu ao circo e mora com ele na área da equipe de manutenção há uma década, em um trailer parecido ao que vive o diretor e mágico Richard Massone.
Os filhos do casal, Radoslav Georgievi, 25 anos, e Dobrin Georgievi, 23, terminaram o ensino médio e seguiram o curso do circo. Os dois dormem em hotel como os artistas, mas em vez de se apresentarem, dão suporte durante o show e na lanchonete.
O príncipe dos palhaços
Henry Ayale Júnior, de 35 anos, “nascido na Venezuela e criado no mundo”, é o sangue azul do Circo Tihany.
Veio de uma linhagem puramente circense. De um lado da família, estão cinco gerações de equilibristas; do outro, mais cinco de palhaços. Logo na porta do camarim, uma placa identifica o lugar que é dele há cinco anos: “Príncipe dos palhaços”.
Henry Jr. participa do número de corda bamba com o pai, Henry, e o irmão, Angel.
Além disso, as apresentações como palhaço costuram as números do Tihany, formando o show.
– Tenho que manter o público sempre interessado – comenta.
Estrutura do espetáculo impressiona
Ninguém imagina que atrás do palco, em volta da lona, existam 13 trailers encaixados na estrutura. Eles são o local de trabalho das costureiras, das bailarinas, dos trapezistas, das contorcionistas, dos artistas do número de força. Logo depois do palco ficam as salas individuais, como as de Henry e de Richard.
Todos os truques estão ali, esperando para entrar no palco, desde o helicóptero até o Rolls-Royce de cor preta, ano 1952, que faz a entrada do mágico.
Na escuridão dos bastidores, um dos artistas veste as pernas-de-pau, enquanto outros testam a flexibilidade e a força. Dentro do camarim, Bruno Souza dos Santos, carioca de 27 anos, criador do programa Afro Reggae, exercita a força, antes de voar como um pássaro no trapézio.
Dez minutos antes de começar o espetáculo, qualquer um que não seja da equipe deixa os bastidores. Existem duas saídas: uma pela lateral do palco, que leva à plateia, e outra feita de tábuas no chão, que não são douradas, como o da cidade de Oz, mas levam a um mundo mágico.
Agende-se (é o último fim de semana):
O QUÊ: AbraKdabra, do Tihany Spectacular.
ONDE: Avenida Beira-rio, ao lado do BIG.
HORÁRIOS: sábado, às
16 e 20 horas; domingo,
às 15 e 19 horas.
INGRESSOS: custam R$ 40 (geral), R$ 130 (preferencial frontal), com valores intermediários para plateia lateral, plateia plus e preferencial lateral, e R$ 150 (camarote com quatro cadeiras). Pessoas com mais de 60 anos, professores, estudantes e crianças até 12 anos pagam
meia-entrada. Os bilhetes podem ser comprados na bilheteria do circo até 30 minutos após o início do último espetáculo; no ponto de vendas do Shopping Mueller; pelo LivePass (www.livepass.com.br) ou pelo telefone 4003-1527
Assista ao vídeo dos bastidores
Asya Georgievi deixou a Bulgária para acompanhar o circo ao lado do marido, dos filhos e dos cachorros
Foto:
Leo Munhoz
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