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Itapema FM  | 19/04/2012 06h30min

Mãe de um dos garotos do Snakes virou empresária e mentora da banda

Dona Lurdes usou da sua influência com o meio jornalístico para colocá-los na mídia

Marcos Espindola  |  marcos.espindola@diario.com.br

Do cerne familiar do banda The Snakes, pioneira do iê iê iê em SC, veio outra figura fundamental para esta fábula pop: Dona Lurdes Silva Pessoa. Mãe de Waldir Pessoa, e influente jornalista na época, Lurdes empresariou os rapazes. Foi, ao mesmo tempo, a personificação do abnegado empresário dos Beatles, Brian Epstein, e da fotógrafa e artista alemã Astrid Kirchherr, a mentora estética dos garotos de Liverpool.

Dona Lurdes usou da sua influência com o meio jornalístico para colocá-los na mídia. Agendava shows, fazia venda e pós-venda, cuidava do marketing e do figurino: cabelos compridos, os ternos de mohair e calças justas, além das botas de carrapetas.

Silvio Vaccari, espécie de sexto "cobra", acompanhava a turma e até hoje ostenta com orgulho o mullet dos tempos da swigning Floripa:

— Muitos curtiram aquilo, principalmente as meninas. A cidade recebeu bem aquela revolução, mas também ouvi muitas provocações de pedreiros quando passava por algumas obras.

Ninguém apostava tanto quanto Dona Lurdes. Tanto que até promoveu o Festival da Juventude Catarinense, capitaneado pelos pupilos. Deu certo, os Beatles ilhéus estavam mandando brasa e começaram a arriscar composições próprias, mas o foco era Beatles, um pouco de Jovem Guarda e um ínfimo de Stones (só Satisfaction).

Foram tema de uma reportagem da revista Fatos e Fotos, sobre a chegada da beatlemania no Brasil e, por intermédio da irmã da costureira que criava as camisas do grupo, foram instigados a ir para o Rio de Janeiro. Isso foi em 1967, sendo que os ingleses se preparavam para as guinadas psicodélica e avant-garde com Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band. Mas os meninos da provinciana Floripa continuaram no iê iê iê.

Início do fim

A viagem ao Rio foi paga com os cachês de shows sobre a marquise da loja Regina, na esquina das ruas Felipe Schmidt e Trajano, para promover um saldão. O Centro parou para assistir. Se a psicodelia soava ousada demais aos Snakes, pelo menos eles se anteciparam aos Beatles na tradição de se apresentar sobre um prédio — cujo conserto de despedida, em 1969, foi nos telhados da gravadora Apple, em Londres.

Os cobras de Florianópolis partiram para o Rio de Janeiro em 1967, de ônibus, levando apenas roupas e instrumentos. Auxiliados por uma amiga da costureira da banda, os garotos, agora entre 17 e 18 anos, foram hospedados em um hotel na Lapa e dois meses depois foram alocados em um quarto e sala, para cinco integrantes. The Snakes estavam prontos para acontecer, mas ali foi o princípio do fim.

Os rapazes não tardaram a criar vínculos com casas de shows, jornalistas e disc-jóqueis de rádios e programas de auditórios. Shows eram rotineiros, viraram habitués do Clube Bola Preta e até participaram de um ensaio no casa de shows Canecão. Foram ouvidos e vistos na TV Rio até que receberam a proposta para gravar uma audição em uma gravadora.

— Era na RCA. O que foi incrível para nós só pelo convite, mas acabamos agradando e eles nos convidaram para gravar um disco — lembra o baixista Waldir Pessoa.

Álgum gravado pela RCA

Mas o destino já estava selado para os Snakes, depois daqueles seis meses de temporada no Rio de Janeiro. O guitarrista Zênio Cardoso explica que a saudade da família e das namoradas que ficaram em Florianópolis, a incerteza com a carreira artística que exigia tanto deles e a vontade de retomar os estudos os levaram a encerrar a aventura. Só não abriram mão de gravar o disco. Era a chance de terminar à Abbey Road.

— Voltamos para Florianópolis e ensaiamos durante mais três meses — conta Pessoa.

Só que nem tudo ocorreu como previsto. No retorno ao Rio foram direto para os estúdios e lá foram informados que não poderiam gravar o disco com a denominação original, registrada por Roberto e Erasmo Carlos.

— Nos deram 20 minutos para decidir o nome da banda e do disco — diz Cardoso.

E o trabalho saiu como Os Rubis, com o título Sabor de Avanço. Ao custo de dias e dias de exaustivas sessões de gravações, o álbum contava com 10 canções, de um repertório com canções sugeridas pela RCA. Receberam 15 mil cópias da gravadora, que foram vendidas em duas lojas no Centro da Capital. Os Beatles despediram-se em janeiro de 1969. Com os Snakes veio o silêncio, quebrado há apenas dois anos quando Zênio e Waldir retomaram o hobby de tocar juntos, apenas como uma terapia, e criaram um site.

— O rock nos abriu portas que até hoje estão abertas — festeja Waldir.

Confira o vídeo com a banda:

Sintonize a Itapema em Florianópolis 98.7, em Joinville, sintonize 95.3

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