| 16/08/2005 12h20min
A estréia na direção de longas do ator Paulo Betti vem sendo gestada há tempos – na verdade, desde os cinco anos de idade, quando conheceu por meio do avô a igreja construída pelo ex-escravo João de Camargo, no interior de Sorocaba. Essa viagem de Betti ao passado – pessoal, de uma região e de um personagem histórico – resultou no filme Cafundó, co-dirigido e roteirizado pelo também ator Clóvis Bueno. Protagonizado por Lázaro Ramos e contando no elenco com nomes como Leandro Firmino (o Zé Pequeno de Cidade de Deus) e a gaúcha Leona Cavalli, Cafundó é um dos dois longas nacionais da competição oficial que serão exibidos hoje à noite no Palácio dos Festivais – o outro título é O Cerro do Jarau.
– Fiz uns 25 filmes como ator e já dirigi umas 20 peças. Sei olhar para o ator e saber como ele sente - explica Betti, que estará em Gramado acompanhando também o lançamento de Paulo Betti – Na carreira de um sonhador, biografia da Coleção Aplauso escrita por Teté Ribeiro.
Cafundó narra a trajetória de João de Camargo (Lázaro Ramos), tropeiro negro que tenta se adaptar à liberdade e à nova realidade social do país na virada do século 19 para o 20. O ex-escravo erra por diversos lugares e profissões até encontrar na fé uma razão para viver: misturando práticas de religiões afro-brasileiras com ritos católicos, João vira um homem santo e constrói uma igreja que é uma espécie de templo sincrético.
– Sou devoto do personagem, do Preto Velho João de Camargo. Meu avô era um italiano miserável que trabalhava para um fazendeiro negro, em cujas terras ficava a igreja. Tenho essa coisa da religiosidade entranhada, minha mãe era benzedeira, eu andava com colar de alho no pescoço para espantar lombriga – recorda Betti.
Cafundó, que deve entrar comercialmente em cartaz no primeiro semestre de 2006, destaca-se pelo cuidado na recriação de época e pela homogeneidade de interpretações dos atores - está especialmente bem a dupla Lázaro e Leona e o ator santa-mariense Flávio Bauraqui, no papel de um exu.
– O pano de fundo da história é a vida na região de Sorocaba, povoada por viajantes que vinham daí do Sul tocando tropas de burros. Na verdade, eu queria que Cafundó começasse com cenas filmadas em Viamão – revela Betti, que não conseguiu financiamento para rodar aqui no Estado.
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