| 21/07/2005 00h34min
O sorriso que o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares manteve nos lábios durante o depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) dos Correios não se refletiu no rosto dos que acompanharam o questionamento realizado hoje por quase 14 horas, no Senado. As respostas evasivas não trouxeram novidades ao emaranhado de denúncias que envolvem seu nome. Delúbio negou o mensalão, mas admitiu a existência de caixa dois no PT e disse não se arrepender dos erros que cometeu:
– Não me arrependo de nada do que eu fiz. O que fiz de errado foi atendendo a um grupo de companheiros desesperados. Fui obrigado a tomar essas medidas fora da legislação brasileira. Decidi assumir este risco – disse.
Assim como já havia feito em entrevista, admitiu que destinou recursos não contabilizados a candidatos do PT e de partidos da base aliada nas eleições municipais do ano passado. Em depoimento à comissão, Delúbio manteve a versão, apresentada na semana passada à Procuradoria-Geral da República, de que os saques efetuados por deputados, assessores e pessoas ligadas a partidos ou a políticos das contas das agências de publicidade do empresário Marcos Valério têm origem em empréstimos junto aos bancos Rural e BMG para quitar dívidas de campanha. Valério é acusado de ser operador do suposto esquema de pagamento de "mensalão" pelo PT a deputados da base aliada.
O tesoureiro licenciado reafirmou que os empréstimos foram feitos em nome das empresas de Valério por iniciativa própria e sem conhecimento de integrantes do governo e do PT. Delúbio recusou-se a dar os nomes das pessoas que indicou para fazer os saques nas contas das empresas do publicitário no Banco Rural. O relator insistiu com o depoente, argumentando que a sonegação dos nomes acaba por colocar todos os deputados sob suspeita.
Delúbio, porém, limitou-se a declarar que as informações serão obtidas com a quebra de sigilos bancários já aprovada na CPMI. Com isso, os parlamentares terão dificuldades para identificar, entre todos os saques realizados nessas contas, quais faziam parte do esquema montado por Delúbio.
Uma das poucas diferenças entre os depoimentos de Valério e Delúbio ao procurador-geral da República é que o empresário afirma que aceitou endividar suas empresas para beneficiar o PT porque Delúbio teria lhe garantido que o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, e o secretário-geral licenciado do PT, Silvio Pereira, estavam informados da negociação. Delúbio nega essa declaração. ACM Neto disse, entretanto, que as apurações já permitem concluir que Delúbio incorreu em tráfico de influência.
Após a insistência dos parlamentares, Delúbio disse que seus rendimentos mensais, somados aos de sua mulher, Mônica Valente, não passam de R$ 14 mil. Ele disse ter um patrimônio de R$ 163 mil, que está declarado em seu Imposto de Renda, à disposição da CPI. Delúbio ainda ainda que mora num apartamento alugado, pelo qual paga R$ 1,5 mil por mês, e que possui um carro no valor de R$ 71 mil, comprado a prestações.
Delúbio disse que é amigo do presidente Lula há muitos anos, mas que nunca discutiu com ele assuntos financeiros.
– Meu filho, você pague o seu advogado, ou venha defendido pela Defensoria Pública, a sua tese está sendo empurrar o senhor para a fogueira. Estou vendo que o senhor está na fogueira, estou vendo que o senhor Silvio está na fogueira – disse Denise Frossard.
Delúbio declarou que aceitaria uma acareação com o empresário Marcos Valério e com Roberto Jefferson.
As informações são da Agência Câmara.
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