| 29/04/2005 19h08min
O ex-premiê haitiano Yvon Neptune "está mais morto do que vivo" depois de recomeçar uma greve de fome, 10 meses depois de ser preso sob a acusação de organizar um massacre, disse nesta sexta, dia 29, uma entidade de direitos humanos.
Neptune, que ocupou o cargo na época do presidente Jean-Bertrand Aristide e aponta motivações políticas nas acusações, começou a greve de fome em 20 de fevereiro, mas voltou a se alimentar em 10 de março, depois de ser transferido para um hospital por forças da ONU.
O diretor da Comissão para a Proteção dos Direitos do Povo Haitiano, Ronald Saint-Jean, disse que Neptune reiniciou a greve de fome em 17 de abril e agora está em estado crítico.
– Neptune está mais perto da morte do que da vida após dez dias sem beber nem comer nada – disse Saint-Jean à Reuters. – Pedimos urgentemente comunidade internacional que intervenha para salvar a vida de Neptune.
Funcionários da ONU disseram que vão verificar a condição do ex-premiê. Ele e o ex-ministro do Interior Jocelerme Privert, também detido, são acusados de ordenarem um massacre em 11 de fevereiro de 2004 na aldeia de Saint Marc, 100 quilômetros ao norte da capital.
O incidente ocorreu durante uma revolta armada de gangues de rua e ex-soldados, que acabou levando o presidente Aristide a se exilar.
Atualmente, o Haiti tem um governo interino e, com ajuda de 7.000 soldados e policiais comandados pelo Brasil, tenta organizar eleições ainda neste ano.
Seguidores de Aristide se dizem vítimas de perseguições. A acusação do massacre foi feita pela Coalizão Nacional para os Direitos do Haiti e por um grupo de Saint Marc chamado Ramicos, que se opunha a Aristide, inclusive por meio da violência. As duas organizações dizem que 50 pessoas foram mortas por seguidores de Aristide.
O especialista de direitos humanos da ONU no Haiti, Louis Joinet, rejeita essas cifras. Após uma investigação neste mês, ele concluiu que os incidentes resultaram na morte de seguidores e adversários de Aristide.
– O que eu acredito, contrariamente aos que contestam minha tese, é que realmente podemos falar em um confronto – afirmou.
Privert foi levado diante de um juiz em Saint Marc em 18 de abril, mas não foi interrogado por causa da ausência de advogado e não foi formalmente acusado, segundo sua mulher, Ginette Privert.
Neptune, que esteve internado por mais de um mês no hospital da ONU, também foi levado na semana passada a Saint Marc, mas não houve uma audiência dele com o juiz de instrução para que fosse formalmente acusado.
A criminalidade continua assolando o país. Na quinta-feira, um líder político haitiano, Jean Ernold Buteau, irmão do ministro da Educação, Pierre Buteau, foi sequestrado por homens armados, mas libertado durante a madrugada. Fontes próximas à família disseram que houve pagamento de resgate.
As informações são da agência Reuters.
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