| hmin
O vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney, previu várias vezes que as tropas norte-americanas seriam recebidas sob aplausos pelos iraquianos quando chegassem para depor a ditadura de Saddam Hussein. Mas quando um secretário de Estado norte-americano esteve no Iraque no fim-de-semana, para a primeira visita desse tipo em 50 anos, a população de Bagdá nem chegou a vê-lo, quanto menos a saudá-lo com festa.
Como a maior parte dos norte-americanos encarregados de gerir o Iraque, Colin Powell passou a maior parte do tempo sob uma "bolha de segurança" estritamente vigiada na margem oeste do rio Tigre. A vasta área, que inclui o principal palácio usado por Saddam e o maior centro de conferências da capital, está vedada a qualquer iraquiano que não trabalhe para os EUA.
Powell foi ao centro da cidade para uma reunião e para um jantar na casa de um clérigo xiita, mas todos os seus deslocamentos foram mantidos em segredo. A visita foi totalmente oposta às que fizeram altos funcionários norte-americanos a lugares como o Kuwait, Kosovo e Albânia, onde eles apertaram as mãos de pessoas comuns nas ruas.
No Iraque, o encrave norte-americano começa a se parecer com um clássico entreposto comercial, onde vigoram um estilo de vida importado e uma rígida hierarquia. O hotel Rashid, que era a base dos correspondentes estrangeiros antes da guerra, tem agora soldados almoçando frango frito, empresários jogando golfe e mulheres usando shorts, o que certamente causaria espanto do outro lado do rio Tigre. Os únicos iraquianos no local são garçons, tradutores e informantes.
Mesmo o pessoal iraquiano de segurança é suspeito. A empresa norte-americana que dirige o Rashid prefere entregar a vigilância aos soldados ghurkas, do Nepal. Eles monitoram os 12 andares do prédio 24 horas por dia, o que custa US$ 120 mil dólares mensais aos contribuintes norte-americanos. Embora os jornalistas possam se deslocar livremente pelo centro de Bagdá há vários meses, os funcionários norte-americanos ficaram alarmados por saber que os correspondentes que acompanhavam Powell pretendiam sair da "bolha". Os funcionários disseram que houve um tiroteio recente a apenas 500 metros dali e não quiseram assumir qualquer responsabilidade pelas consequências dos passeios.
Em seus comentários públicos feitos no Iraque, Powell admitiu que os Estados Unidos enfrentam sérios problemas no país, mas disse estar confiante na melhoria da situação de segurança. Mas a frequência dos ataques aos soldados dos EUA não parece ter diminuído. Além disso, segundo uma fonte oficial, os atos de sabotagem contra oleodutos e o sistema de água estão ficando cada vez mais organizados.
O governo Bush gostaria de abandonar o Iraque o mais rápido possível, mas sabe que deixar para trás uma situação caótica iria desacreditar a invasão, que passaria a ser vista como um custoso fracasso. O fato é que muitos iraquianos celebraram a queda de Saddam, mas continuam desconfiando dos norte-americanos.
– Os americanos ficam falando de livre mercado. Mas a maioria dos iraquianos teme o controle econômico estrangeiro e quer preservar o velho estado de bem-estar social – disse uma autoridade árabe do governo interino.
Segundo um jornalista local, os iraquianos acham estranho os estrangeiros falarem com os ministros iraquianos a respeito da reabertura do oleoduto para Israel.
– Só porque os EUA se livraram de Saddam, isso não significa que os iraquianos estejam de braços abertos para Israel – acrescentou um jornalista local.
Como em todas as ações norte-americanas que fogem do planejado, o espectro do Vietnã começou a lançar sua sombra sobre o Iraque. Powell, que quando jovem lutou na Ásia, rejeitou essa comparação.
– Deveríamos parar de fazer essas bizarras alusões históricas com algo que aconteceu há 25, 30 anos. Vamos lidar com os fatos concretos – afirmou ele no último domingo à rede CNN.
Os fatos concretos indicam um razoável grau de oposição organizada à presença dos EUA, embora Powell não ache que a ocupação em si tenha levado os iraquianos à violência. Para Washington, os ataques são obra de simpatizantes de Saddam e de guerrilheiros estrangeiros que se infiltram no Iraque para tentar matar norte-americanos. Apesar disso, as autoridades dos EUA nunca apresentaram qualquer estrangeiro que tenha participado dos recentes ataques.
Para Powell, a resposta em longo prazo para o problema de segurança reside em acelerar o treinamento de policiais e militares iraquianos, que substituiriam as forças dos EUA. Mas analistas dizem que há uma tensa corrida para encontrar líderes iraquianos que sejam ao mesmo tempo legítimos e confiáveis e que possam comandar essa nova força local.
As informações são da agência Reuters.
Grupo RBS Dúvidas Frequentes | Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2008 clicRBS.com.br Todos os direitos reservados.