| 25/05/2006 12h30min
A Fifa se comprometeu com a Agência Mundial de Antidoping (AMA) em se adequar ao Código Mundial de Antidoping antes do início da Copa do Mundo. Porém, como o período ainda é de adaptação, a AMA não irá acompanhar de perto a fiscalização no Mundial da Alemanha. Segundo o médico gaúcho Eduardo de Rose, um dos maiores especialistas mundiais em doping, em 2010 a situação deve ser diferente:
– Creio que a AMA não terá tempo para acompanhar a Copa, pois o momento atual é de compatibilização entre o Regulamento da FIFA e o Código Mundial Antidoping. Mas certamente na próxima Copa estaremos lá – explicou De Rose, em entrevista online ao clicRBS nesta quinta.
O Presidente da Comissão Nacional da Luta contra o Doping destacou que o futebol é um esporte especial, seja pelo custo de seus craques, seja pela assistência que tem em Jogos de uma Copa do Mundo. Para ele, esses foram fatores que retardaram naturalmente a plena aceitação e adaptação do Código aos regulamentos da Fifa. Além disso, há menos casos de doping no futebol que em outros esportes:
– O futebol tem um percentual mais baixo de positivos que a média dos esportes, que é de 1,5% na área internacional, e no Brasil chega a 0,40%, o que é muito baixo. Em mais de 3 mil controles feitos, teve no ano passado cerca seis positivos e quase todos por contaminação – explicou.
Eduardo de Rose afirmou que a AMA investe cerca de US$ 12 milhões por ano em pesquisa para aprimorar as técnicas de detecção de doping. Entretanto, em razão de fatores econômicos, não há como submeter todos os atletas a exames:
– O fator impeditivo é o preço. Hoje, em termos de Brasil, um exame custa em torno de R$ 1 mil com todos os custos incluídos. Imagina multiplicar isto pelo número de atletas participantes que chegam a 10 mil em uma Olimpíada. Nós fizemos em média 10 a 20% de controles, e alternamos entre sorteio e indicação de medalhistas – esclareceu.
Leia a íntegra da entrevista online:
Pergunta – Bom dia, doutor
Eduardo de Rose. A Fifa assegurou que irá se adequar ao Código Mundial de Antidoping antes do início da Copa. Por que o futebol demorou tanto tempo para se ajustar às regras da Agência Mundial de Antidoping?
Eduardo de Rose – Sem dúvida, o futebol é um esporte especial, seja pelo custo de seus craques, seja pela assistência que tem em jogos de uma Copa do Mundo. Penso que estes fatores retardaram naturalmente a plena aceitação e adaptação do Código aos regulamentos da Fifa. A aceitação ocorreu antes dos Jogos de Atenas e a adaptação do regulamento, pelas palavras de seu presidente, vai ocorrer antes da Copa.
Pergunta de internauta – Doutor Eduardo, o uso indiscriminado de 'bombas' das academias pode ser controlado pela leitura de seus componentes? Como saber se o energético pode trazer riscos à saúde?
Eduardo de Rose – Quem usa bomba sabe perfeitamente que está usando um hormônio ou um anabólico. Infelizmente, em
termos de suplementos alimentares, não é
possível controlar o conteúdo pelo rótulo, pois nem sempre a informação é completa.
Pergunta – Não há como controlar a venda desses produtos nas academias de forma mais rígida?
Eduardo de Rose – Teoricamente, academia não pode vender este produto, pois isto é proibido pela Anvisa, já que ela não é farmácia. Cabe à Anvisa esta fiscalização.
Pergunta de internauta – Existem tantos casos de doping que passam despercebidos, como vimos na última Olimpíada. Como detectar com mais precisão?
Eduardo de Rose – Normalmente são detectados 2,5% dos atletas estudados como positivos para doping, de acordo com as estatísticas da AMA, baseadas em 180 mil casos por ano. No ano passado, incrementamos este percentual em 20%. Penso que os casos são detectados, mas a mídia que geram dá uma impressão de que existe um número maior do que realmente ocorre. Mas hoje a AMA investe cerca de US$ 12 milhões por ano em
pesquisa para aprimorar as técnicas de detecção.
Pergunta – O senhor acredita que o treinador é decisivo para que o atleta se dope?
Eduardo de Rose – Hoje a relação entre o atleta e o treinador é muito grande, e se ele não sabe, nota em seguida, seja pelas mudanças no aspecto físico do atleta, seja pela melhora abrupta da performance.
Pergunta – A AMA irá acompanhar de perto o controle de doping na Copa?
Eduardo de Rose – Creio que a AMA não terá tempo para acompanhar a Copa, pois o momento atual é de compatibilização entre o regulamento da FIFA e o Código Mundial Antidoping. Mas certamente na próxima Copa estaremos lá...
Pergunta – Infiltração no joelho, por exemplo, pode ser considerada uma espécie de doping?
Eduardo de Rose – O Código inclui corticoesteróide na lista de produtos proibidos, mas não inclui o anestésico local. Depende então do que se infiltra. Se for corticoesteróide, será necessária uma
TUE, que é um pedido de autorização especial para a infiltração.
Pergunta de internauta – O exame anti-doping não poderia ser obrigatório a todos os atletas e não somente aos escolhidos por sorteio? O custo é o fator impeditivo?
Eduardo de Rose – O fator impeditivo é o preço. Hoje, em termos de Brasil, um exame custa em torno de R$ 1 mil com todos os custos incluídos. Imagina multiplicar isto pelo número de atletas participantes que chegam a 10 mil em uma Olimpíada. Nós fizemos em média 10 a 20% de controles, e alternamos entre sorteio e indicação de medalhistas.
Pergunta de internauta – As substâncias contidas no ecstasy são detectadas no exame antidoping? Elas são prejudiciais se ingeridas dias antes dos jogos?
Eduardo de Rose – A maconha, o ectasy, o crack são proibidos pelo código da AMA e a sua detecção pelo laboratório ocorre com sete dias de anterioridade. Assim, só não usar antes do jogo não resolve. Tem que ser minimamente uma semana. Isto inclui a cocaína
também.
Pergunta – O Código da AMA
considera a pena de dois anos padrão para atletas que sejam pegos no exame antidoping, enquanto para a Fifa dois anos é a punição máxima. Essas regras mais brandas no futebol dão margem para mais casos de reincidência em relação a outros esportes?
Eduardo de Rose – Realmente creio que em futebol não existe a pena de dois anos para um primeiro uso, mas a tendência certamente será usar casos de situação especial que poderiam reduzir esta suspensão quando existentes. Evidentemente que regras mais brandas para o futebol iriam criar problemas para os outros esportes e eu cito o tênis como exemplo.
Pergunta de internauta – Certo. Mas em especial o ecstasy – droga da moda entre 'celebridades' – é capaz de causar sérios danos, mormente quando ingerido com freqüência. O senhor tem condição de resumir o dano?
Eduardo de Rose – O problema das drogas deste tipo é que geram uma dependência, que ocorre sempre em crescendo, e tendem a
alterar a saúde cerebral do indivíduo, e até em
casos extremos chegam à saúde física.
Pergunta de internauta – A substância efedrina, utilizada por alguns atletas para a gripe, pode ser considerada doping?
Eduardo de Rose – A efedrina é proibida durante os jogos, mas pode ser utilizada sem problemas no intervalo entre eles
Pergunta – Voltando a questão do futebol, você poderia explicá-la melhor? O futebol hoje tem regras mais brandas que a AMA, certo? Isso dá margem para mais casos de reincidência nesse esporte que nos outros?
Eduardo de Rose – Não se trata de reincidência, mas de harmonizar a mesma punição, em todos os esportes, para a mesma sanção. O futebol tem um percentual mais baixo de positivos que a média dos esportes, que é de 1,5 % na área internacional, e no Brasil chega a 0,40 %, o que é muito baixa. Em mais de 3 mil controles feitos, teve no ano passado cerca seis positivos e quase todos por contaminação. Não houve,
entretanto, reincidência. Mas é interessante frisar que a pena
por reincidência é idêntica em ambas as regras: eliminação do esporte.
Pergunta – Existem substâncias que podem "esconder" o doping?
Eduardo de Rose – Evidentemente. O nome destas substâncias para a AMA é "agentes masscarantes"e são proibidos. Um caso típico é o probenecide, que oculta os esteróides anabólicos.
Pergunta de internauta – Existe ou pode ser elaborada uma relação das principais drogas que causam efeitos prejudiciais à saúde, em uma escala de valores?
Eduardo de Rose – E posso responder que, em termos de doping e sempre baseado na estatística do ano anterior, 43,4% são anabólicos esteróides, 14,2% são beta-agonistas, 11,8% são estimulantes e 11,7% são canabinaóides (maconha, crak ectasy).
Pergunta – Ainda há muitos casos de doping por desinformação dos atletas? Ou isso não é mais aceitável nos dias de hoje?
Eduardo de Rose
– Realmente, existem casos por desinformação, quando um atleta usa inadvertidamente uma
substância proibida ou um produto tipo suplemento que está contaminado, tipo creatina ou aminoácido.
Pergunta – Qual foi o caso mais inusitado de tentativa de burlar o exame que você já presenciou?
Eduardo de Rose – Pergunta difícil! Mas creio que foi em Atenas, quando um medalhista de ouro no atletismo utilizou um aparelho para burlar a toma de amostra, colocando uma urina limpa em um balão, que estava inserido no seu ânus durante a prova.
Perguntas – Como estão os preparativos para o controle de doping nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro em 2007?
Eduardo de Rose – Estamos treinando nos especialistas em eventos internacionais desde Sydney, passando por Atenas e Turim e já ministramos um curso para todos os médicos de delegações da América mostrando como faremos. Vamos trabalhar pela primeira vez com supervisão da AMA e eu espero que tudo corra muito bem. Pretendemos fazer 1,5 mil
controles sendo que a maioria, 1,2 mil será em competição e os
restantes depois que os atletas chegarem na Vila.
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