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Pressionado pelos líderes nacionais do PDT e do PTB a aceitar a candidatura ao governo do Estado, o presidente da Assembléia, deputado Sérgio Zambiasi, avisa: já deu sua palavra de que não concorrerá ao Palácio Piratini. Tudo o que o deputado pede é que respeitem sua decisão de não concorrer, gostando ou não dos argumentos apresentados.
Nesta quinta-feira, 25 de abril, Zambiasi recebeu Zero Hora em seu gabinete para uma conversa que se estendeu por mais de uma hora. Nesse tempo, manifestou confiança na criação da Frente Trabalhista, defendeu o nome de José Fogaça como alternativa e garantiu que sua decisão de não concorrer é definitiva. A seguir, a íntegra da entrevista:
Zero Hora – A sua decisão de não concorrer ao Palácio Piratini é definitiva ou as pressões do PDT e do PTB nacional podem fazer com que mude de idéia?
Sérgio Zambiasi – A minha decisão antecede esta discussão. A minha decisão nasceu com a ascensão à
presidência da Assembléia, quando eu avisei aos
membros do partido que eu não poderia misturar os interesses do partido com os do Legislativo. Para que uma ação política da Casa não fosse confundida com uma ação eleitoreira ou eleitoral, na época eu assumi o compromisso pessoal de não ser candidato a governador. Esse compromisso era importante para compor uma administração plural e assim administrar a Casa para todas as bancadas.
ZH – O mais comum é os políticos jurarem que não são candidatos e depois mudarem de idéia. Por que o PDT e o PTB devem acreditar que o senhor não será mesmo candidato?
Zambiasi – Eu falo pelo PTB. Falo pelo meu partido, a quem eu pedi solidariedade com a minha decisão. Eu não pedi ao PTB que se submetesse à minha vontade. Eu pedi a meus companheiros que se solidarizassem com a minha decisão e estou recebendo do partido essa manifestação de solidariedade. Aconteceram intensos movimentos internos para que eu saísse candidato, mas o partido entendeu a minha decisão,
anunciada exatamente em função da
presidência da Assembléia, que tem um mandato de dois anos.
ZH – A solidariedade que o senhor recebe é do PTB gaúcho, porque o PTB nacional vem fazendo pressões.
Zambiasi – Que é o que me interessa. Só agora, nestas últimas e desesperadas negociações, é que o PTB nacional decidiu finalmente reconhecer a seriedade com que nós agimos. Percebeu que quando aqui nós damos a palavra, ela é uma palavra só. Não precisa de assinatura. Nossa palavra é definitiva. Lamentamos que a cúpula tenha percebido um pouco tarde como nós olhamos com seriedade para a política. Nós acreditamos também que o processo de negociação e de conversação não terminou. Acho que há espaço para compor a Frente Trabalhista, sim.
ZH – O que leva o senhor a imaginar que a Frente Trabalhista ainda tem salvação, se o que se vê no momento é um impasse?
Zambiasi – Eu acho que as cúpulas devem agir com bom senso. Até agora,
infelizmente, nós ouvimos das cúpulas expressões totalmente
anti-democráticas, do tipo veto, intervenção e imposição.
ZH – O senhor está preocupado com a ameaça de intervenção que PTB nacional vem fazendo ou pensa em recorrer à Justiça se isso ocorrer?
Zambiasi – Não me preocupa. Nós temos convicção de que estamos trabalhando intensamente para uma candidatura de consenso na Frente Trabalhista, que todos defendemos. O que nós temos sido, talvez, é incompreendidos. De uma hora para outra as pressões se voltaram para mim, quando eu reiteradamente havia avisado que a minha palavra é uma só. Talvez esta incompreensão da cúpula nacional pelas nossas posições é que tenha levado os dirigentes a se pronunciarem de maneira tão agressiva, tão forte, mas nós vamos continuar trabalhando por negociações amplas que passem por decisões que ultrapassem as cúpulas dirigentes que, muitas vezes de forma insensível, impõem candidaturas.
ZH – Se o senhor que é nome de consenso não aceita, e se o
nome do ex-governador Antônio Britto enfrenta
restrições, como se pode sair do impasse?
Zambiasi – Nós já estamos, há alguns dias, propondo que se ofereça oportunidade para que as bases partidárias discutirem uma alternativa. Achamos que os eleitores que não estão dispostos a votar num candidato do governo devem ter a possibilidade de escolher um nome com mais densidade eleitoral e com melhor perspectiva para representar esta maioria que hoje não acompanha o candidato governista.
ZH – Que nomes deveriam ser avaliados?
Zambiasi – Nós estamos colocando como opções o nome de José Fortunati, já lançado como pré-candidato do PDT antes da formação da Frente, e o do senador José Fogaça. A idéia é que, depois de debates em regiões pré-estabelecidas se faça um levantamento sério, amplo e qualificado das chances de cada um. Essa pesquisa deveria avaliar qual dos dois tem maiores chances de crescimento durante a campanha e maior capacidade de aglutinação da oposição no segundo
turno. Nós não estamos dizendo que o candidato
deva ser o Fogaça. Nós estamos colocando um segundo nome para que haja equilíbrio na balança.
ZH – Mas o fato de o PPS ter ficado a data de 30 de abril como limite para que se chegue a um acordo não inviabiliza essa sua proposta?
Zambiasi – Não, a data de 30 é só uma sinalização para que as negociações deslanchem. Se houver qualquer sinalização de que um acordo é possível, eu acho que dá para adiar esta decisão pelo tempo necessário. O que nós vimos no PPS é uma atitude no sentido de atender um clamor dos eleitores, que cobram todos os dias, nas ruas, quem é que será o candidato da Frente Trabalhista. Quando o PPS dá um prazo para o dia 1º de maio ele quer dizer "vamos sentar para negociar, vamos propor alternativas". Se essas alternativas tiverem chances de estar na mesa, eu tenho certeza de que o PPS adia a decisão e acompanha este movimento que nós estamos fazendo.
ZH – Diante da resistência por parte do
ex-governador Leonel Brizola à candidatura de Britto, o
senhor acha que é possível Ciro Gomes ter dois palanques no Rio Grande do Sul?
Zambiasi – Eu ainda teimo em acreditar na Frente Trabalhista. Eu ainda confio na sensibilidade de todos os dirigentes dos três partidos para que tenhamos a oportunidade de discutir nomes que possam representar uma proposta da Frente Trabalhista, de maneira que os três partidos possam estar juntos no mesmo palanque com Ciro e com o candidato escolhido para a frente no Rio Grande do Sul.
ZH – Mas se isso fracassar, o PTB pode concorrer só com candidato ao Senado, o senhor no caso, e a deputado estadual e federal?
Zambiasi – Bem, se isso acontecer, as bases do PTB vão decidir. Vamos convocar o diretório, os nossos prefeitos, vice-prefeitos, vereadores, enfim, todos os líderes e representantes do partido numa assembléia ampla e democrática decidirem o rumo a tomar. Não estamos comprometidos com ninguém.
ZH – O senhor
estaria disposto a tomar as rédeas dessa negociação, já que os
partidos têm tanta dificuldade para sentar à mesa?
Zambiasi – Esta solução eu estou apresentando já há alguns dias. Ocorre que, infelizmente, nós não encontramos sensibilidade de parte das direções que, distantes dos anseios populares, acabam impondo situações. Eu não tenho nenhuma dificuldade em chamar se as direções me autorizarem. Eu não faço parte da direção partidária. Em função da presidência da Assembléia eu me afastei da direção do partido e hoje sou um militante que tem mandato e exerce a presidência da Assembléia. A direção do meu partido do Rio Grande do Sul é composta por outros pessoas, sob o comando do deputado Iradir Pietroski. Se me delegarem em nível nacional esta responsabilidade eu assumo, porque acredito no diálogo.
ZH – O deputado Roberto Jefferson disse que se houver muita indisciplina até a sua candidatura ao Senado ficaria ameaçada. Existe esse risco?
Zambiasi – Quem decide a minha candidatura pelo
Estado é o povo, é o eleitor.
ZH – Mas se houver intervenção, vocês recorrerão à Justiça?
Zambiasi – Sem dúvida nenhuma. Nós já estamos com uma equipe de advogados analisando atentamente esta questão e nós confiamos serenamente na Justiça.
ZH – O ex-governador Leonel Brizola disse que não ficou convencido dos seus argumentos para não concorrer. O senhor vai tentar uma nova conversa com ele para explicar suas razões?
Zambiasi – As minhas razões são públicas. Eu já venho manifestando-as há vários dias. Aliás, as minhas razões são antigas. Elas são justificadas pelos meus atos como presidente da Assembléia, que tem um compromisso de dois anos na administração desta Casa. Se for necessário, vou repetir tantas vezes quantas me exigirem. Vou repetir à exaustão que até janeiro de 2003 estou presidente da Assembléia, o que me impede de exercer uma candidatura ao governo do Estado.
ZH – O senhor tem dito que não quer ser o
candidato do anti alguma coisa. O que isso significa?
Zambiasi – Há um sentimento anti-petista aqui no Estado, até pelo longo período de administração na prefeitura, que se confunde com o período de administração do Estado. Esse longo tempo no poder cria um processo de desgaste natural. Com o Estado enfrentando problemas, esse sentimento anti-petista se fortalece. Esse negócio de "anti" não combina com o meu perfil. Eu tenho como princípio político e de vida a aproximação, a construção. Essa história de "nós" e "eles" é muito complicada para um Estado ou para um país, até porque forçosamente se começa a dizer que um lado é bom e o outro é ruim. Eu acho que não. Todos os lados têm falhas e coisas boas. Nós temos que saber diferenciar essas questões.
ZH – No início da semana o senhor disse no programa Atualidade que para viabilizar a frente aceitaria abrir mão da candidatura ao Senado. O senhor está avaliando a possibilidade de concorrer a deputado?
Zambiasi – Eu sugeri e mantenho, se for
necessário, mesmo que internamente o
partido tenha negado esta possibilidade. O partido acha que nós temos que ter o espaço na majoritária e se há um espaço eu devo estar nessa chapa. Num acordo que envolva três partidos deve haver espaço para os três na chapa majoritária, mas eu não me apego a uma candidatura.
ZH – O que lhe atrai na atividade de senador?
Zambiasi – Eu vou buscar uma experiência na macropolítica que eu não tenho. Eu não tenho um convívio mínimo com Brasília. Mesmo presidente da Assembléia, eu raramente estive na Capital Federal. Acho que um mandato de senador será um ganho na minha formação política. Aqui todos os governadores desde Jair Soares, em 1982, até Olívio Dutra, agora, passaram por Brasília antes de ocupar o Palácio Piratini, como senador, ministro ou deputado. Acho importante que um governador conheça como funciona o processo político em Brasília, até para poder negociar melhor os interesses do Estado.
ZH – Esta não é a
primeira vez que o senhor sofre pressões para
concorrer a um cargo executivo. Está sendo muito difícil administrar isso?
Zambiasi – Eu entendo que essas pressões são um reconhecimento ao meu esforço na construção de uma política séria, de uma política voltada para os interesses coletivos. É um reconhecimento de que nesse período que eu passei na Assembléia eu consegui crescer politicamente. Sinto-me gratificado por isso.
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