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 | 12/09/2005 08h26min

Promotor diz que dinheiro das contas de Maluf será repatriado

Sílvio Marques investiga há quatro anos as pegadas deixadas por Maluf

O promotor estadual Sílvio Marques, 39 anos, é para o ex-prefeito Paulo Maluf o que o agente federal americano Eliot Ness foi para o mafioso Al Capone. Marques fareja há quatro anos todas as pegadas deixadas por Maluf em contas abertas no Exterior.

O ex-prefeito tentou o processar por duas vezes. Maluf já o identificou como ''o promotor tucano que chafurda em chiqueiros para obter informações com o conteúdo de uma latrina". 

Servidor da Promotoria da Cidadania de São Paulo e há 14 anos e meio no Ministério Público, Marques obteve provas de que Maluf tinha contas no Exterior para receber dinheiro da corrupção. Foi ele quem requereu, há um ano, o bloqueio dos bens da família. Nesta entrevista por telefone concedida a Zero Hora no sábado, diz acreditar no retorno dos recursos.

Zero Hora - O que significa a prisão de Maluf, quatro anos depois do início das suas investigações?

Sílvio Marques - A prisão tem um valor simbólico, porque mostra que a Justiça, que agiu com firmeza, existe também para os poderosos. Tem ainda um conteúdo profilático para a política, porque outros corruptos também podem ser presos. Precisamos pegar também os grandes.

ZH - É possível repatriar o dinheiro?

Marques - Não tenho dúvidas de que o dinheiro das contas será repatriado dentro de uns três anos. A prefeitura de São Paulo (a lesada, quando Maluf foi prefeito, de 1993 a 1996) também trabalha nesse sentido. São seis locais, Estados Unidos, Inglaterra, Ilha de Jersey, Suíça, França e Luxemburgo. Estados Unidos, França e Suíça já mandaram documentos. Faltam os outros. Mas só os documentos enviados por bancos americanos fecharam todo o cerco ao ex-prefeito e comprovaram todas as denúncias. Essas são provas suficientes para condenar o ex-prefeito, o filho dele, Flávio, e empresas.

ZH - Quanto será repatriado?

Marques - Ainda não sabemos o total. Mas mais de US$ 200 milhões já estão bloqueados no Exterior. Além disso, estão bloqueados bens no valor de R$ 5 bilhões da família Maluf e de quatro grandes empreiteiras do país (em outubro do ano passado foram bloqueados os bens de OAS, Mendes Júnior, Constran e CBPO, que prestavam serviços à prefeitura e estão sob suspeita de fazer parte do esquema de corrupção de Maluf).

ZH - As investigações continuam?

Marques - Esperamos processar mais empresas e dois grandes bancos. Mas não posso informar os nomes. Este mês, espero ouvir os depoimentos dos publicitários Duda Mendonça e Nelson Biondi (que trabalharam para campanha eleitoral de Maluf). Mas eu e o procurador Pedro Barbosa Neto (procurador regional da República que pediu a prisão preventiva de Maluf) não estamos sozinhos neste caso. Tive o apoio da Procuradoria-Geral, que me deu força para continuar lutando. Fizemos um trabalho de união entre Ministério Público Estadual, Ministério Público Federal, Polícia Federal e Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, do Ministério da Justiça. Este departamento fez todos os contatos internacionais.

ZH - Como o senhor enfrenta as pressões de Maluf?

Marques - A pressão política foi grande. O ex-prefeito sempre tentou me afastar da investigação com pedidos que fazia ao procurador-geral. Fui processado duas vezes por ele no Tribunal de Justiça (por abuso de autoridade e violação de sigilo bancário e telefônico). Nunca me submeti as suas pressões. Eu sabia que estava no caminho certo.

ZH - E se Maluf for solto?

Marques - Não me cabe comentar essa hipótese. Quem pediu a prisão preventiva foi o procurador Pedro Barbosa Neto por recomendação da Polícia Federal.

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