| 02/02/2009 02h38min
Estranhas alianças e deserções anunciadas são mais uma vez o pano de fundo da eleição das mesas da Câmara dos Deputados e do Senado, na manhã de hoje, em Brasília. Os dois postos compõem o núcleo do comando do Congresso e são vitais tanto para o Palácio do Planalto — que tem vivido uma relação de tapas e beijos com o parlamento — como para a oposição.
Tradicionalmente, cabia ao maior bloco — que pode reunir mais de um partido — indicar o presidente de cada Casa, que só precisa ser referendado em plenário. Essa regra, porém, foi rasgada em 2005, quando dissidentes da base governista lançaram a candidatura a presidente da Câmara do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), que acabou derrotando Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). Severino ficou apenas nove meses no cargo e foi derrubado por um escândalo.
Embora o Legislativo seja um poder independente e o Planalto não se envolva oficialmente nas eleições, o governo é o principal cabo eleitoral na escolha dos presidentes da
Câmara e do Senado. A
disputa é vista como uma preliminar do pleito de 2010. Este ano, o ungido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o deputado Michel Temer (PMDB-SP). No Senado, o Planalto prometeu neutralidade entre José Sarney (PMDB-AP) e Tião Viana (PT-AC). O primeiro, porém, se queixa de movimentos de ministros em favor do segundo.
Na Câmara, Temer tem apoio de 14 partidos contra Aldo Rebelo (PC do B-SP) e Ciro Nogueira (PP-PI). Osmar Serraglio (PMDB-PR), que tocava candidatura avulsa, desistiu na noite de ontem e anunciou voto para Temer. A principal preocupação do Planalto é evitar que as siglas que apoiam Temer se engalfinhem na briga pelos outros oito cargos da Mesa.
É no Senado que o espetáculo da intriga e da traição deve ser encenado com mais pompa. O show é dividido em quatro atos:
1) Maior bancada individual da Casa, com 20 senadores e dois ministros (Hélio Costa, das Comunicações, e Edison Lobão, das Minas e Energia), o PMDB está ressentido com o
governo desde o afastamento de Renan
Calheiros (PE) da presidência, em 2007. O partido conservou o controle da Casa com Garibaldi Alves (RN), que ensaiou uma candidatura à reeleição e teve de recuar.
2) Os peemedebistas lançaram Sarney na tentativa de garantir os 12 votos do PT, mas o partido já tinha apostado em Tião Viana (AC) e não foi demovido nem por Lula, que acabou optando pela neutralidade.
3) Na quinta-feira, a menos de quatro dias da eleição, Viana recebeu um apoio supreendente: o da bancada do PSDB, principal partido de oposição a Lula, com 13 senadores. A justificativa foi de que o PMDB não teria atendido à exigência tucana de presidir as comissões de Economia e Relações Exteriores. A reivindicação foi vista como um pretexto, uma vez que o PSDB não teria peso para ocupar os dois postos ao mesmo tempo.
4) São necessários pelo menos 41 votos para eleger um presidente no Senado, que tem 81 cadeiras. Nas últimas horas, tanto Sarney como Viana têm cantado vitória por maioria de
até quatro votos. Cada um sonha com
defecções no campo adversário. No PMDB, os senadores Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos (PE) abriram voto para o petista. O DEM, com 14 senadores, atritado com Sarney desde a saída de sua filha, senadora Roseana Sarney (MA), do partido, declarou apoio ao ex-presidente.
Na guerra de números entre petistas e peemedebistas, só uma previsão é comum às campanhas dos dois partidos: a de que existe um contingente de "10 senadores indefinidos". A cúpula do PMDB admite que há um grupo de "indefinidos que tendem a acompanhar o curso do rio".
A partir das 10h de hoje, a votação, que é secreta, dirá quem estava com a razão.
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