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 | 13/11/2008 03h12min

GM corre risco de não sobreviver à crise

Empresa tenta conseguir uma ajuda do governo norte-americano

O ano de 2008 se desenhava como de ouro para as montadoras, principalmente nos mercados emergentes e especialmente no Brasil, mas os títulos tóxicos da economia virtual precipitaram as vendas e expuseram antigas e graves dificuldades do setor, que agora fecha um exercício melancólico, com apelos a socorros bilionários de governos.

A reboque dos emergentes

Em Gravataí, temor e confiança na superação

Socorro em diversas latitudes


Nada é mais emblemático dessa guinada do que a General Motors (GM) ter revelado situação financeira crítica a ponto de estar sob efetivo risco de não ter em caixa o mínimo necessário para continuar suas operações no primeiro semestre de 2009.

— Já fizemos os cortes possíveis. Cortamos até o osso. Sem ajuda do governo não vamos conseguir operar nos primeiros seis meses de 2009 — admitiu o presidente da GM, Frederick A. Henderson, ao informar os resultados do terceiro trimestre.

As dificuldades da GM tocam fundo o coração do povo norte-americano. Por quase toda a segunda metade do século passado, a montadora dominou a indústria local. Chevrolet, Pontiac, Oldsmobile, Buick e Cadillac, algumas das marcas do grupo, são parte da vida de toda a nação e moldaram a cultura do país. Os EUA se tornaram um país sobre quatro rodas. No Brasil, a GM chegou há 82 anos e é uma das quatro grandes, com Ford, Fiat e Volkswagen. Fez história. Que chefe de família dos anos 1970 não sonhou em pilotar um Opala?

No terceiro trimestre deste ano, a supremacia da GM no mundo foi desbancada pela japonesa Toyota, que vendeu 2,236 milhões de carros, enquanto a norte-americana emplacou 2,115 milhões. Desde sexta-feira, quando a montadora divulgou perdas muito acima do esperado pelos investidores, a situação piorou bastante para a gigante de Detroit que por 37 anos liderou o ranking das 500 maiores empresas da revista Fortune (em 2006 havia caído para a terceira posição). Suas ações estão na pior cotação em 65 anos.

O pior efeito da atual crise é que a falta de crédito e a recessão praticamente sepultaram as chances de os recordes de vendas em países como o Brasil reduzirem o risco de desmanche das montadoras americanas. Embora a exposição da GM seja mais visível, principalmente para os gaúchos, que têm uma das mais modernas unidades do grupo em Gravataí, a crise inclui a Ford e a Chrysler, ambas na fila do socorro governamental (confira página ao lado).

Se a GM chegar à bancarrota provocará uma quebra em série, pois afetará seus fornecedores de autopeças que, por sua vez, produzem para a Ford e a Chrysler. Portanto, apressaria também a falência dessas duas montadoras. A quebra das três causaria o desemprego de 3 milhões de trabalhadores nos EUA e perda de US$ 156,4 bilhões em impostos nos próximos três anos. O quadro poderia se tornar pior com as falências dos fornecedores de autopeças, aço, plástico e vidro. Tal efeito dominó poderia se repetir nos locais onde as montadoras têm linha de produção.

Mas é pouco provável que a companhia venha a quebrar nos EUA ou em qualquer outro lugar, avalia Fernando Sarti, do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia da Unicamp. É possível que algumas plantas possam fechar e investimentos sejam suspensos, inclusive no Brasil, afirma. Mas Sarti vê no tom dramático do presidente da GM na semana passada algum senso de oportunidade:

— As montadoras têm importância estratégica em qualquer economia, sempre são disputadas quase aos tapas pelos governantes. Agora que bilhões são injetados no sistema bancário, também querem receber ajuda, até para resolver problemas estruturais anteriores à atual crise — diz Sarti.

UMA VISÃO DE UM GIGANTE

A GM NO MUNDO

— Tem indústrias em 35 países e negocia em 142 países, com 13 marcas.

— No ano passado, vendeu em todo o mundo 9,37 milhões de veículos e teve faturamento de US$ 25 bilhões. De janeiro a setembro deste ano, as vendas somaram 6,65 milhões.

— Emprega 266 mil pessoas.

— Era a 9ª maior empresa do mundo, segundo a lista das 500 maiores da revista Fortune, divulgada em julho, antes do agravamento da crise econômica.

A GM NO BRASIL

— Está no país há 82 anos e mantém seis fábricas.

— Vendeu 498.654 veículos no ano passado e faturou US$ 8,5 bilhões.

— Emprega 21 mil funcionários.

AS UNIDADES NO PAÍS

— Complexo em São Caetano do Sul (SP): inaugurado em 1930, produz as linhas Astra, Vectra e Corsa Classic

— Complexo em São José dos Campos (SP): inaugurado em 1959, produz as linhas Corsa, Meriva, S10, Montana, Blazer e Zafira

— Complexo em Gravataí: inaugurado em 2000, produz as linhas Celta e Prisma

— Complexo em Mogi das Cruzes (SP): inaugurado em 1999, produz componentes estampados em aço

— Campo de provas em Indaiatuba (SP): inaugurado em 1974, mantém pistas e laboratórios

— Centro distribuidor de peças em Sorocaba (SP): inaugurado em 1996, recebe, embala, separa e despacha peças produzidas pelos fornecedores da montadora



Entenda a crise

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