Atualizada às 13h06min Humberto Trezzi, Santa Cruz de La Sierra  |  humberto.trezzi@zerohora.com.br

O estado de sítio decretado pelo presidente boliviano Evo Morales no departamento de Pando foi rechaçado a bala por moradores daquela região fronteiriça com o Brasil. Pelo menos duas pessoas ficaram feridas com tiros ao combater soldados do exército boliviano que avançam pela cidade de Cobija, capital de Pando, para tentar fazer cumprir o estado de sítio. Os feridos são civis, paramilitares de oposição a Evo Morales, que tentam impedir a tomada da cidade.

Há notícia de combates entre soldados e franco-atiradores durante toda a madrugada em Pando, departamento que faz fronteira com o Estado brasileiro do Acre. Foi nessa região que morreram 30 pessoas em confrontos entre opositores e defensores de Morales, na quinta-feira. A estimativa inicial era de oito mortos, mas neste sábado o governo federal boliviano anunciou que foram encontrados 30 corpos nos rios da região de Porvenir, a cidade atingida pelos combates.

O ministro de governo Alfredo Rada anunciou ordem de prisão para o prefeito (governador) de Pando, Leopoldo Fernández, por "desacato". Fontes governamentais confirmaram a Zero Hora que a detenção se dá porque Fernández se recusou a obedecer ao estado de sítio.

Fernández tem sido qualificado por Rada como "genocida" e sobre ele pesam as suspeitas de ter usado pistoleiros brasileiros nos combates contra militantes do Movimento Al Socialismo (MAS), partido de apoio ao presidente, que resultaram em 30 mortos.

O aeroporto Aníbal Arab, de Cobija, está fechado e tomado por tropas militares. Um grupo de jornalistas bolivianos e estrangeiros que chegou lá num avião Hércules das Forças Armadas foi impedido de trabalhar e enviado de volta a La Paz. Os militares, que tinham inicialmente conduzido os repórteres para que testemunhassem a tomada do terminal aéreo, foram recebidos pelos moradores da cidade com barricadas e por isso impediram o trabalho da imprensa.

Os governadores oposicionistas, que iriam a Pando, desistiram de fazê-lo. Quem anunciou a decisão foi Rubem Costas, governador de Santa Cruz de La Sierra. Ele diz que não foi autorizado o pouso dos oposicionistas no aeroporto de Cobija e nem nas cidades vizinhas.

Costas criticou o estado de sítio e disse que tanto a oposição quanto a imprensa estão impedidas de veicular o que está acontecendo no país. Ele não descartou, por enquanto, o diálogo com Evo Morales, mas diz que no momento isso está difícil.

O governo Evo Morales, na TV, declarou que continua o estado de sítio em Pando. Tropas militares federais já patrulham as ruas de Cobija, depois de enfrentamentos com civis que resultaram em pelo menos dois feridos. Em Santa Cruz de La Sierra a madrugada também foi violenta. Pelo menos 10 pessoas sofreram ferimentos leves por pedras durante enfrentamentos entre militantes da União da Juventude Cruceña (oposicionista ao presidente Morales) e do MAS (governista).

Por todo o país proliferam bloqueios de estradas, feitos tanto por oposicionistas, quanto por governistas. A incerteza sobre a situação política na Bolívia levou as duas companhias aéreas brasileiras que atuam nesse país, a Gol e a TAM, a suspender os vôos para Santa Cruz de La Sierra. Só a companhia regional boliviana Aerosur está operando com vôos ao Brasil, mesmo assim, de forma intermitente.

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