Na parede do escritório do advogado Roberto Davis Júnior, 58 anos, uma foto emoldura a personalidade desse criador de cavalos crioulos que na quarta, dia 3, foi aclamado presidente da associação nacional da raça (ABCCC). Na imagem, o dono da Cabanha Infinito, de São Sepé, ergue o Freio de Ouro conquistado em 1999, tendo à sua esquerda o então governador Olívio Dutra e à sua direita o presidente da Federação da Agricultura do Estado, Carlos Sperotto, todos no barro da pista de provas.

A foto retrata um Davis conciliador. Em um ano marcado pelo embate entre governo estadual e produtores, que ameaçavam boicotar a Expointer por causa de divergências, o advogado foi um dos interlocutores no Palácio Piratini e participou das negociações que levaram à realização da feira com uma semana de atraso. Naquele ano, o destino o premiou dando a vitória ao garanhão Consuelo do Infinito. Os laços com o PT nunca foram obstáculo para que Davis fosse amplamente acolhido pela comunidade crioulista, tradicionalmente conservadora.

– A diretoria da associação o convidou e ninguém se apresentou contra. Ele tem a passarela limpa para falar com esse povo (do governo federal), isso vai ser bom para a raça – afirma João Carlos Costa, sócio da Cabanha Santa Angélica e amigo de Davis.

– A comunidade crioulista não é fechada. Sou um cara de esquerda, na juventude mais do que hoje, e sempre fui recebido de braços abertos – diz o novo dirigiente.

A foto retrata também um Davis competitivo. Desde a compra da fazenda de cerca de mil hectares e o início da criação de cavalos crioulos, em 1990, tinha em mente participar de provas. E vencer. Se como nadador, aos 18 anos, Davis quebrou o recorde sul-americano na prova de 200m nado livre, seus cavalos não ficaram para trás nas competições. Não só no Freio de Ouro, mas também em rédeas, modalidade esportiva da qual o futuro presidente da ABCCC (a posse é em outubro, para um mandato de dois anos) é entusiasta, tendo animais de destaque internacional, como Joio do Infinito, líder do ranking europeu.

A foto retrata um Davis apaixonado pelo cavalo. Na imagem, Consuelo do Infinito parece observar a glória do dono, no momento máximo de uma fixação que não sabe como começou. Apenas lembra que aos seis anos já economizava os trocados dados pelo pai, um bem-sucedido executivo paulista transferido para o Rio Grande do Sul quando o filho tinha um ano, para andar de pônei no parque da Redenção. E, aos 18, no primeiro ano de faculdade de Direito, quando a família morou uma temporada em Recife, comprou um matungo na praia de Piedade, com o qual cavalgava à beira-mar.

Com o corpanzil de 1m90cm, veste-se como tantos outros criadores – calça jeans Levi’s, cinto com motivos rurais, botinas de couro de capincho, relógio dourado. Mas não abandona um toque rebelde, conferido pelos longos cabelos grisalhos contidos pela boina de linho e um ostensivo cavanhaque. Os olhos claros e o porte lembram um inglês, como seu avô, mas a pele tostada pelo sol e as crinas revoltosas remetem a um índio campeiro.

Como se o inglês anulasse o rebelde, Davis projeta uma gestão sem revoluções na ABCCC. Promete valorizar a isenção dos sistemas de avaliação de animais, tornar os critérios de julgamento mais objetivos, fomentar o uso de cavalos crioulos em provas e áreas ainda pouco exploradas, como as regiões Centro-Oeste e Norte do país.

– Sempre dá para melhorar alguma coisa – afirma.

Conciliador, competitivo e apaixonado por cavalo: síntese
do novo dirigente pode ser visto numa fotografia de...
Foto: Mauro Vieira


... 1999, quando ganhou o Freio
Foto: Reprodução

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