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 | 11/08/2008 15h12min

Brasil deve reduzir queimadas para evitar efeitos do aquecimento global na agricultura, diz especialista

País também deve adotar sistemas de produção mais limpos e investir em melhoramento de espécies, conforme pesquisador da Embrapa

Raphael Salomão, São Paulo (SP)  |  reportagem@canalrural.com.br

Duas medidas devem ser tomadas de imediato para minimizar os efeitos do aquecimento global sobre a produção agrícola do Brasil: reduzir os volumes de queimadas e de desmatamento, adotando sistemas de produção mais limpos, e investir em melhoramento de espécies, adaptando-as às novas condições do clima no país.

Isso foi o que disse o chefe da Embrapa Informática Agropecuária, Eduardo Assad, um dos autores do estudo "Aquecimento Global e Cenários Futuros do Agronegócio", lançado nesta segunda, dia 11, durante o Congresso Brasileiro de Agribusiness, em São Paulo.

Assad coordenou os trabalhos ao lado de Hilton Silveira Pinto, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), da Universidade de Campinas (Unicamp). Ele projeta que o aquecimento global pode gerar prejuízos de R$ 7,4 bilhões à produção agrícola em 2020.

A pesquisa foi feita com base no zoneamento climático do Brasil e em dados do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e atingiu as culturas de algodão, arroz, feijão, café, cana-de-açúcar, girassol, mandioca, milho e soja. Basicamente, o aumento da temperatura do planeta causaria uma migração de cultivares para regiões onde encontrassem clima mais favorável. As que sofreriam mais prejuízos, caso medidas necessárias não sejam tomadas, seriam, soja, café e milho.

– Temos novas culturas a serem estudadas. As que estudamos até aqui representam algo perto de 86% do PIB da agricultura brasileira. Por isso escolhemos essas culturas. Misturamos alimentação básica com biocombustíveis – explicou Hilton Silveira Pinto.

Eduardo Assad, da Embrapa, citou entre os sistemas de produção mais limpos e sustentáveis a integração lavoura-pecuária e o plantio direto. Avaliou que a redução do desmatamento e das queimadas e a implantação de métodos mais sustentáveis é muito mais uma decisão política. A adaptação de espécies, que só pode ser feita no longo prazo, já que o tempo médio de desenvolvimento de uma nova cultivar em escala comercial pode variar entre sete e dez anos.

– Temos sete anos para colocar no mercado uma soja resistente à deficiência hídrica – exemplificou, projetando que o investimento médio necessário é de cerca de R$ 12 milhões anuais por cultivar.

Críticas

Os dois pesquisadores criticaram os atuais sistemas de financiamento à pesquisa no Brasil. Reclamaram do excesso de burocracia e do que chamaram de falta de confiança dos órgãos de fomento nos pesquisadores.

– Falamos muito e agimos pouco em termos de financiamento a pesquisa – criticou Silveira Pinto, da Unicamp.

Eduardo Assad acrescentou que é preciso intensificar mais o trabalho feito no campo, o que exige mais investimentos. Ele ressaltou que a Embrapa recebeu, nos últimos dez anos, cerca de R$ 30 milhões de reais para investimentos em pesquisa e que o chamado PAC da Embrapa prevê mais estudos a respeito das mudanças do clima.

Ele acredita que há um esforço para ampliar o investimento em pesquisa no país, mas que ainda é lento. Por outro lado, disse acreditar que parcerias com a iniciativa privada podem ser uma alternativa importante.

– [Esse tipo de pesquisa] Toca no bolso de quem tiver fazendo investimentos. Toca em assuntos espinhosos que vão exigir uma discussão mais madura dos setores público e privado – advertiu.

O diretor de Comunicação da Associação Brasileira de Agribusiness, Luiz Antônio Pinazza, concordou. Ele sugeriu que, do ponto de vista econômico, trabalhos como o lançado nesta segunda podem ser relacionados com fatores como, por exemplo, o preço da terra e uma política de seguro rural no país.

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