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 | 02/07/2008 17h01min

Ingrid Betancourt: símbolo do drama colombiano

Refém das Farc há mais de seis anos, ela foi resgatada pelo Exército da Colômbia nesta quarta

Com o anúncio do resgate da ex-candidata à Presidência colombiana Ingrid Betancourt, que estava há mais de seis anos em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), termina uma história de grande sofrimento, acompanhada com muita atenção por todo o país e líderes internacionais.

Antes de 23 de fevereiro de 2002, data do seqüestro, Betancourt era uma jovem política batalhadora e controvertida, mas acabou tornando-se, pouco a pouco, um símbolo vivo do conflito colombiano.

Sua inquietude, imortalizada no cativeiro por meio de cartas a seus familiares e aos colombianos em geral, beirou às vezes o limite da prudência, como no dia em que foi seqüestrada pelas Farc.

Apesar das vozes que alertavam para o risco que corria, Betancourt viajou ao departamento (Estado) selvático de Caquetá (sul) três dias depois de o presidente Andrés Pastrana ter declarado suspensas as negociações com as Farc, iniciadas em 1998.

Com ela foi seqüestrada Clara Rojas, candidata à Vice-Presidência da Colômbia pelo partido "Oxígeno Verde" (Oxigênio Verde) e que foi libertada pelas Farc em 10 de janeiro último.

O mesmo espírito destemido que levou Betancourt para Caquetá fez com que dissesse ao Congresso colombiano que o país estava sob governo "de um delinqüente", em referência ao então presidente Ernesto Samper (1994-1998).

Em outra ocasião, declarou que o partido em que iniciou sua vida política, o Liberal, era um clube de "ladrões e corruptos", e o Poder Legislativo, "um ninho de ratos".

No período em que atuou como parlamentar, Betancourt se declarou em greve de fome para protestar contra uma comissão investigadora que absolveu Samper da acusação de financiamento de campanha com dinheiro do cartel das drogas de Cali.

Em 1998, Betancourt fundou seu próprio partido, o Oxigênio Verde, de cunho ecológico e por meio do qual conquistou sua cadeira parlamentar e se candidatou à Presidência colombiana.

Anos antes, no fim da década de 80, tinha se cansado da vida diplomática oferecida por seu primeiro marido, o francês Fabrice Delloye, pai de seus dois filhos, Melanie e Lorenzo.

Uma série de acontecimentos na Colômbia, como o assassinato de vários candidatos presidenciais, um frustrado processo de paz com as Farc, a ocupação rebelde do Palácio de Justiça (que culminou na morte de mais de cem pessoas) e o surgimento do chamado "narcoterrorismo", fez com que Betancourt refletisse sobre suas metas.

Ela sabia que "tinha uma dívida" com a Colômbia, como já havia ensinado seu pai, Gabriel Betancourt, que foi ministro da Educação e embaixador colombiano na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). 

— O país me chamava — chegou a declarar.

Ingrid Betancourt voltou à Colômbia depois de mais de 10 anos de permanência na Europa, durante os quais se graduou em Ciência Política e Relações Internacionais.

Atualmente, em seu longo período de cativeiro de mais de 2 mil dias, suportou a morte de seu pai, uma das pessoas que mais teve influência em sua vida.

A ex-candidata presidencial colombiana, que tem também nacionalidade francesa, se transformou na "jóia da coroa" das Farc, a mais importante moeda da organização guerrilheira junto com os cidadãos americanos Marc Gonsalves, Keith Stansell e Thomas Howes.

Os três também tiveram suas libertações e resgates anunciados nesta quarta-feira pelo ministro da Defesa colombiano, junto com 11 militares colombianos.

Um dos chefes da guerrilha, José Benito Cabrera, conhecido como "Fabian Ramírez", não hesitou em afirmar, poucos dias depois do seqüestro de Betancourt, que a situação dela demoraria a ser resolvida, adiantando na ocasião que a ex-candidata seria a líder de um grupo de reféns "passíveis de troca" por cerca de 500 rebeldes presos.

A família de Betancourt recebeu a primeira "prova de vida" da ex-candidata presidencial em 24 de julho de 2002. Em um vídeo, a dirigente conservava seus brios rebeldes, rejeitava a troca proposta pelas Farc e cumprimentava seu segundo marido, o publicitário colombiano Juan Carlos Lecompte.

Como presente pelo 46º aniversário de Betancourt, Lecompte lançou sobre a selva colombiana, em 25 de dezembro último, cerca de 20 mil panfletos com fotografias recentes dos filhos de Betancourt, com a esperança de que pelo menos um deles chegasse às mãos de sua esposa. 

— Este é um momento muito difícil para mim. Pedem provas de sobrevivência à queima-roupa e aqui estou te escrevendo colocando minha alma sobre este papel. Estou mal fisicamente. Não voltei a comer, estou sem apetite, meu cabelo cai em grandes quantidades — disse Betancourt à sua mãe Yolanda Pulecio.

A ex-candidata presidencial, cujo único contato com o exterior vinha sendo feito por um aparelho de rádio, tentou escapar várias vezes de seus seqüestradores, segundo contaram alguns dos poucos reféns que conseguiram fugir dos guerrilheiros, como o policial John Frank Pinchao.

Embora Betancourt tenha "uma coragem à prova de bala" e um ótimo humor, segundo alguns analistas, sofreu na carne os rigores do cativeiro na selva.

Boa prova disso é um vídeo divulgado em 30 de novembro último, e no qual é vista em uma cadeira em meio à selva, extremamente magra, com o cabelo muito longo e um olhar triste e perdido, em imagens que para muitos ilustram o conflito colombiano.

EFE
 
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