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 | 05/06/2008 07h45min

Brasil avança na exploração de urânio, diz ministro de Minas e Energia

Entrevista: Edison Lobão

Marta Sfredo  |  marta.sfredo@zerohora.com.br

Com a primeira viagem oficial ao Rio Grande do Sul prevista para este Dia Mundial do Meio Ambiente, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, deve visitar pólos opostos do embate entre geração de energia e preservação ambiental. Estão no programa visitas ao parque eólico de Osório e a Candiota, berço de novos projetos de térmicas a carvão que enfrentam restrições de ecologistas. Na entrevista concedida a Zero Hora por telefone, na véspera do desembarque no Estado, o ministro adianta que a hidrelétrica de Garabi, na fronteira com a Argentina, vai ganhar velocidade, e que o Brasil quer dominar a tecnologia de enriquecimento de urânio.

Zero Hora - Como se avança na discussão sobre os limites ambientais da geração de energia?

Edison Lobão - Todos têm o dever de defender o ambiente, mas isso não pode chegar a prejudicar o desenvolvimento nacional. Entre os princípios que regem a política energética brasileira, figuram com destaque a proteção ao ambiente e a promoção da conservação de energia. Precisamos cuidar dessa tarefa e investimos fortemente em fontes renováveis e programas que evitem ou reduzam os problemas ambientais.

ZH - A geração térmica a carvão no Rio Grande do Sul é problema ou solução?

Lobão - As termelétricas são uma alternativa importante, inclusive as movidas a carvão, embora causem alguma poluição. O Rio Grande do Sul tem cerca de 80% das jazidas de carvão mineral do Brasil. Precisamos incrementar seu aproveitamento.

ZH - É possível garantir a tecnologia limpa de queima de carvão?

Lobão - É possível. O carvão da Colômbia é o melhor do mundo. Esse é um carvão que se aproxima da limpeza e tem uma produtividade muito grande. O carvão brasileiro, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, não tem essa pureza, mas é um bom carvão, e devemos aproveitá-lo.

ZH - A geração nuclear também enfrenta resistências, mas o governo pretende construir quantas usinas além de Angra 3?

Lobão - A energia nuclear é limpa e segura. Ficou na cabeça das pessoas o problema de Chernobyl, mas foi um acidente que pode ocorrer com qualquer outra fonte de energia. Quanto aos resíduos, cada país adota seu procedimento. No Brasil, colocamos num contêiner que é sepultado em algum lugar, preservado sem maiores perigos. (A energia nuclear) não é poluente, tem aproveitamento total - uma usina de 1 mil megawatts (MW) produz de fato 1 mil MW, ou 950 MW, ao contrário das demais, que produzem sempre muito menos do que a capacidade instalada. Portanto, tem de ser considerada.

ZH - O Brasil evoluirá para enriquecer o urânio existente no país?

Lobão - Vai. Essa idéia está na origem da instalação das usinas nucleares, desde os anos 70.

ZH - Mas não saiu do papel até hoje, saiu?

Lobão - Avançamos bastante, mas o enriquecimento ainda é no Exterior. Estamos caminhando para o enriquecimento de urânio no Brasil. Temos a sexta maior reserva do mundo, que estará em condições inclusive de exportar urânio. Vamos exportar urânio sob controle do governo.

ZH - Além de Angra 3, serão construídas mais quatro ou mais oito nucleares?

Lobão - Inicialmente, mais quatro, e em a longo prazo, mais oito. Depois, mais. Contemplamos um projeto com que podemos chegar a 2060, por aí, com cerca de 60 mil a 80 mil megawatts oriundos de energia nuclear.

ZH - Sem risco?

Lobão - Sem risco.

ZH - Sempre que se discutem esses riscos, surgem idéias de explorar mais fontes naturais como a eólica e a solar. Por que isso não ocorre com mais intensidade?

Lobão - Aí mesmo no Rio Grande do Sul existe um parque muito bonito de energia eólica. Estamos estimulando em vários Estados, já temos no Ceará e temos projetos de instalação no Rio Grande do Norte, no Piauí. É uma boa energia, limpa, mas ainda é cara. Em energia solar, também temos feito algumas experiências, algumas bem-sucedidas.

ZH - Novos projetos eólicos esbarram na falta de leilões para essa fonte. Há uma previsão de um específico?

Lobão - Estamos imaginando a realização de um leilão, ainda não definimos o modelo.

ZH - Seria ainda este ano?

Lobão - Pode ocorrer ainda este ano.

ZH - O projeto da hidrelétrica de Garabi, uma binacional na fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina, pode ganhar velocidade, até porque os vizinhos enfrentam crise de energia?

Lobão - Tivemos um encontro do presidente Lula com a presidente (da Argentina) Cristina Kirchner, e o ministro Julio De Vido (ministro do Planejamento). Lá estava também o presidente da Bolívia, Evo Morales. Ficou acertado que caminharemos celeremente, para construir essas hidrelétricas nas fronteiras nos países. Garabi está contemplada, além de outras. Vamos inclusive construir no Peru. Estamos assinando o protocolo de intenções inicial para construção de uma dessas hidrelétricas, são 15 no Peru, num total de 20 mil MW.

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