O presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag) voltou a demonstrar preocupação com a competitividade da soja do país no mercado. Carlo Lovatelli, que também preside a Associação Brasileira da indústria de Óleos Vegetais (Abiove), afirmou que o setor paga caro pelos problemas “fora da cerca da fazenda”.

Entre as principais dificuldades, de acordo com Carlo Lovatelli, está a competição com a Argentina.

– Estamos perdendo instalações industriais para a Argentina, que está viabilizando eventual ociosidade industrial com drawback de soja brasileira. É emprego brasileiro que está sendo exportado para a Argentina, investimentos que estão sendo realocados.

Na avaliação de Carlos Lovatelli, o governo brasileiro não está enxergando a situação. Para ele, o Brasil está sendo “extremamente bonzinho” e não faz o que é necessário para garantir o que considera equilibrado nas relações internacionais com a Argentina.

– Quem sai prejudicado é o setor de soja. Estamos trabalhando em cima disso, mas os resultados ainda são relativamente magros.

Uma das alternativas para reverter a situação e ampliar a moagem de soja no Brasil, é a redução da carga tributária sobre produtos de maior valor agregado.

– O Brasil é um dos poucos países que tributam o valor agregado na cadeia da soja e não tributa o produto in natura. É reverter isso instantaneamente.

Ainda de acordo com Carlo Lovatelli, é preciso baixar também o chamado custo-Brasil, com mais investimentos em logística. O presidente da Abag avaliou que há a necessidade de aportar recursos nos diversos modais de transporte, além da ampliação da capacidade de armazenamento.

Para dar uma idéia do tamanho do problema, Lovatelli retomou a comparação com a Argentina.

– Tem fábrica em cima do navio, nos portos da Argentina, de 15 mil, 18 mil toneladas (de capacidade) de esmagamento. Nossa maior tem 5 mil 5,5 mil. Não temos mais escala nem posicionamento correto de distribuição logística.

Endividamento

Carlo Lovatelli demonstrou pessimismo em relação à reestruturação das dívidas do setor agrícola. Na última terça-feira, dia 27, o governo enviou uma proposta que contempla a renegociação de R$ 75 bilhões.

– Já vi esse filme antes. É uma ingerência sobre a performance do setor. Tem de levar em consideração uma série de fatores que não depende só do produtor. Vai levar um tempo para chegar a bom termo.

O presidente da Abag fez as declarações durante o 11º Fórum organizado pela entidade, em São Paulo, nesta quarta-feira, dia 28. O tema principal do encontro foi a Reforma Tributária e os impactos no agronegócio.