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 | 08/05/2008 20h14min

Aliado de José Dirceu foi quem vazou o dossiê FH

Troca de e-mails entre funcionário da Casa Civil José Aparecido Nunes Pires e assessor do senador Álvaro Dias revelam vazamento

Atualizada às 22h36min

O laudo preliminar do Instituto de Tecnologia da Informação (ITI), responsável pela perícia nos computadores da Casa Civil, mostra que as informações sigilosas dos gastos do governo de Fernando Henrique Cardoso foram divulgadas pelo secretário de controle interno da Casa Civil, José Aparecido Nunes Pires, aliado do ex-ministro José Dirceu, o antecessor da ministra Dilma Rousseff. As informações são do Jornal Nacional e do site G1.

Os peritos do ITI recuperaram no disco rígido de um dos computadores e-mails que haviam sido excluídos. Era a correspondência entre José Aparecido e André Eduardo da Silva Fernandes, assessor do senador Álvaro Dias, do PSDB.

No dia 19 de fevereiro, às 12h30min, aparece uma mensagem de André para José Aparecido, sem texto. Às 14h39min, José Aparecido escreve para André "vamos almoçar nesta semana?". No dia seguinte, às 8h39min, André responde: "te ligo na quinta". Às 10h46min, José Aparecido devolve, dizendo: "André, leia o texto".

Segundo o laudo do ITI, esse e-mail continha um arquivo anexo com 28 páginas, onde estavam as informações sobre gastos sigilosos do governo FH. Tudo isso foi descoberto no computador de José Aparecido, apreendido na sexta-feira. Os técnicos trabalharam no fim de semana. E nessa terça foi entregue à comissão de sindicância que investiga o vazamento do dossiê.

No dia 4 de abril, o jornal Folha de S. Paulo divulgou as planilhas contidas no dossiê — um arquivo criado pela Presidência da República, no dia 11 de fevereiro. No mesmo dia, a ministra Dilma desqualificou o documento divulgado pelo jornal.

— Numa planilha excel monta-se o que se quer. O próprio jornal assim o fez. É possível alegar que ela já estava aqui, perfeitamente, mas o que mostra é que ela também é facilmente modificada. Mostra as duas coisas — disse ela em entrevista coletiva, mas o laudo do ITI confirma agora que o dossiê realmente existiu.

José Aparecido

José Aparecido é funcionário do Tribunal de Contas da União e trabalha na Casa Civil, por indicação do ex-ministro José Dirceu. José Aparecido é militante histórico do PT e assessorou vários deputados petistas em CPIs, entre eles Dirceu, cassado em 2005 no escândalo do mensalão.

José Aparecido confirma a troca dos e-mails com André, mas nega que tenha enviado o dossiê.

— Mas houve, seguramente, a troca de e-mails, mas de amigos que foram colegas de trabalho. E jamais teve qualquer coisa que pudesse pelo menos beirar a ilegalidade — afirma.

Confrontado com o teor dos e-mails citados no laudo, ele primeiro negou que no e-mail houvesse algum documento anexado:

— Olha, a troca de mensagens é possível que tenha havido. Mas que, como fala aí, é texto, texto, é literal — disse.

No decorrer da entrevista, ele acabou admitindo a possibilidade de que houvesse mesmo um arquivo anexado à mensagem, mas negou mais uma vez que fosse o dossiê:

— Um texto anexado possivelmente, que era coisa de 10, 12 linhas. Provavelmente de suprimento de fundos, colocando a legislação que rege a matéria — disse.

No dia 11 de fevereiro, antes da criação da CPI dos Cartões, a pedido do secretário de administração da Casa Civil, Norberto Temóteo, José Aparecido disse que cedeu dois funcionários para criar um arquivo sobre gastos do governo FH.

— Nessa conversa ele disse que iria ter uma CPI e que no escopo dessa CPI eles seguramente iriam pegar dados a partir de 98, do suprimento de fundos. E que como esses dados estavam desorganizados, eles achavam que a CPI, em algum momento, poderia vir a pedir esses dados e então eles precisavam de certa forma organizar, sistematizar esses dados — afirmou.

Na terça-feira, José Aparecido prometeu entregar copias dos e-mails trocados com André para provar que o anexo do e-mail não era o dossiê. Mas nesta quinta alegou que as cópias estão em Goiás e só na próxima semana poderá apresentá-las.

Álvaro Dias

O senador Álvaro Dias disse que, num primeiro momento, não sabia quem tinha enviado o dossiê ao seu assessor, mas que agora sabe e, diante da informação de que a TV Globo teve acesso ao laudo da perícia, confirmou tudo.

— As informações vieram do computador do senhor José Aparecido, que trabalha na Casa Civil da Presidência da República. Essas informações vieram por e-mail, do computador do senhor José Aparecido para um computador no Senado Federal — disse.

O senador não quis pronunciar o nome de André Eduardo da Silva Fernandes, o funcionário de seu gabinete que recebeu o dossiê. Mas confirmou que se trata dele mesmo.

O senador não soube explicar por que o dossiê foi parar na mão dele, que é de oposição.

— Não imagino o porquê. Certamente houve uma alteração de cronograma, houve um atravessamento, não era hora de vazar esse dossiê, não era isso que estava estabelecido por quem ordenou. O mais importante agora é saber quem mandou fazer esse dossiê e porque mandou fazer — concluiu.

Dilma

A ministra Dilma não quis falar sobre as informações do laudo. Disse que vai aguardar a investigação da Polícia Federal (PF). A justiça autorizou nesta quinta-feira a prorrogação, por mais 60 dias, do inquérito da PF, que apura o vazamento do dossiê.

Reprodução TV Globo  / 

José Aparecido confirma a troca dos e-mails com André, mas nega que tenha enviado o dossiê
Foto:  Reprodução TV Globo


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