A saída encontrada pela maioria dos produtores rurais endividados - que estiveram na mobilização dos produtores em Brasília - para se manter na atividade no mês passado, foi a venda antecipada da produção de grãos, de acordo com uma pesquisa realizada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O Projeto Conhecer entrevistou 174 agricultores, dos quais 151 (87%) afirmaram realizar este tipo de venda para garantir crédito e continuar produzindo.

Segundo o levantamento, realizado em março durante a mobilização dos produtores em Brasília, dos 151 que comercializam sua produção antes do período de safra, 92% negociam de 26% a 100% da produção. No caso da soja, os produtores de Mato Grosso - maior produtor da oleadinosa do país - são os que mais adotam a prática. Dos 174 consultados, 80 possuem lavouras no Estado.

De acordo com dados da Associação dos Produtores de Soja (Agrosoja), 73% da produção da safra 2007/2008 foram negociados antecipadamente. No oeste do Estado, o índice chegou a 82%. No Piauí, o percentual é de 70%, enquanto os Estados de Goiás e do Distrito Federal venderam, juntos, 65% dos grãos produzidos na região antes de iniciarem as colheitas.

– A exaustão de recursos oficiais de crédito rural para o financiamento da safra e o reduzido limite por pessoa para obtenção de crédito fizeram com que os produtores buscassem outras fontes – explica Luciano Carvalho, assessor técnico da Comissão Nacional de Crédito Rural da CNA.

A pesquisa aponta ainda que 63,2% dos entrevistados estão com mais de 50% da renda bruta anual comprometida com diversos tipos de endividamento.

– Se tomarmos o Mato Grosso como exemplo, há comprometimentos de 100% da renda. O produtor que tiver uma rentabilidade anual de 10% levaria 10 anos para pagar a conta – afirma o presidente da Comissão Nacional de Endividamento da CNA, deputado Homero Pereira (PR-MT).

Dos produtores incluídos na amostragem, 96 admitem não ter condições de honrar seus compromissos em 2008, enquanto 65 afirmam conseguir pagar apenas uma parte do que devem. Muitos dizem procurar fontes alternativas de recursos para fugir da burocracia dos créditos rurais bancários. Cem produtores questionados estão endividados com instituições financeiras e fornecedores privados, conforme a pesquisa.