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 | 11/10/2007 16h02min

ONU diz que reduzir produção de biocombustíveis ajudaria a combater a fome

Organização sugere uma moratória de cinco anos na produção de biocombustível

Estabelecer uma moratória de cinco anos para a atual produção de biocombustíveis e legitimar o direito à não deportação dos famintos são duas soluções para ajudar a diminuir a fome no mundo, segundo a ONU. A afirmação foi feita nesta quinta, dia 11, em entrevista coletiva concedida pelo relator especial das Nações Unidas para o Direito à Alimentação, o suíço Jean Ziegler.

Ziegler apresentou nesta quinta os dados em comemoração ao Dia Mundial da Alimentação, que será celebrado no dia 16 de outubro, e deve apresentar em breve seu relatório preliminar sobre o assunto na Assembléia Geral da organização.

No fórum, Ziegler defenderá que a alimentação é um direito humano básico, "algo que países como os Estados Unidos não consideram", disse o relator, que aproveitou para parabenizar o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, por sua "coragem em defender este tema".

Segundo os dados coletados pela equipe do suíço, "a fome continua aumentando ano após ano".

– A cada dia, 24 mil pessoas morrem de fome e 100 mil (morrem) por causas relacionadas à desnutrição, o que resulta em um total de 35 milhões de mortes ao ano. Quando, segundo dados da FAO (Fundo para a Agricultura e a Alimentação da ONU), o mundo produz alimentos suficientes para 12 bilhões de pessoas, ou seja, duas vezes a população mundial, cada criança que morre de fome é um assassinato – afirmou.

O relator acredita que não é preciso somente acabar com os famintos, mas evitar que seu número aumente. Por isso, propõe legitimar o direito de que os cidadãos que não podem se alimentar não sejam deportados, e evitar que os terrenos agrícolas sejam destinados à fabricação de biocombustível, em vez de serem usados para produzir alimentos.

– Na África, há 202 milhões de famintos que não podem se alimentar e que arriscam suas vidas para chegar à Europa e poder viver, e nós deveríamos permitir isto – disse.

Ziegler afirma que é possível criar o direito à não-deportação, pois quando o Conselho de Direitos Humanos da ONU foi instituído, em março de 2006, "recebeu o mandato para criar novas ferramentas, caso fosse necessário".

– É uma tragédia o que acontece todos os dias no litoral atlântico e mediterrâneo. Milhares de pessoas morrem afogadas – disse.

Ele criticou a União Européia (UE) por querer concluir um acordo de livre-comércio com o grupo de países da "zona ACP" (ex-colônias européias que se tornaram independentes recentemente na África, no Caribe e no Pacífico) que, em sua opinião, "vai beneficiar apenas o norte".

Segundo Ziegler, os países ACP não têm margem de manobra para negociar por causa das ajudas recebidas do bloco europeu, que os deixam dependentes da UE.

– O acordo só aumentará o número de famintos – afirmou.

O relator da ONU disse que outra medida que poderia evitar o crescimento do número de famintos, que estaria em 854 milhões, seria o estabelecimento de uma moratória de cinco anos na produção de biocombustíveis.

– A transformação em massa de plantios destinados aos alimentos em terrenos voltados à produção de biocombustíveis vai criar hecatombes – ressaltou.

Ele explicou que, para produzir 5 litros de etanol, são necessários 230 quilos de milho, quantidade que alimentaria uma criança durante um ano.

– Eu entendo a necessidade de controlar as emissões de gases de efeito estufa, mas não se pode colocá-la à frente da vida das pessoas – acrescentou.

Por isso, ele pede uma moratória para que os cientistas possam desenvolver técnicas que permitam fabricar biodiesel a partir de produtos não comestíveis, como o cacto.

– Infelizmente, as zonas áridas aumentam a um ritmo de 1,2 quilômetro ao ano, mas pelo menos teremos os cactos – disse.

AGÊNCIA EFE
 
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