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Catarinense ferida em atentado fala sobre a tragédia

A catarinense Morgana Casagrande, de 30 anos, se recuperava ainda nesta quarta-feira, dia 16, em um hospital de Hong Kong, das cirurgias para se refazer do atentado acontecido no sábado, em Bali. Natural de Chapecó, oeste de Santa Catarina, Morgana é formada em Direito e Comércio Exterior, fala cinco línguas e trabalha há um ano na filial do HSBC em Hong Kong. Ela iria curtir uma folga de cinco dias na ilha de Bali, na Indonésia. Mas no primeiro dia de visita, quando estava no bar Sari Club, famoso por receber turistas estrangeiros, foi ferida pelas explosões. Pelo menos 189 pessoas morreram e outras 300 ficaram feridas. Ainda sentindo os ferimentos, Morgana tenta se recuperar do atentado. Fisicamente ela já está melhor. Mas as cicatrizes da tragédia ainda estão profundas na mente de Morgana. Ela se emociona ao contar o horror que viu nas ruas de Bali. A seguir, a entrevista que ela concedeu na quarta, por telefone, ao Diário Catarinense, ainda no hospital.

Diário Catarinense – Que lembranças você tem do atentado?
Morgana Casagrande – Foi uma experiência horrível. Eu estava com dois amigos e duas amigas no bar Sari Club e foi um milagre que todos nós tenhamos nos salvado. Quando explodiu a primeira bomba todo mundo se voltou para o local onde ocorreu o barulho. Foi um barulho tão forte que todos tiveram os tímpanos estourados. Essa primeira explosão foi longe de onde estávamos e eu só vi um clarão. Logo em seguida houve uma segunda explosão, próxima do bar. Foi uma coisa horrível, tudo ficou escuro. Todo mundo caiu no chão. Eu não conseguia respirar com tanta fumaça. Um bloco de concreto caiu em cima das minhas pernas e não sei de onde tirei forças para sair.

DC – Você chegou a desmaiar com o impacto da explosão?
Morgana – Se eu tivesse desmaiado, não teria me salvado. Quando levantei, fiquei tonta, estava pegando fogo por tudo. Tinha gente morta no chão, sangue, era um inferno. Foi algo parecido com os filmes que a gente vê na televisão. As pessoas estavam pretas, cobertas de poeira.

DC – A que distância vocês estava da segunda explosão?
Morgana – Eu estava a uns seis ou sete metros de onde a bomba explodiu, próximo a entrada do bar. A sorte que numa estava numa área aberta, pois o telhado do bar caiu, inclusive atingindo uns amigos meus.

DC – Como você conseguiu sair do local?
Morgana – Tinha fogo para tudo que é lado, principalmente onde ficavam a entrada e saída do bar. Tinha pedaços de madeira do telhado esparramado no chão. Tudo estava destruído. Consegui sair pelo outro lado do bar, onde pulei uma cerca e cheguei na rua.

DC – Você também estava com pé quebrado?
Morgana –
Não cheguei a quebrar, mas tinha torcido o pé. Na hora não sentia nada. Só depois, no meio da rua, estava cheio de caco de vidro e não agüentava mais. Foi então que encontrei uma das amigas, uma canadense que estava comigo no bar.

DC – E como vocês fizeram para conseguir socorro?
Morgana –
Foi muito difícil. A gente fazia sinal e as ambulâncias não paravam. Estavam todas lotadas. E eu estava pela primeira vez em Bali e não sabia para onde ir. Alguns turistas queriam ajudar, mas não sabiam como. Outros não falavam inglês e ninguém se entendia. Andamos cerca de 300 metros até conseguir convencer um motociclista a levar a gente para o hospital. Só que os dois primeiros hospitais estavam lotados. Só no terceiro a gente conseguiu atendimento.

DC – Quanto tempo levou da explosão até vocês conseguirem atendimento?
Morgana –
Foi mais de uma hora. Eu cheguei a ficar com uma bolha enorme no pé, pois o chão estava muito quente. Minha amiga estava com os dois pés com queimaduras de terceiro grau. O rosto também era só queimadura. Eu tive vários cortes no rosto, braço, cotovelo. A gente recebeu tratamento em uma cadeira, pois não havia leitos. Foi muito sofrido.

DC – Você ficou no hospital por muito tempo?
Morgana:
A explosão foi às 11h15min e eu fiquei até às 6h da manhã. A minha amiga e o namorado americano, que também estava todo queimado, foram levados para Cingapura, pois não havia médico disponível para as cirurgias de recomposição da pele. Eu voltei para o hotel onde encontrei minha colega de trabalho, Cristeli, que é canadense e também trabalha no HSBC, além de um amigo uruguaio. Do hotel fizemos contato com os familiares para tranqüilizá-los, já que a notícia do atentado estava se espalhando.

DC – Você logo imaginou que era um atentado?
Morgana –
Não deu tempo para pensar muita coisa. Na primeira explosão pensei que fosse um botijão de gás que tinha estourado. A segunda explosão foi tão de repente que só consegui pensar em sair do local. Depois que estava na rua imaginei que poderia ser um ato terrorista. Aí a gente ficou com um medo, pois não sabia em quem confiar. A gente não sabia se estavam mesmo nos levando para o hospital. Mas a gente não tinha outra opção.

DC – Apesar dos ferimentos você e seus amigos até que tiveram sorte em virtude da proximidade da explosão...
Morgana –
A gente iniciou de novo. Até comentávamos que todo mundo perdeu algum amigo ou parente. Nós cinco conseguimos nos salvar. A gente tem que agradecer a Deus por isso.

DC – Houve muita dificuldade em deixar Bali já que perdeu os documentos no incêndio?
Morgana –
 Bom, eu perdi tudo, bolsa, dinheiro e documentos. Minha irmã ajudou ligando para Brasília para conseguir autorização, a companhia aérea ligou para Hong Kong para confirmar se eu trabalhava no HSBC. Depois de conseguir a liberação, embarquei na segunda-feira à tarde para Hong Kong, 40 horas após o atentado. Em Hong Kong meu chefe estava esperando no aeroporto, pois tinha perdido também a chave do apartamento.

DC – Você foi hospitalizada novamente, como foram as cirurgias?
Morgana –
 Tive que retirar um pedaço de metal de 1,5 centímetro que não sei como se alojou dentro do nariz. Acho que é alguma coisa da infra-estrutura do bar. Substituí também os pontos da face por pontos de plástica. Só o nariz ainda está sem pele. Ainda não sei como vai ficar. É muito cedo. O rosto ainda está inchado.

DC – Você já está se sentindo melhor?
Morgana –
 Fisicamente estou bem melhor. Só que psicologicamente ainda passam flashes de pessoas sangrando, pessoas caídas no chão e fogo por tudo. Vejo as pessoas olhando e sem poder fazer muita coisa. É horrível.

DC – Quando você sai do hospital?
Morgana –
Logo já devo ter alta.

DC – Você vai voltar logo para o Brasil?
Morgana –
Acho que não estou em condições de fazer uma viagem tão longa, de cerca de 30 horas. O banco já se dispôs a providenciar transporte e tudo que eu precisar. Mas no momento acho melhor descansar e me recuperar. Estou sendo bem tratada aqui. Devo voltar para o Brasil para visitar meus familiares no Natal.

DC – O que muda para você após esse atentado?
Morgana –
Provavelmente vou evitar de freqüentar lugares muito cheios. Também vou fazer o que puder para acabar com estas ações terroristas. Bali era considerado um lugar seguro até pelos norte-americanos. Não sei se a ação foi um ataque contra a Austrália, pois havia muitos turistas australianos, ou de um grupo local para provocar o governo. Não faz sentido estas ações que neuróticos fazem com conseqüências para todas as famílias das vítimas. Não é justo com o mundo. Não é justo com as famílias.

DARCI DEBONA / DIÁRIO CATARINENSE
Álbum de família  / clicRBS

Morgana trabalha há um ano em banco da Ásia
Foto:  Álbum de família  /  clicRBS


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