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Eleições  | 22/09/2010 22h20min

Cabos eleitorais: militância ou apenas um bico para ganhar dinheiro?

Contar com apoio de pessoas engajadas parece uma relíquia no Brasil

Cristiano Rigo Dalcin  |  cristiano.dalcin@diario.com.br

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Em um país com eleições diretas a cada dois anos, contar com militância engajada ou ideológica parece ter virado objeto de museu, relíquia. Espalhados por viadutos ou avenidas de grande circulação de pessoas ou veículos, os cabos eleitorais empunham bandeiras personalizadas, em troca de R$ 100 a R$ 200 por semana.

A dona de casa Elisabete da Silva, 43 anos, seria uma dessas relíquias. Há mais de 20 anos, faz campanha para os mesmos candidatos, fruto da gratidão pelo que fizeram na sua comunidade, o Morro do Mocotó, em Florianópolis, quando estavam no poder.

Há um mês, no entanto, vendo mais uma eleição se aproximar, Elisabete foi até o gabinete de um vereador candidato a deputado estadual para "alistar" cinco familiares (sobrinhos e filhos) e formar uma equipe em troca de uma renda-extra.

— A proposta do meu candidato é emprego. Sempre que precisamos de trabalho, ele faz o encaminhamento. Tenho alguns familiares que estão trabalhando graças a ele — revela Elisabete, com entusiasmo.

Para o motorista aposentado Osair Barbosa, 55 anos, é só mais uma forma de ganhar dinheiro. Há duas semanas, ele segura a placa de um candidato embaixo de um viaduto. O curioso é que não espera obter votos para o candidato com seu trabalho.

— O eleitor até pode dizer que vai votar no cara, mas na hora, vota em quem quiser. É tudo um jogo, uma falsidade — afirma, desiludido, mas disposto a ganhar os R$ 200 por semana.

A estudante Juliane Pereira, 17 anos, é outra cabo eleitoral alheia ao processo. Tanto que trocou de campanha de candidato, porque não gostou do ambiente de trabalho oferecido pelo anterior.

— Nem faço questão de votar. Só estou nisso por dinheiro mesmo — completa a jovem, que sonha em ser professora.

Para o estudante Bruno José Ramos, 22 anos, ser cabo eleitoral foi a oportunidade de emprego que estaria procurando, caso não estivesse fazendo campanha no calçadão da Paulo Fontes, na Capital. A chance surgiu através de um amigo, conhecido de uma candidata.

Bruno até sabe algumas propostas da tal candidata, como a legalização da maconha e o casamento gay, mas a função abriu um novo horizonte para ele.

— Era bem leigo, mas em duas semanas já deu para aprender alguma coisa sobre eleição e política — disse Bruno, que até viajou Joinville e Criciúma para fazer campanha.

Hermínio Nunes / 

Elisabete da Silva faz campanha para os mesmos candidatos
Foto:  Hermínio Nunes


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