Eleições | 15/09/2010 06h10min
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Um Lula com forte teor ideológico e disposto ao confronto aterrissou em Santa Catarina na segunda-feira e reavivou uma longa história de rivalidade dos petistas catarinenses com o DEM da família Bornhausen. No comício em Joinville, o presidente chegou a dizer que o partido adversário deveria ser "extirpado da política brasileira".
A resposta, no mesmo tom, veio nesta terça-feira em nota do deputado federal Paulo Bornhausen: "Para pronunciar o nome dos Bornhausen dentro de Santa Catarina, Lula tem que estar são e lavar a boca antes".
A frase de Lula ganhou repercussão nacional. Aos militantes petistas que lotaram a praça Dario Salles, no Centro de Joinville, o presidente não mediu as palavras ao criticar a aliança que o ex-governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) mantém com o DEM desde 2006.
— Quando Luiz Henrique foi eleito governador de Santa Catarina, eu pensava que era pra mudar. Mas ele trouxe de volta o DEM que precisamos extirpar da política brasileira.
Lula citou diretamente a família Bornhausen, vinculando-a à candidatura de Raimundo Colombo (DEM) ao governo estadual.
— Sabemos que os Bornhausen não podem vir disfarçados de carneiro. Porque sabemos quem são os Bornhausen — disse o presidente.
As frases de Lula provocaram reação imediata do DEM. Na mesma linha da nota oficial do filho, o ex-senador Jorge Bornhausen sugeriu que o presidente estava "fora das condições normais" quando participou do comício. Disse que tem muito orgulho da história da família em Santa Catarina e foi ao contra-ataque:
— Aconselho o presidente a não faltar com a verdade, não inaugurar obras inacabadas, respeitar as famílias catarinenses e não ingerir bebidas alcoólicas antes dos comícios.
Bornhausen disse que, ao falar em "extirpar", Lula usa uma expressão "hitleriana". Ele nega semelhança da frase de Lula com a declaração que deu em 2005, na época do mensalão, quando disse "estaremos livres dessa raça por 30 anos".
— Eu expressei uma reação diante da vergonha que foi o mensalão, que até hoje o presidente esconde dentro do armário. Não teve intenção racista — justifica.
O candidato ao governo Raimundo Colombo disse ter ficado decepcionado com as declarações do presidente, mas minimizou o episódio.
— Eu achei uma frase muito infeliz, fiquei decepcionado com o presidente. Mas isso é coisa de palanque, prefiro entender dessa forma.
Luiz Henrique diz que Lula foi mal informado pelos petistas catarinenses sobre os motivos que o levaram a se aproximar do DEM.
— Continuo respeitando muito o presidente Lula. Quando me elegi, chamei o PT para participar do governo e o partido não quis. Para fazer as reformas que prometi, procurei o DEM — afirmou LHS.
UMA RIXA ANTIGA |
1980 |
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Filiado ao PDS, antiga Arena, Jorge Bornhausen é o governador de Santa Catarina. Ele seria o último governador eleito indiretamente pela Assembleia Legislativa, durante o regime militar. Bornhausen é filho do ex-governador Irineu Bornhausen. |
Com o fim do bipartidarismo imposto pelo regime militar, é fundado o Partido dos Trabalhadores. A principal liderança do partido é Luiz Inácio Lula da Silva, que se destacou no comando de greves do metalúrgicos do ABC Paulista em 1978. |
1982 |
Ainda no PDS, Jorge Bornhausen é eleito senador por SC, em dobradinha com Esperidião Amin, vencedor da disputa pelo governo estadual. |
PT disputa sua primeira eleição em Santa Catarinacomo partido nanico. Eurídes Mescolotto faz 6,8 mil votos ao governo. |
1985 |
Amin e Bornhausen tomam rumos diferentes nas eleições, ainda indiretas. Amin fica no PDS e Jorge entra na dissidência que funda o PFL para apoiar Tancredo Neves (PMDB) à Presidência da República. Tancredo vence Maluf, mas morre antes de assumir. José Sarney, também ex-PDS, assume o cargo.O PT recusa-se a votar em Tancredo no Colégio Eleitoral. |
1998 |
Bornhausen reedita a dobradinha com Esperidião e se elege senador. Amin dá o palanque catarinense para Fernando Henrique (PSDB), reeleito no 1º turno. |
2002 |
Jorge aposta tudo na eleição do filho Paulo Bornhausen ao Senado. Ele foi derrotado. A coligação incluía Amin ao governo. A causa seria a onda Lula. |
Lula se elege presidente no segundo turno contra José Serra (PSDB). A onda Lula impulsiona o PT-SC, que elege Ideli Salvatti senadora e é fundamental na eleição de Luiz Henrique (PMDB) ao governo. |
2005 |
Jorge Bornhausen é um dos principais opositores do governo Lula no Senado. Diante das denúncias de compra de votos de deputados, o mensalão, o senador ironiza quando perguntam se estava desencantado com os petistas. Desencantado? Pelo contrário. Estou é encantado, porque estaremos livres dessa raça pelos próximos trinta anos. |
Momento de maior fragilidade do governo Lula, o mensalão provoca a queda de José Dirceu, um dos principais articuladores do partido. Além de deixar a Casa Civil, ele tem o mandato de deputado cassado. O mensalão está sendo avaliado no STF. |
2006 |
Jorge Bornhausen é um dos principais articuladores da aliança do PFL com PMDB de Luiz Henrique. Não disputa a reeleição para o Senado, mas indica Raimundo Colombo (DEM) sucessor. Com a aliança, LHS é reeleito contra Amin e Colombo vence Luci Choinaki (PT) na disputa ao Senado. |
Lula é reeleito no segundo turno. Em SC, o partido não mina a polarização entre LHS e Amin. Sem palanque no segundo turno, petistas se aproximam do adversário histórico Amin, o que não impede que Geraldo Alckmin (PSDB) ganhe de Lula em SC. |
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