A expectativa dos partidos que apoiam o candidato à Presidência José Serra (PSDB) de excluir a adversária Dilma Rousseff (PT) da disputa pelo Planalto foi frustrada ontem pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). DEM, PSDB e PPS pediam a cassação do registro da petista à Justiça em consequência das quebras de sigilo fiscais na Receita Federal, que atingiram tucanos e a filha mais velha de Serra, a empresária Verônica.

O corregedor-geral eleitoral Aldir Passarinho negou o pedido ao argumentar que não há provas de que a petista está envolvida nas violações de sigilo e nem evidências de que o episódio tenha provocado danos à disputa eleitoral. A oposição planeja recorrer da decisão.

Ainda que o propósito da campanha tucana tenha sido frustrado pela Justiça menos de 24 horas após a solicitação, Serra explorou a quebra do sigilo de Verônica em seu programa de TV e em manifestações à imprensa.

No Congresso, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) chegou a articular uma CPI para investigar o vazamento das informações fiscais – com reduzidas possibilidades de sucesso, pelo período pré-eleitoral.

Serra insinua que “arapongas” receberiam dinheiro do PT

Em entrevista, o presidenciável partiu para o ataque contra o PT e insinuou que uma investigação sobre a Receita apontaria para “arapongas” na folha de pagamento da sigla. E culpou diretamente a adversária pelos vazamentos fraudulentos.

– Ela é a responsável, porque é a responsável pela campanha. O esquema de espionagem foi feito com gente nomeada, reuniões, pessoas contratadas e tudo mais. Além do mais, isso é tradicional dentro do PT – disse.

Para Serra, a candidata petista está sendo protegida:

– O PT e o governo estão blindando Dilma, aliás, não só neste episódio. Essa campanha está se caracterizando pela campanha do ocultamento de uma candidata.

Na TV, o programa do tucano investiu seu minuto final para explorar manchetes dos jornais de ontem sobre o caso. O locutor da propaganda disse: “Violaram o imposto de renda até da filha (de Serra). É como se alguém usasse a sua senha de banco, vasculhasse a sua conta, invadisse a sua casa, revirasse as suas gavetas, só para te prejudicar’’.

Em visita à Capital, Dilma respondeu as acusações e classificou-as como “falsas, levianas e sem sustentação jurídica”. A candidata, que esteve em Porto Alegre para gravar cenas de programa eleitoral, disse que acionaria o Judiciário contra a chapa adversária. Informou que o PT entraria com duas ações, uma por divulgação de fatos inverídicos e outra por calúnia, difamação e injúria. O partido, segundo Dilma, também daria entrada em ação contra o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, por crime contra a honra. Segundo a candidata, os tucanos querem ganhar as eleições “no tapetão”:

– Meu adversário, sua campanha e seu partido estão desesperados porque, a cada dia que passa, perdem o apoio popular .

E acrescentou: – Querem virar a mesa da democracia.

Para Dilma, “não se pode perder a dignidade”

Dilma afirmou que na época dos vazamentos, no final de setembro de 2009, “não havia campanha, nem pré-campanha” à Presidência. Ela criticou a postura do PSDB no caso, declarando que o povo brasileiro e a história do país “não costumam perdoar”:

– Pode-se perder eleição, mas não se pode perder a dignidade.

Segundo a candidata, quem deseja que os fatos fiquem “nebulosos” é a candidatura adversária. Por fim, defendeu que, embora as acusações devam ser apuradas e os culpados, responsabilizados, órgãos como a Receita e a Polícia Federal têm de ser preservados como instituições.