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 | 09/08/2010 22h30min

Câmara de Tubarão abrirá sindicância para apurar denúncia de turismo com dinheiro público

Suspeito, vereador Geraldo Pereira, já foi condenado por fraude contra o INSS

Marcelo Becker  |  marcelo.becker@diario.com.br

A Câmara de Vereadores de Tubarão, no Sul de Santa Catarina, deve instaurar uma sindicância para investigar a denúncia de que o vereador Geraldo Pereira (PMDB) fez turismo com a família em Porto de Galinhas, quando foi participar de um curso para vereadores em Recife, no início de julho.

O presidente da Câmara, João Batista de Andrade (PSDB), quer apurar se houve mau uso do dinheiro público por Pereira:

— Temos que instaurar a sindicância para apurar os fatos e responsabilidades e, se for o caso, buscar o ressarcimento do dinheiro utilizado nesse curso — explica o presidente da Câmara.

A formação da comissão que investigará o episódio começa a ser definida nesta terça-feira. A tarefa de analisar se Geraldo Pereira fez turismo com a esposa, filha e assessora às custas dos cofres públicos caberia a funcionários efetivos da Câmara.

Há também a possibilidade de um procedimento político e a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).

Essa circunstância, apesar de prevista pela Câmara, dificilmente seria implantada, já que o o vereador acusado é do PMDB, partido que conta com quatro dos 10 vereadores na casa.

Assim, uma possível votação poderia ter mais votos contrários que favoráveis ao surgimento da CPI.

Assunto comentado em Tubarão

A polêmica denunciada pelo programa Fantástico no domingo teve forte repercussão em Tubarão. Apesar de o escândalo ter sido divulgado em todo o país, o clima foi de tranquilidade na Câmara de Vereadores.

Pereira passou a segunda-feira concedendo entrevistas e prestando esclarecimentos. Ele garante que não abandonou o curso para fazer turismo, mas o flagrante mostra que a versão do vereador apresenta contradições.

As imagens do grupo se divertindo na água ou debaixo do guarda-sol na areia começaram a ser registradas por volta das 9h55min. Pereira, a esposa, filha e assessora Sinara Antunes permaneceram no balneário até pelo menos 13h. Surge, então, o desencontro de informações.

O vereador garantiu que só deixou Recife para ir à praia depois das 11h, quando o curso havia encerrado e todos os participantes ganharam a tarde livre, embora a programação do curso tivesse palestra a partir das 14h30min. O trajeto de 80 quilômetros até Porto de Galinhas foi feito de táxi e levou mais de uma hora.

A viagem a Recife é "recheada" de outras explicações, e a primeira aconteceu logo na chegada. O curso se iniciou dia 1º de julho, mas o vereador e a assessora só apareceram no hotel onde acontecia o evento no dia seguinte.

— Tivemos atrasos no voo e outros imprevistos. Na manhã seguinte, um rapaz me arrancou uma correntinha de ouro do pescoço e tive de registrar um boletim de ocorrência na delegacia de polícia — acrescenta o vereador.

Na segunda-feira, 5, mais um passeio justificado. Pela manhã, foram feitas as entregas dos certificados e à tarde, já sem curso, o grupo de Tubarão foi conhecer o Mercado Público de Recife.

Inocência

Jarrão, como Pereira é conhecido na cidade, garante ter frequentado o evento no qual se inscreveu em Recife (PE) e que a frase "eu não vim para fazer curso de vereador, eu vim passear" foi dita em tom de brincadeira durante o horário do almoço, em frente ao hotel onde estava hospedado.

O vereador juntou uma série de documentos que, segundo ele, comprovam que as despesas da esposa e da filha foram pagas do próprio bolso e não pelo Legislativo de Tubarão.

— As passagens da minha esposa foram trocadas por pontos acumulados no programa de fidelidade da empresa aérea, e os bilhetes da minha filha foram adquiridos em uma agência de turismo e parcelados em quatro vezes no cartão de crédito — afirma o vereador, que já está no quarto mandato seguido.

A prova de que não fez mau uso do dinheiro público durante o curso, segundo Pereira, está no fato de que sabia da presença de um jornalista disfarçado de assessor no evento.

— Uma das funcionárias me disse "olha tem repórter aqui e é bom vocês tomarem cuidado com o que fazem". Portanto eu sabia que alguém estava de olho, e os passeios que fiz na praia foram nos horários livres do curso — afirma.

A frase polêmica que indica o turismo bancado pelo curso de vereador surgiu num diálogo em frente ao hotel, pouco depois das 11h do dia 2 de julho.

— Eu conversava com o rapaz que se disse assessor de um vereador do Sul e como somos da mesma região batemos um papo descontraído. Falamos de vários assuntos e numa brincadeira falei aquilo, mas sem maldade nenhuma, apenas uma brincadeira  —conta Geraldo Pereira.

Vereador já foi condenado

O vereador Geraldo Pereira já teve seu nome envolvido em outra denúncia. Em 2009, ele foi condenado à prisão pela Justiça Federal por um esquema de fraudes praticadas contra o INSS.

Pereira recorreu da sentença e aguarda uma decisão do Tribunal Regional Federal de Porto Alegre. Vereador por quatro mandatos consecutivos e presidente da câmara em 2007, ele nunca havia se envolvido em matérias polêmicas no Legislativo até o ano passado.

Segundo a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), uma quadrilha fraudava documentos para conseguir a liberação de aposentadorias na agência central do INSS nos anos de 2002 e 2003.

Os fraudadores diziam para as pessoas que elas tinham direito a uma aposentadoria e pediam documentos e dados pessoais para conseguir o benefício.

Quem comandava o esquema era um homem que mantinha um escritório em São José, na Grande Florianópolis, e se passava por advogado especializado em Previdência Social. O trabalho da quadrilha funcionou durante dois anos e acabou descoberto pela Polícia Federal (PF).

 

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