Na terceira visita que faz ao Estado desde o início do ano, Luiz Inácio Lula da Silva desembarca hoje em Porto Alegre encarnando um duplo papel. Se na parte oficial do roteiro ele terá atividades administrativas, à noite sua faceta cabo eleitoral florescerá em comício das candidaturas petistas de Dilma Rousseff, à Presidência, e de Tarso Genro, ao Piratini.

Ainda que a divisão entre as duas tarefas apareça bem definida nos roteiros elaborados pelo cerimonial do Planalto e pelo PT, a conexão das agendas suscita controvérsia. Afinal, Lula deixa de ser o maior fiador de Dilma durante os compromissos oficiais? Ou ele abandona temporariamente o peso do cargo para pedir votos à afilhada?

A dificuldade de definir uma fronteira entre esses dois papéis é nítida quando se foca na responsabilidade sobre as despesas da viagem. O ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) assegura que o PT banca custos de deslocamento.

– Qualquer atividade que o presidente desenvolva nesses roteiros tem de ser custeada pela campanha – diz o ministro, ressalvando que Lula obrigatoriamente tem de se deslocar no avião presidencial.

Até o início do comício, Dilma e Tarso estarão distantes do afago presidencial, uma vez que, neste ano, candidatos não podem comparecer a inaugurações. No entanto, não é coincidência que Tarso esteja em Santa Cruz do Sul quando Lula estiver por lá. Oficialmente, a campanha do ex-ministro afirma tratar-se de uma agenda rotineira, mas líderes do partido confirmam a intenção de “criar um clima petista”.

Quanto mais Lula conseguir evidenciar as conquistas de seu governo – e este será o norte de sua passagem pelo Estado –, mais conseguirá transferir para Dilma parte de seu sucesso, afirma um interlocutor da ex-ministra.

– O comício será o maior ato da campanha de Dilma até agora no país – comemora o coordenador de Assuntos Institucionais da campanha de Tarso, Cícero Balestro.

Ontem, a assessoria do Planalto divulgou um outro compromisso para Lula. Embora o governo federal nada tenha investido na reforma, o presidente vai acionar uma máquina no Beira-Rio, simbolizando o início das obras de restauração do estádio (leia mais na página 50).

Em oito anos, 31 viagens ao Estado

Lula estará hoje pela 31ª vez no RS desde 2003. No segundo mandato, é a 10ª viagem. O presidente já visitou o Estado por causa da morte de um amigo, o ex-deputado Adão Pretto (PT), e por conta de um casamento, o da filha de Dilma Rousseff.

Lei impede presença de candidatos

Antes de disputar um lugar ao lado de Lula durante passagem pelo Estado, os candidatos devem estar atentos às novas regras eleitorais.

Qualquer concorrente está proibido de comparecer a inaugurações desde 3 de julho. A regra não vale para governantes não candidatos. Especialistas, no entanto, interpretam que a proibição também vale para o lançamento de obras.

– A proibição existe para que um candidato não possa usufruir para si de vantagem de um projeto público – explica o ex-ministro do TSE, Torquato Jardim.

Elogios de Lula a Dilma durante evento em Brasília, no dia 13, também estão na mira do MP Eleitoral. A vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, apura se Lula usou a máquina para promover sua candidata – o que configuraria abuso do poder político e econômico.