| 21/07/2010 03h44min
Numa época em que cada vez mais celebridades (ou melhor, subcelebridades) se candidatam a cargos públicos, o Kzuka foi procurar quem são os jovens que buscam novas formas de fazer política. De onde vem a galera que pode renovar um cenário dominado pelos adultos? Por onde chegam até esse mundo para o qual muitos outros jovens dão as costas?
Conversando com as alas de jovens de alguns dos principais partidos políticos no Estado, o Kzuka comprovou que o movimento estudantil ainda é a principal porta de entrada para a vida pública, mas há novos caminhos sendo traçados pela gurizada. Na periferia, por exemplo, o movimento hip hop é responsável por formar novos líderes jovens e levá-los para os partidos, como o que ocorreu com o grafiteiro cuja história você vai conhecer nestas duas páginas.
De uma realidade social oposta, se destaca uma galera que tem sua base na rede de contatos que vão construindo desde o colégio. Sabe aquele amigo que chega numa festa e cumprimenta todo mundo? É o famoso “cara popular”. Certamente você já chamou esse amigo de vereador, não? Para alguns, esse apelido acaba se tornando muito mais do que uma brincadeira: uma candidatura de verdade, por exemplo.
Há ainda os jovens que chegam à política depois de se dedicarem a ONGs e a trabalhos voluntários. Desiludidos com a política tradicional, encontram nessas frentes uma maneira de fazer sua parte e ver um resultado mais imediato. Acabam se voltando para a política ao perceberem que é necessário – e possível – renovar a cena e fazer crescer a representatividade da juventude. E os partidos apostam nessa galera, já que é uma forma eficaz de renovar seus quadros.
Jefferson aposta no grafite para despertar os jovens
Jefferson Almeida da Silva, 26 anos, é respeitado no Rubem Berta, bairro onde foi morar depois de dois anos alternando noites em albergues e em parques da Capital. Militante da Nação Hip-Hop Brasil, o grafiteiro vive do talento, sonho que jamais abandonou.
– Eu era um albergado, mas não precisava parecer ou me vestir como um. As pessoas se acomodam nas ruas. Eu não. Sobrevivi catando garrafa PET e usando a grana para comprar porta-retratos de R$ 1,99 para fazer quadrinhos com meus desenhos – conta.
Nascido na periferia de Porto Alegre, TR One, apelido pelo qual Jefferson é conhecido entre a turma do hip hop, dá oficinas para alunos em espaços cedidos por escolas públicas. Algumas aulas são financiadas com dinheiro público, e outras, pagas pelos estudantes.
Foi por meio do hip hop que TR chegou à política. Assistindo à TVE-RS, conheceu White-Jay, arte-educador, militante do hip hop e integrante do PC do B. TR se tornou militante do partido e, através da arte do grafite, busca desenvolver no jovem o interesse político.
– O hip hop aceita gente de qualquer partido ou apartidários mesmo. O objetivo é levar informação para a periferia – explica ele.
O desafio do professor que tem apenas o Ensino Fundamental completo é despertar o interesse dos oficineiros por política e cidadania. Nas aulas, TR explica aos alunos a diferença entre pichação e grafite. Nascido marginalizado, o grafite busca hoje respeito dentro da arte, destaca TR, que sempre busca autorização para seu trabalho:
– Nas oficinas, apresento a diferença entre os dois caminhos. Cada um escolhe o seu.
Gabriela quer biólogos na política
Gabriela Carolina Cattani Delord, 25 anos, entrou no Greenpeace pensando na causa verde, mas acabou sendo carregada para a política. Trabalhando em um projeto da ONG, em contato direto com a população carente da Capital, a bióloga percebeu a carência de pessoas da sua formação entre os políticos:
– Não adianta fazer um monte de abaixo-assinado se nenhum político se interessa. Precisamos de representatividade, de gente que tenha conhecimento na área – diz.
Com base nesta conclusão, Gabriela, que é filiada ao PV, se candidatou à Câmara de Porto Alegre na última eleição. “Fica difícil preservar o meio ambiente sem biólogos na política” se tornou seu slogan de campanha. O interesse pela questão ambiental começou quando a jovem fez estágio na Secretaria Municipal de Saúde. Sim, na Saúde. E essa é uma das lições que tentou divulgar na campanha de 2008.
– Ambiente também é saúde pública, é higiene – diz ela.
No seu trabalho de educação ambiental, tentou atingir os papeleiros. Ao deparar com uma certa resistência a mudanças, passou a direcionar seus esforços aos filhos dos catadores.
– É mais fácil fazer o jovem compreender a importância de se preservar o ambiente. Por isso, procuro até hoje trabalhar com os mais novos – explica ela.
Durante sua campanha, Gabriela também encontrou resistência entre os eleitores. Lembra que pessoas se aproximavam pedindo ajuda para pagar contas de luz. Percebeu que a questão ambiental não era prioridade para ninguém. Com um gasto de R$ 250 e a ajuda de alguns amigos, fez 500 votos.
– Para o partido, não consegui levar ninguém. Poucos jovens querem saber de política, apesar de eu ter visto crescer o interesse do jovem pelo tema – lamenta.
Guiga forma “líderes para a sociedade”
Conhecido como Guiga, Guilherme Narcizo, 21 anos, fez o caminho inverso ao de políticos famosos: passou pelo movimento estudantil e flertou com a política tradicional, mas acabou optando por um outro caminho, o do voluntariado. Ainda assim, segue fazendo política, de um outro jeito.
Hoje, ele trabalha na gestão de voluntários da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga e também é um dos voluntários do Vida Urgente, programa de valorização da vida no trânsito. Além de participar das ações educativas, sua função é ajudar na organização das atividades e na capacitação de novos voluntários.
Guiga passou bem perto da política tradicional. Foi convidado a se candidatar a vereador de Porto Alegre em 2008. Na época, era presidente do grêmio do Colégio Júlio de Castilhos, o Julinho, e filiado ao PSOL.
– Não achei que era o momento certo. O jovem candidato tem de ter autonomia, não pode ser só um mecanismo de eleição de um partido – diz ele.
Resolveu, então, desligar-se da política partidária e apostar no movimento social. Para ele, o voluntariado forma líderes para a sociedade, num resultado mais imediato.
– Somos uma grande parcela da sociedade, que estuda e também trabalha. Não se pode governar apenas para as próximas gerações. Um dos motivos da descrença do jovem na política é ele não se sentir representado. O político tem de ir até o jovem – observa.
O guri tem vontade de voltar ao movimento estudantil quando ingressar na faculdade de Relações Públicas, objetivo que pretende atingir no ano que vem.
E quem já corre atrás dos eleitores
Para alguns jovens, a política já se tornou um projeto de vida. No Rio Grande do Sul, pelo menos 20 deles, entre 21 e 24 anos, concorrem na eleição deste ano, sendo que a maioria quer uma cadeira na Assembleia Legislativa ou na Câmara dos Deputados.
Vinícius Mendes Lima, 24 anos, concorre a deputado estadual. Vini Shock foi o codinome que o tornou um dos mais conhecidos produtores de festas, formaturas e bandas de uma geração de jovens de Porto Alegre. Ele começou aos 15, com uma banda de funk. Para promover o grupo, fez um lançamento que conseguiu reunir 1,5 mil pessoas.
Assim, nasceu a produtora Shock, que, em sete anos, organizou a formatura de 15 mil estudantes. Em meio a isso, formou-se em Administração e foi sócio de casas noturnas. A política surgiu por acaso. A convite de um amigo, participou de uma reunião no PMDB. Chegou lá e conhecia todo mundo.
– A reunião me abriu os olhos e pensei: “por que não ajudar essa galera com a qual eu convivo?”.
Aos 26 anos, a advogada Any Ortiz também quer ser deputada estadual. Ela participou do grêmio estudantil e sempre fez trabalho voluntário. Das amigas, ganhou o apelido “Any vereadora”. Popular e cheia de boas intenções, a guria resolveu levar a brincadeira a sério. Se fosse por Any, o título de vereadora já teria se tornado realidade em 2008. Ela se candidatou ao cargo na Capital pelo PSDB. Não foi eleita, mas também não desistiu:
– Acho que minha decisão foi tomada no momento em que eu, como pessoa física, esbarrei na impossibilidade de fazer o que eu queria pelos outros. Era a sensação de ter as mãos amarradas. Entrando na política, eu conseguiria levar meus projetos adiante.
*Colaboraram Cristiane Rubin e Eduardo Garbi
Fotos: Tadeu Vilani
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