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Eleições  | 02/07/2010 20h35min

Vices fazem a diferença na disputa pelo governo de Santa Catarina

Para fechar alianças e abocanhar mais tempo na TV, partidos negociaram até o último minuto

Cristina Vieira*  |  cristina.vieira@diario.com.br

Diante de um período pré-eleitoral confuso, com alianças definidas de última hora, os cargos de vice-governador também foram usados como moeda de troca entre os partidos para acertar coligações em Santa Catarina.

Os vices de Angela Amin (PP) e Ideli Salvatti (PT) só foram definidos na noite de quarta-feira, última data para a as convenções. Ideli contou que até iniciar seu discurso, por volta de 21h30min, na convenção, ainda aguardava uma resposta dos brizolistas.

O PDT era disputado pelos dois partidos. A oferta de petistas e pepistas era o cargo de vice-governador para, em troca, ter o tempo de TV e a estrutura partidária — menor, mas longe de ser considerada nanica — dos pedetistas.

O fato de sair sem aliança, em chapa pura, também incomodava o PP. Na eleição de 2006, o partido (Esperidião Amin como candidato) coligou apenas com siglas muito pequenas e perdeu a eleição para Luiz Henrique da Silveira, fortalecido com a tríplice aliança (PMDB, PSDB e PFL, hoje DEM).

Angela Amin ofereceu a vaga de vice ao PSDB e ao PDT. Mas, depois da executiva nacional tucana enquadrar o diretório estadual exigindo adesão à tríplice aliança, Angela não teve outro caminho senão fechar com o PDT. Manoel Dias, presidente do partido, foi anunciado como vice na noite de quarta-feira.

— O Manoel se enquadra em duas bandeiras muito fortes nossas, a educação e o emprego. Ele se encaixa perfeitamente ao nosso projeto — argumenta Angela.

O PT, que havia acertado previamente com o PR o cargo de vice, chegou a oferecer a vaga ao PMDB, no momento em que a tríplice aliança era dada como falida, e também ao PDT, que acenava ao PP.

Por outro lado, Ideli sempre defendeu um empresário como companheiro de chapa e que fosse do Norte do Estado. Não queria Dias como vice. Assim, ficou com o PR, com a indicação do empresário Guido Bretzer. O próprio Bretzer admitiu que estava de sobreaviso e que foi confirmado de última hora.

— Santa Catarina é um Estado empreendedor. Não ter um empresário de vice é virar as costas ao Estado — afirmou a senadora.

No caso da reedição da tríplice aliança, a vaga de Eduardo Pinho Moreira (PMDB) foi fundamental para ressuscitar a coligação. Moreira, aprovado nas prévias do PMDB como candidato, se colocou como postulante à cabeça de chapa até junho, quando declarou apoio a Raimundo Colombo (DEM) e retirou sua candidatura. A decisão de Moreira abriu o caminho para selar a tríplice.

Para os demistas, a vaga de vice sempre foi estrategicamente guardada ao PMDB. Maior partido do Estado e maior bancada na Câmara de Deputados, o PMDB traz estrutura de mobilização para ampliar votos e mais dois minutos de tempo de TV.

— No meu caso, não foi moeda de troca. Foi uma decisão particular. Quando vi que estava isolado, não poderia colocar o partido numa concorrência heróica — rebate Moreira.

Candidatura vai à Justiça

A participação de Eduardo Pinho Moreira (PMDB) como vice-governador de Raimundo Colombo (DEM) será mantida, mesmo diante da suspensão de sua filiação do partido feita pelo diretório nacional do PMDB.

Deputado Antônio Ceron, coordenador de campanha do DEM, disse que o nome de Pinho Moreira será enviado à Justiça Eleitoral na próxima segunda-feira, último dia para registro das candidaturas.

— A ação é totalmente defensável juridicamente. Nem estamos discutindo nomes para substituí-lo — disse Ceron.

Moreira também reiterou sua candidatura. Lembrou que foi escolhido na convenção do partido, encontro que é soberano. O candidato afirmou que deve entrar nesta sexta-feira com ação na Justiça Eleitoral de Brasília para anular a decisão do diretório nacional.

— Foi um ato prepotente e arbitrário. Só restou a mim apelar para o caminho de qualquer cidadão, a Justiça — disse Moreira.

Na quinta-feira, o Conselho de Ética do PMDB ratificou a decisão do diretório, suspendendo a filiação de Moreira por 180 dias. Ele tem 30 dias para se defender.

Até o final da tarde de quinta-feira, a decisão do Conselho não tinha chegado no diretório estadual. O próprio Moreira explicou que assim que a decisão chegar ele está automaticamente destituído da presidência do partido. O vice João Matos deve assumir.

O argumento do diretório nacional é de que o peemedebista traiu o partido ao acertar um apoio à presidenciável petista Dilma Rousseff e, dias depois, retirar sua candidatura ao governo do Estado em apoio ao DEM e, automaticamente, a José Serra.

O advogado João Linhares, que atuou no processo de cassação de Luiz Henrique da Silveira que culminou na absolvição do ex-governador, afirmou que o caso é totalmente defensável, porque o diretório nacional não respeitou uma cláusula pétrea da Constituição: o direito de ampla defesa.

Soluções domésticas

Se a definição dos vices das três principais candidaturas obedeceu à lógica das alianças e da busca por tempo no horário eleitoral, entre os menores partidos a solução foi doméstica. Concorrendo em chapa pura, PV, PSOL e PSTU buscaram vices em seus próprios quadros partidários.

Na composição de última hora do PV, Guaraci Pacheco virou a solução na chapa liderada por Rogério Novaes. Com 10 anos de partido, Pacheco sempre atuou nos bastidores, coordenando candidaturas.

A mais bem sucedida delas foi a de Gerson Basso ao Senado em 2006. Aliado ao PP, o candidato verde teve cerca de 260 mil votos e ficou em terceiro lugar, com a maior votação do partido no Estado. Agora, é Pacheco quem vai para a disputa.

— É a minha primeira eleição com a cara na frente — diz o candidato, especialista em religiões de origem africana e em cultura negra.

Critérios de escolha

A mistura da experiência partidária com os estudos sobre raça, gênero e xenofobia são as credenciais de Pacheco, que foi delegado da região Sul nas discussões de elaboração do Estatuto da Igualdade Racial.

— Tenho muito orgulho de dizer que venho do mundo popular.

A questão também foi um diferencial na escolha da vice de Gilmar Salgado, do PSTU. A opção foi Rosângela Barreiros. Fundadora do PSTU catarinense, ela já foi candidata a deputada estadual, a vereadora e vice-prefeita de São José. Longe das urnas desde 2004, foi indicada pelo partido.

— Eu fui escolhida pela necessidade de ter uma mulher, negra e que representasse a classe operária — diz.

Professora aposentada, ela tem na ponta da língua o tempo em que atuou no serviço público estadual.

— 33 anos, 9 meses e oito dias — conta.

O vice do PSOL tem menos tempo de partido. Marcos Soares é filiado desde o ano passado e nunca disputou eleições. É professor de matemática e física em colégios estaduais e municipais em Joinville. Procurado para entrevista, o candidato deixou o telefone celular desligado na hora marcada para a conversa.

*Colaborou Upiara Boschi

Candidatos a vice em Santa Catarina
Eduardo Pinho Moreira (PMDB)
Vice de Raimundo Colombo (DEM), Eduardo Pinho Moreira tem 60 anos, casado e pai de quatro filhos. Cardiologista, com especialização em segurança e medicina do trabalho.

Cargos eletivos: deputado federal por duas vezes de 1987 até 1991 e de 1991 até 1993, prefeito de Criciúma de 1993 até 1996.

Outros cargos: secretário da Casa Civil em 1997, vice-governador em 2002, governador em 2006 por um ano e 20 dias e presidente da Celesc entre 2007 e 2009.
Guido Bretzke (PR)
Vice de Ideli Salvatti (PT), Guido Bretzke tem 41 anos, casado, tem dois enteados. É presidente da Bretzke Alimentos, empresa sediada em Jaraguá do Sul, do ramos de alimentos doces. Entre os principais produtos, estão um achocolatado e sobremesas como gelatina. Preside a Associação Comercial e Industrial de Jaraguá do Sul.

Cargos eletivos: nunca exerceu. Também nunca concorreu em nenhuma eleição.
Manoel Dias (PDT)
Vice de Angela Amin (PP), Manoel Dias tem 71 anos, casado e pai de dois filhos. É advogado e auditor fiscal, atualmente presidente estadual do PDT e presidente interino do PDT nacional.

Cargos eletivos: vereador, em 1964, em Içara, e deputados estadual, em 1969. Ambos os mandatos foram cassados pela ditadura militar. Em 1969, perdeu os direitos políticos por dez anos. Em 1993, foi diretor para a área de Mercosul do Banco do Estado do Rio de Janeiro, no governo de Leonel Brizola.

Eleições disputadas: em 2006 concorreu ao governo do Estado e em 1985 concorreu a vice-prefeito de Florianópolis.
Guaraci Fagundes (PV)
Vice de Rogério Novaes (PV), Guaraci Fagundes tem 36 anos, casado e pai de dois filhos. Estudioso das religiões africanas, ele é filiado ao PV há 10 anos.

Cargos eletivos: nunca exerceu.

Eleições disputadas: é a primeira candidatura. Foi coordenador das campanhas do PV à prefeitura de Florianópolis, em 2000 e 2004, e ao Senado, em 2006.
Marcos Soares (PSOL)
Vice de Valmir Martins (PSOL), Marcos Soares tem 42 anos, casado. Professor de física e matemática nas redes públicas estadual e municipal em Joinville. É filiado ao PSOL desde o ano passado.

Cargos eletivos: nunca exerceu.

Eleições disputadas: é a primeira candidatura.
Rosângela Barreiros (PSTU)
Vice de Gilmar Salgado (PSTU), Rosângela Barreiros tem 54 anos, viúva e mãe de um filho. É orientadora educacional aposentada. Está no PSTU há 15 anos e é uma das fundadoras do partido no Estado.

Cargos eletivos: nunca se elegeu.

Eleições disputadas: foi candidata a deputada estadual em 1998, com 537 votos. Também disputou vaga na Câmara de Vereadores de São José, em 2000, e foi candidata a vice-prefeita do município, em 2004.
 

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