| 28/05/2010 03h37min
O que o Estado tem de especial para os pré-candidatos do PT e do PSDB, que visitaram o Rio Grande do Sul pela terceira vez desde que deflagraram a campanha, no início de abril.
O Rio Grande do Sul será, até o desfecho da eleição para a Presidência da República, um dos redutos mais complexos para as campanhas de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).
Os dois pré-candidatos, que voltaram ao Estado ontem, para participar do 26º Congresso Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, em Gramado, são desafiados por particularidades regionais e um delicado imbróglio representado pelo assédio ao PMDB local.
Olhando de longe, mas sempre atento aos movimentos dos candidatos no Rio Grande do Sul, o cientista político Carlos Ranulfo Melo, da Universidade Federal de Minas Gerais, resume assim a disputa pelos votos dos gaúchos:
– Aí são exacerbadas as diferenças, e se acentua a falta de racionalidade entre alianças nacionais e regionais.
Aqui, em 1994 e 1998, Luiz Inácio Lula da Silva venceu o tucano Fernando Henrique Cardoso – apesar de ter perdido a eleição. Em 2002, Lula também venceu Serra no Estado nos dois turnos. Mas perdeu para outro tucano, Geraldo Alckmin, nos dois turnos de 2006. O quinto colégio eleitoral do país é também o que mostra índices de aprovação do governo Lula abaixo da média nacional.
Ranulfo Melo observa que esta é uma das razões que levaram, em fevereiro, Dilma a procurar aproximar-se do PMDB, em encontro com o prefeito José Fogaça, mesmo que isso significasse constrangimentos para o PT regional:
– Dilma fez o que Serra também iria fazer. Na verdade, o PMDB fez uma aliança nacional em que só vai na boa, pois não há apoios concretos dos peemedebistas nos grandes Estados aos candidatos do PT.
Para o prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, da coordenação da campanha de Dilma, o Estado é decisivo para que a candidatura se consolide, e as ações envolvem também a tentativa de aproximação com o PMDB estadual.
– O projeto (de eleição de Dilma) é maior, extrapola a questão regional – diz Vanazzi, anunciando que, se for convidada, a candidata participará do lançamento da candidatura de Fogaça, assim como estará dia 26 de junho na oficialização do nome de Tarso Genro (PT).
O deputado Claudio Diaz, presidente do PSDB gaúcho e membro do conselho político de Serra, entende que os movimentos são intensos no Estado porque Dilma antecipou a campanha. Diaz prefere não comentar um desses movimentos – a reunião de Serra com deputados do PMDB, na semana passada, que quase provocou uma crise entre peemedebistas e o PDT, aliado de Fogaça na eleição ao governo:
– Este é um problema de Carlos Lupi (presidente nacional licenciado do PDT) com o PMDB. Não vamos fomentar nada, mas cuidar dos nossos coligados.
Diaz não sabe dizer quando Serra voltará ao Estado, porque o tucano decide o que fará com no máximo 48 horas de antecedência.
Petista compara governos
Novata na arte de pedir votos, a candidata do PT ao Planalto, Dilma Rousseff, treinou ontem discursos adaptados a públicos distintos. Após usar uma linguagem simples pela manhã para se aproximar do público popular em entrevista à Rádio Farroupilha, do Grupo RBS, a ex-ministra retomou à tarde as falas técnicas, sua marca registrada, para dialogar com secretários municipais de Saúde em congresso em Gramado.
Recebida com aplausos pelos participantes, a petista comparou ações dos governos Lula e Fernando Henrique na saúde e destacou resultados registrados nos últimos sete anos.
– Assumo o compromisso de consolidar o que deu certo no governo Lula e de avançar o desempenho que o Brasil vive – prometeu Dilma.
Em meio ao discurso de cerca de 50 minutos, interrompido por aplausos, a ex-chefe da Casa Civil aproveitou para defender a política petista de realizar conselhos e as conferências sobre temas de interesse popular:
– No nosso governo, os conselhos e as conferências de saúde têm papel preponderante. Lembro-me de um morador ribeirinho da Amazônia. Perguntaram a ele o que era uma conferência. Ele respondeu: “É para discutir e ver se as coisas estão nos conformes”. Esse é o melhor exemplo para mim quando se trata de discutirmos o que precisa melhorar ou ajustar.
Tucano relembrou ministério
Apesar de ter frustado o público de Gramado na quarta-feira, por conta do cancelamento em cima da hora de sua participação no congresso de gestores municipais de saúde, José Serra foi recebido de forma calorosa na tarde de ontem. Acompanhado por parlamentares do PSDB e do PMDB, o tucano foi aplaudido de pé ao entrar no pavilhão da Expogramado.
Serra tentou ganhar o público com um discurso calculado milimetricamente para agradar aos profissionais de saúde. Durante os 78 minutos de discurso, o ex-governador relatou sua trajetória à frente do Ministério da Saúde, no governo Fernando Henrique Cardoso, e relembrou episódios polêmicos, como o embate com laboratórios para implantar os genéricos no país. Foi interrompido por aplausos do público.
Em tom crítico ao governo, adotado depois que a candidata do PT, Dilma Rousseff, cresceu nas pesquisas, Serra aproveitou a empolgação da plateia para alfinetar a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
– O governo atual não mandou para o Congresso o projeto de lei para regulamentar os recursos da saúde. A proposta que está lá, de iniciativa dos parlamentares, ficou rolando sete anos e meio e não se fez a regulamentação – criticou.
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