| 13/05/2010 18h09min
O delegado Renato Hendges, da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), pediu na tarde desta quinta-feira a transferência de Edson Olegário, ex-prefeito de Camboriú, no Litoral Norte de Santa Catarina. Ele estava detido na carceragem de Deic, em Florianópolis, e foi levado para a Central de Polícia de Balneário Camboriú.
O novo destino de Olegário será definido pelo delegado Eliomar Beber, responsável pelo caso. O ex-prefeito é suspeito de encomendar atentados contra adversários políticos em Camboriú. Por isso, justificou Hendges, ele foi transferido para lá, onde os crimes são investigados.
Entenda o caso
Edson Olegário nega todos os crimes. Ele estava preso na Deic desde terça-feira, depois de ficar algum tempo foragido. Segundo a Polícia Civil, havia dois mandados de prisão preventiva contra o ex-prefeito.
O Diário Catarinense teve acesso ao inquérito policial da Deic que aponta o ex-prefeito como o responsável por crimes entre 2005 e 2008. A investigação sigilosa e complexa reuniu depoimentos, telefonemas e confissões ligando Edinho, por exemplo, à morte de Eneri de Souza, irmão de um dos militantes do diretório do PMDB.
De acordo com a polícia, Edinho encomendava os crimes contra desafetos políticos para impedir investigações de atos de sua administração. Um dos serviços terminou de forma cruel e desastrosa.
Família de vítima fala sobre atentado
O relatório policial aponta que o ex-prefeito teria ordenado a pessoas de sua confiança que contratassem alguém para atirar em Ângelo de Souza (PMDB). O rival político buscava a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Pelo trabalho, o pistoleiro receberia R$ 3 mil. Só que o atirador errou o alvo e matou o irmão de Ângelo, Eneri de Souza, que tinha deficiência física. Por causa do erro, recebeu só R$ 1,5 mil.
— Todos os crimes foram executados com motivação política, tendo como mandante Edson Olegário, para intimidar os vereadores a não dar continuidade na apuração de irregularidades e falcatruas de sua administração. Agiu impulsionado pela impunidade e porque a autoria dos atentados, entre 2005 e 2006, não ficou provada — escreveu o delegado Renato Hendges no inquérito que levou a juíza de Camboriú, Camila Coelho, a decretar a prisão preventiva do ex-prefeito tucano.
De dono de lavação à cadeira na prefeitura
Edinho era dono de lavação. Depois, abriu uma corretora de imóveis. Mais tarde, partiu para negócios na construção civil. Elegeu-se prefeito sem antes disputar qualquer eleição ou ocupar um cargo público.
Aos eleitores, engrandecia a amizade que tinha com o correligionário e atual governador Leonel Pavan (PSDB), ex-prefeito de Balneário Camboriú. Até o dia 28 de abril deste ano, Edinho estava lotado no gabinete de Pavan como assessor executivo. O ato de exoneração saiu após a Justiça decretar sua prisão.
Pela assessoria de imprensa, o governador Leonel Pavan confirmou a amizade com Olegário, mas informou que os atos individuais dele não podem ser relacionados com a atividade de governo e que a exoneração foi tomada para que ex-prefeito de Camboriú cuide de sua defesa com à Justiça.
Em Camboriú, cidade de 57,7 mil habitantes, Olegário morava em uma casa confortável, de dois andares, na rua Acilar Garcia, perto do Centro. Um dos passatempos que tinha era frequentar bingo em Balneário Camboriú.
Foi ali, segundo a polícia, que conheceu alguns seguranças que viriam a se envolver mais tarde com os atentados. De hábitos simples e estilo bonachão, o político gostava de usar chapéus, andava e conversava na praça central. Também participava de festas com amigos no Bairro Monte Alegre. Quando passou a ser procurado, ninguém mais soube do destino do homem que associava poder, desmandos e popularidade.
Suspeita de superfaturamento
As denúncias contra o ex-prefeito Edson Olegário que os vereadores pretendiam apurar envolvem superfaturamento de obras e notas fiscais. As duas principais queixas referem-se à construção de uma ponte no bairro Pequeno e à compra de uma viga para uma creche no bairro Tabuleiro. Os valores alcançariam cerca de R$ 25 mil nas duas situações.
No site do Tribunal de Justiça, consta que Edinho responde a 45 processos. Em um deles, uma ação civil pública que ainda não teve sentença, o Ministério Público o acusa de crime de responsabilidade por comprar para a prefeitura 9.530 selos nacionais no valor de R$ 7,6 mil. Segundo a denúncia da procuradora Gladys Afonso, recebida pela Justiça em 2006, a empresa contratada pertencia, na época, a parentes de servidores públicos municipais. Ele está sujeito à cassação dos direitos políticos e reparação de danos ao município.
Sobre os atentados e a situação do ex-prefeito, o MP não se pronuncia porque o caso está em segredo de Justiça. A promotora que atua na área criminal em Camboriú, Nataly Lemke, disse que irá denunciar Edson Olegário e os outros envolvidos.
Pelo menos nove pessoas foram presas até agora pela Deic. Entre os delitos estão cárcere privado, roubo, tentativa de homicídio, homicídio, danos, ameaça e formação de quadrilha.
Dos vereadores alvos dos atentados em Camboriú, Claudinei Loos é o único que continua na política.
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