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 | 09/05/2010 00h25min

Inquérito aponta ex-prefeito de Camboriú como mandante de atentados contra vereadores

Edson Olegário, o Edinho (PSDB) está foragido

Atualizada às 14h24min Diogo Vargas  |  diogo.vargas@diario.com.br

Foram pelo menos 32 tiros em 11 ataques. Um inocente foi assassinado. Um vereador de oposição teve a casa invadida e a mulher dele foi feita refém por quatro horas. Políticos rivais também recebiam ameaças pelo telefone ou por motociclistas rondando seus lares. A violência e os recados teriam como objetivo a intimidação.

A Polícia Civil afirma que as cenas de faroeste em Camboriú, no Litoral Norte de Santa Catarina, tinham como mandante o ex-prefeito Edson Olegário, o Edinho (PSDB). O político, conhecido pelo estilo populista, foi declarado foragido da Justiça e é procurado por suspeita de ordenar os atentados registrados na cidade.

Família de vítima fala sobre atentado

O Diário Catarinense teve acesso ao inquérito policial da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) que aponta o ex-prefeito como o responsável por crimes entre 2005 e 2008. A investigação sigilosa e complexa reuniu depoimentos, telefonemas e confissões ligando Edinho, por exemplo, à morte de Eneri de Souza, irmão de um dos militantes do diretório do PMDB.

De acordo com a polícia, Edinho encomendava os crimes contra desafetos políticos para impedir investigações de atos de sua administração. Um dos serviços terminou de forma cruel e desastrosa.

O relatório policial aponta que o ex-prefeito teria ordenado a pessoas de sua confiança que contratassem alguém para atirar em Ângelo de Souza (PMDB). O rival político buscava a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Pelo trabalho, o pistoleiro receberia R$ 3 mil. Só que o atirador errou o alvo e matou o irmão de Ângelo, Eneri de Souza, que tinha deficiência física. Por causa do erro, recebeu só R$ 1,5 mil. 

— Todos os crimes foram executados com motivação política, tendo como mandante Edson Olegário, para intimidar os vereadores a não dar continuidade na apuração de irregularidades e falcatruas de sua administração. Agiu impulsionado pela impunidade e porque a autoria dos atentados, entre 2005 e 2006, não ficou provada — escreveu o delegado Renato Hendges no inquérito que levou a juíza de Camboriú, Camila Coelho, a decretar a prisão preventiva do ex-prefeito tucano.

De dono de lavação à cadeira na prefeitura

A condição de foragido é o pior capítulo do político que viveu ascensão popular e social. Edinho era dono de lavação. Depois, abriu uma corretora de imóveis. Mais tarde, partiu para negócios na construção civil. Elegeu-se prefeito sem antes disputar qualquer eleição ou ocupar um cargo público.

Aos eleitores, engrandecia a amizade que tinha com o correligionário e atual governador Leonel Pavan (PSDB), ex-prefeito de Balneário Camboriú. Até o dia 28 de abril deste ano, Edinho estava lotado no gabinete de Pavan como assessor executivo. O ato de exoneração saiu após a Justiça decretar sua prisão.

Pela assessoria de imprensa, o governador Leonel Pavan confirmou a amizade com Olegário, mas informou que os atos individuais dele não podem ser relacionados com a atividade de governo e que a exoneração foi tomada para que ex-prefeito de Camboriú cuide de sua defesa com à Justiça.

Em Camboriú, cidade de 57,7 mil habitantes, Olegário morava em uma casa confortável, de dois andares, na rua Acilar Garcia, perto do Centro. Um dos passatempos que tinha era frequentar bingo em Balneário Camboriú.

Foi ali, segundo a polícia, que conheceu alguns seguranças que viriam a se envolver mais tarde com os atentados. De hábitos simples e estilo bonachão, o político gostava de usar chapéus, andava e conversava na praça central. Também participava de festas com amigos no Bairro Monte Alegre. Mas há duas semanas, quando passou a ser procurado, ninguém sabe mais do destino do homem que associava poder, desmandos e popularidade.

Suspeita de superfaturamento

As denúncias contra o ex-prefeito Edson Olegário que os vereadores pretendiam apurar envolvem superfaturamento de obras e notas fiscais. As duas principais queixas referem-se à construção de uma ponte no bairro Pequeno e à compra de uma viga para uma creche no bairro Tabuleiro. Os valores alcançariam cerca de R$ 25 mil nas duas situações.

No site do Tribunal de Justiça, consta que Edinho responde a 45 processos. Em um deles, uma ação civil pública que ainda não teve sentença, o Ministério Público o acusa de crime de responsabilidade por comprar para a prefeitura 9.530 selos nacionais no valor de R$ 7,6 mil. Segundo a denúncia da procuradora Gladys Afonso, recebida pela Justiça em 2006, a empresa contratada pertencia, na época, a parentes de servidores públicos municipais. Ele está sujeito à cassação dos direitos políticos e reparação de danos ao município.

Sobre os atentados e a situação do ex-prefeito, o MP não se pronuncia porque o caso está em segredo de Justiça. A promotora que atua na área criminal em Camboriú, Nataly Lemke, disse que irá denunciar Edson Olegário e os outros envolvidos.

Pelo menos nove pessoas foram presas até agora pela Deic. Entre os delitos estão cárcere privado, roubo, tentativa de homicídio, homicídio, danos, ameaça e formação de quadrilha.

Dos vereadores alvos dos atentados em Camboriú, Claudinei Loos é o único que continua na política.

“Um inocente morreu no meu lugar”

Ângelo Manoel de Souza, alvo dos criminosos 

Ângelo de Souza, 50 anos, do diretório do PMDB, buscava a instalação de uma CPI para investigar Edson Olegário, suspeito de superfaturar obras. A morte dele teria sido encomendada. Mas o matador de aluguel errou o alvo: matou o irmão do político. Confira trechos da entrevista ao DC.

Diário Catarinense – O senhor era o alvo dos atiradores, mas quem morreu foi seu irmão.

Ângelo Manoel de Souza – Eu saí pouco antes (do posto onde houve o ataque). Meu irmão estava sentado na frente de casa. Era um inocente. Morreu sem nunca fazer mal a ninguém.

DC – Por que houve a confusão no posto entre os políticos?

Ângelo – Foram para tirar o adesivo 15 do peito de um dos que estavam lá. Aí um deles levou a mão e disse ‘deixa quieto’. Me chamaram ao local. Cheguei lá e tava aquele alvoroço todo. O Edinho (na época prefeito) tava lá. Eu disse a ele ‘que palhaçada é essa?’ Quando eu ia saindo, ele disse que ‘não ia ficar assim’. Recebi telefonema de ameaça também. Quando chegou no sábado aconteceu (a morte do irmão Eneri).

DC – O que levou à instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito?

Ângelo – Era uma CPI porque eles estavam desviando as verbas de obras. Pediram para eu assinar e eu assinei. Tinha uma viga de R$ 8 mil que custou o dobro. É da ponte que vai para o (Bairro) Rio Pequeno.

DC – Vocês desconfiavam de outras irregularidades?

Ângelo – Sim. Outra viga de creche também. Ele (ex-prefeito) mandou dar tiros em vereador, disse que ia dar surra neles. E depois no posto foi o problema todo porque eu fui lá. A gente pega nojo (da política). Dá a cara para bater e acaba nisso.

Confira ainda:
A lista dos suspeitos
Edson Olegário
Ex-prefeito de Camboriú, apontado como mandante dos ataques. Situação: foragido - Vagner Correia de Souza Ex-secretário de Obras e cunhado de Edinho, teria arquitetado os atentados. Situação: preso na carceragem da Deic, em Florianópolis

Isaías Ferreira de Santiago
Ex-segurança de bingo e do filho de Olegário, atuaria na contratação dos executores dos crimes. Situação: preso na carceragem da Deic, em Florianópolis

Marcelo de Prado
Ex-presidiário, confessou ter invadido a casa do vereador Claudinei Loos Situação: preso no presídio de São Cristóvão do Sul

Guilherme Nelson de Souza Fernandes
Ex-policial militar e ex-segurança de Olegário, teria encomendado um dos atentados contra os vereadores Situação: preso em Balneário Camboriú

Uilian Estevam da Silva
Teria participado de um dos atentados contra vereadores Situação: preso em Salvador do Sul (RS)

Ânderson Alves de Souza
Confessou ter atirado e matado Eneri de Souza, irmão de Ângelo de Souza, rival político do ex-prefeito Olegário
Situação: preso em Balneário Camboriú Pelo menos mais três pessoas foram presas temporariamente e estão sendo investigadas pela polícia
Contrapontos
O que diz Edson Olegário

O advogado Roberto Brzezinski Neto, defensor do ex-prefeito, foi procurado de quarta à sexta-feira em seu escritório, em Curitiba, mas não foi encontrado. A reportagem deixou recado, mas ele não retornou as ligações.

A secretária informou que ele estava em compromissos e que não poderia atender. Em habeas-corpus negado pelo Tribunal de Justiça de SC, o advogado afirmou que seu cliente sofre constrangimento ilegal, pois os motivos do decreto da prisão não atendem aos requisitos legais.

A mulher do ex-prefeito conversou com o DC em Camboriú na terça-feira. Ela disse que a família acredita que Olegário seja inocente e que irá lutar para provar isso à Justiça.

Demais suspeitos

O advogado de Vagner Correia de Souza afirmou, em habeas-corpus ao Tribunal de Justiça, que seu cliente sofre constrangimento ilegal pela prisão. Disse que não ficou configurado a participação dele nos crimes apurados, mas apenas a posse de arma em sua casa. Os defensores dos outros suspeitos não foram encontrados
Marcos Porto / 

Crimes envolvendo o ex-prefeito (foto) de Camboriú foram cometidos entre 2005 e 2008
Foto:  Marcos Porto


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