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 | 08/05/2010 04h02min

Noticiário internacional divulga declarações de arcebispo de Porto Alegre

Dom Dadeus falou sobre pedofilia e homossexualidade na sociedade atual

Itamar Melo  |  itamar.melo@zerohora.com.br

A fama de dom Dadeus Grings como arcebispo de declarações extravagantes ultrapassou as fronteiras gaúchas e brasileiras e agora é global. Detentor de um fornido currículo de polêmicas motivadas por frases infelizes, o religioso levou ontem o nome de Porto Alegre a todos os cantos do mundo graças a duas novas pérolas de sua lavra: disse que “a sociedade é pedófila” e que “o adolescente é espontaneamente homossexual”.

– Menino brinca com menino, menina brinca com menina. Só depois, se não houve uma boa orientação, isso se fixa – pontificou.

Proferidas na terça-feira, as insólitas afirmações do arcebispo da Capital tardaram a ultrapassar o âmbito nacional, mas quando o fizeram foi em grande estilo. Propagadas por agências de notícias de peso, como a Associated Press (AP) e a France Presse (AFP), elas pipocaram ontem em jornais e sites noticiosos, na forma de centenas de reportagens alentadas em inglês, francês, alemão, espanhol, holandês, italiano, húngaro, tcheco, polonês – e quase qualquer outra língua viva. Raríssimas vezes, as palavras de um gaúcho foram traduzidas em tantos idiomas. Até a agência oficial de notícias da China, a Xinhua, considerou seu dever informar o mundo sobre o pensamento do prelado. E o Rio Grande do Sul, meio anestesiado por 10 anos de convívio com as opiniões excêntricas de seu bispo, redescobriu o potencial explosivo de dom Dadeus.

Sem as curvas de Gisele Bündchen ou a habilidade com os pés de Ronaldinho, o sacerdote de Nova Petrópolis valeu-se de um desembaraço verbal ímpar e galgou a fama mundial mediante uma mera entrevista. Mas que entrevista. Convocado para ser um dos prelados que falariam à imprensa na abertura da assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília, abriu a boca e ganhou as manchetes. Produziu quase que uma polêmica para cada frase:

1 Disse que a sociedade é pedófila e que os ataques à Igreja por conta de abusos sexuais cometidos por padres são uma tentativa de prejudicá-la

2 Afirmou que há mais pedófilos entre médicos, professores e empresários do que entre sacerdotes católicos

3 Relacionou a homossexualidade com a pedofilia, dizendo que, assim como se fala em direitos homossexuais, se falará em direitos do pedófilo

4 Concluiu que ser homossexual é da natureza do adolescente e que pode se modificar com a orientação adequada

Ontem vieram as reações de médicos e professores. O Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Cpers/Sindicato) e o Conselho Regional de Medicina (Cremers) divulgaram notas lamentando as afirmações, lembrando que elas não têm base científica.

– Ele não tem de fazer comparações. Cada um deve se preocupar com a sua área. Têm chegado muito mais notícias de pedofilia envolvendo padres do que médicos – criticou o presidente do Cremers, Cláudio Franzen.

As frases sobre pedofilia repercutiram, mas o que fez sucesso mesmo foi a declaração de dom Dadeus segundo a qual o adolescente é, antes de tudo, um gay. O britânico Daily Telegraph pôs a afirmação no título e avisou a seus leitores que o bispo é célebre pelos ditos controversos. Lembrou que ele, em duas ocasiões, deu declarações em que minimizava o holocausto judeu sob o jugo nazista.

Catapultado aos holofotes internacionais, o religioso preferiu se refugiar nas sombras. Desde o dia das afirmações, está recolhido aos espaços recônditos da assembleia da CNBB e não dá entrevistas. ZH tem insistido. Ontem, o padre Geraldo Martins, assessor de comunicação da entidade, solicitou que os telefonemas cessassem:

– Vocês de novo? Será que vou ter de mandar uma carta a ZH dizendo que ele não vai atender a imprensa? Ele não vai falar até o fim da assembleia, na quinta-feira.

Isto é dom Dadeus
ENTRADA PROIBIDA
Uma breve antologia das brigas e celeumas do arcebispo
- Quando assumiu a arquidiocese da Capital, em 2000, dom Dadeus trazia de São João da Boa Vista (SP), sua diocese anterior, uma controvérsia das grandes: proibira de entrar na igreja e de comungar uma ex-funcionária que moveu uma ação trabalhista contra a Cúria.
BRIGA COM A JUSTIÇA
- O título do artigo não media palavras: Deus nos Livre dos Advogados. – O grande problema é que se formaram advogados demais, e eles não têm o que fazer – disse em 2000.
A CONDENAÇÃO
- Em 2002, a juíza Andréia do Amaral concedeu liminar a um católico, obrigando a paróquia a realizar um casamento vetado pelo padre. Revoltado, dom Dadeus escreveu um artigo em que definia a decisão como “ignorância supina”. Foi condenado a pagar multa de 84 salários mínimos.
NAS ELEIÇÕES
- Na primeira de uma série de cartilhas, em 2002, dom Dadeus orientava os fiéis sobre o tipo de candidato que deviam evitar: os de partidos com orientação marxista.
AS PROSTITUTAS
- Em 2004, em meio a uma discussão sobre a legalização da profissão de prostituta, dom Dadeus defendeu que as mulheres no ofício deveriam ser confinadas em motéis, porque era importante tornar a cidade limpa e segura.
ATAQUE AOS MÉDICOS
- Em uma cartilha de 2005, o bispo comprou briga com a classe médica, citando uma estatística segundo a qual as mortes por violência, em 2000, chegaram a 1,6 milhão no mundo:
– A cifra das mortes causadas por erro médico e dos que morreram por tomarem remédios receitados por médicos e mais os que terminaram a vida por medicação artificial de própria iniciativa supera, de longe, os dados acima referidos.
JUDEUS REVOLTADOS
- Em entrevista à revista Press & Advertising, no ano passado, o arcebispo criou uma séria crise com a comunidade judaica. Afirmou que católicos e ciganos foram as maiores vítimas dos nazistas, e não os judeus.
– Isso não aparece porque os judeus têm a propaganda do mundo – justificou.

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