| 29/06/2009 21h02min
Um painel realizado nesta segunda-feira no BarraShoppingSul, em Porto Alegre, debateu as consequências e as medidas de prevenção e conscientização sobre o uso do crack, como parte da campanha "Crack, Nem Pensar".
O colunista de Zero Hora Paulo Sant'Ana entrevistou Luis Fernandes Visnieski, 28 anos, que contou que foi viciado em crack por quatro anos. O ex-dependente agradeceu o apoio de sua família, fundamental para que ele superasse a dependência. Ele contou que roubava objetos dos familiares, inclusive de seu filho:
— Eu andava como um mendigo, dormindo na rua e não comia.
O participante do painel também afirmou que poucos de seus amigos que também consumiam a droga sobreviveram:
— Os que não estão nos presídios estão mortos.
Questionado por Paulo Sant´Ana sobre o que aconselha aos dependentes de crack, Luis disse que a força de vontade é o que mais importa. E o que motivou Luis foi seu
filho:
— Quando meu filho me via, ele chorava. Ficava
agarrado na mãe dele, queria correr para os meus braços, mas eu não gostava que ele chegasse perto. Agora ele passa dias lá em casa, faço tudo com ele. O meu filho é tudo para mim, me salvou.
Quando Luis relatou a difícil fase em que tentava se livrar do crack, Pechansky observou:
— À medida que vai ficando mais longe do momento em que parou, vai ficando mais fácil suportar (a abstinência).
O jovem revelou que há dois anos não usa a droga e recebeu parabéns de Cristina Ranzolin, acompanhado de forte aplauso do público presente ao painel.
Confira o primeiro bloco em vídeo:
Mobilização e
tratamento
O presidente do Grupo RBS, Nelson Sirotsky, que abriu o evento, afirmou que a campanha já está atingindo seu objetivo,
mobilizando o Estado. Destacou ainda que a iniciativa não é só do Grupo RBS, mas de toda a sociedade.
— Essa campanha transcende à iniciativa da nossa empresa — disse.
O psiquiatra e diretor do Centro de Pesquisas em Álcool e Drogas da UFRGS, Flávio Pechansky, que tem 27 anos de experiência no tratamento de dependentes químicos, ressaltou que o crack é uma droga especialmente difícil:
— Essa droga chega muito rápido ao cérebro, e seu efeito se dá em poucos minutos, e, em alguns casos, até em segundos.
Ele contou que não conhece nenhum caso de alguém que tenha feito apenas um uso casual dessa droga. Segundo ele, um bom tratamento não pode ser feito em casa e deve ter pelo menos entre seis e oito meses de duração. Pechansky foi enfático ao informar que as chances de recuperação estão no atendimento médico:
— Levem, levem pela mão, pelo pé, pela orelha. As chances de recuperação não estão em casa, mas em um
ambiente profissional. Se tiver de ser contra a vontade, vai
ser. Quando ele estiver recuperado, vai agradecer. É um gesto de salvação.
Confira o segundo bloco:
Medidas do governo contra o crack
O evento teve um breve intervalo e foi retomado com a participação da secretária estadual de Educação, Mariza Abreu, que agradeceu a iniciativa da RBS. Ela afirmou que as iniciativas no Estado ainda são insuficientes.
O secretário estadual da Saúde, Osmar Terra, destacou que essa droga tem um índice de mortalidade muito maior que doenças que deixam a população em alerta:
— O crack mata de cinco a seis pessoas por dia. Fala-se de febre amarela, de gripe A. O crack
mata seis por dia. Nos casos de homicídio, pelo menos a metade são execuções. Isso é a guerra do crack.
Terra
informou que o Estado estima ter hoje entre 50 e 60 mil usuários. Ressaltou também ações do governo do Estado, como a assinatura de convênios com sete comunidades terapêuticas:
— Estamos pela primeira vez colocando recursos em comunidades terapêuticas.
Confira o terceiro bloco:
Importância dos serviços de saúde
Rogério Horta, psiquiatra e professor da Unisinos afirmou que a prevenção passa por todas as fases dos serviços de saúde: atendimento imediato, emergência, existência de vagas em estabelecimentos de saúde, exames complementares, atenção especializada e atendimento continuado.
— O crack exige atenção continuada, exige
continuidade, não tolera tratamento não-intensivo. Não é compatível um atendimento saturado, como é normal no
serviço público de saúde. As drogas estão sendo vendidas até por telentrega, pela internet. Os pais precisam ter controle do acesso à internet — disse.
O promotor Marcelo Dornelles, presidente da Associação do Ministério Público do RS, ressaltou que a legislação trata o uso ou porte de drogas como crime, mas a resposta penal não é a prisão, e sim penas alternativas. Ele explicou que a lei é a mesma para diferentes drogas, independente de sua probabilidade de viciar:
— A lei trata da droga como um gênero.
O painel foi encerrado com relatos permeados por brincadeiras dos apresentadores do programa Pretinho Básico, da Rádio Atlântida e do jornalista de Zero Hora, David Coimbra.
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