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 | 22/06/2011 20h55min

"Tenho certeza que eles estão olhando por mim", diz jogador Dudu do Figueirense

Atleta falou ao DC sobre o acidente que causou a morte amigos e diz que quer continuar carreira

Diogo Vargas  |  diogo.vargas@diario.com.br

O jogador Dudu, do Figueirense, quebrou o silêncio. O atacante conversou com o Diário Catarinense nesta terça-feira sobre o trágico acidente de trânsito da madrugada de domingo, em Florianópolis, em que três amigos e passageiros do carro que ele dirigia morreram. Foi uma entrevista rápida, de cerca de 10 minutos, concedida à tarde no Centro da Capital, na sala de reuniões do escritório de seu advogado, o criminalista André Mello Filho.

Confira a íntegra da entrevista, em áudio
• Em vídeo, algumas declarações do jogador à RBS TV

Dudu estava com o primo e também sobrevivente do acidente, Leonardo Gomes Barbosa, 31 anos, e um amigo de Florianópolis. Aparentava abatimento, foi objetivo nas declarações, mas não se negou a responder a nenhuma pergunta.

• Confira a galeria de fotos do acidente

O jogador usava uma touca na cabeça. Um dos braços está ferido por causa do fogo da explosão no carro. O primo contou que nenhum dos airbags do banco da frente funcionou e não sabia explicar como ele e Dudu saíram com vida.

A caminhonete Vera Cruz dirigida por Dudu, segundo eles, bateu com a lateral traseira no concreto de proteção do poste de sinalização, na Via Expressa Sul, e instantes depois explodiu. Segundo o amigo de Dudu, as famílias dos três mortos, que são do Rio de Janeiro, estão tendo a assistência do jogador para as liberações dos corpos e sepultamentos.

Leia os principais trechos da entrevista:

::: A colisão
— O que eu lembro é que o carro passou numa rampa (desnível do asfalto) e depois eu perdi o controle. Depois daquele momento, eu não lembro mais nada, só do meu primo (Leonardo) me puxando do carro, me retirando. Ele falou que o carro já estava pegando fogo, mas eu não percebi. Nisso, que eu saí do carro, eu corri para tentar salvar os meus outros amigos. Vi um caído na grama, corri para ver ele. Quando eu fui tentar entrar no carro, abrir a maçaneta, não consegui por causa da chama de fogo. Aí ele (primo) mais uma vez me tirou do fogo. Tentei ele. Fiquei desesperado, porque tava apenas com meu outro amigo caído no chão.

::: O resgate
— Não lembro de nada Só lembro dele me puxando e disse: 'Sai, sai. Eu acordei e saí'.

::: A velocidade
— A gente estava retornando para casa. A velocidade era, no máximo, 80 Km/h a 90Km/h. Não costumo correr. Quando o carro bateu no chão eu perdi o controle.

::: O álcool
— Ah, como eu falei para o delegado, né: éramos cinco. Compartilhamos o número que falei para o delegado. Bebemos todos juntos. Não ia beber 10 cervejas e dirigir bêbado. Primeiro, porque é impossível. Pessoal fica cego. Na hora que eu falei para o delegado estava confuso, cabeça aérea, muito nervoso.

::: Os amigos
— Eles chegaram no sábado. São meus amigos desde pequenos. Eu e o Rosemberg jogamos juntos desde pequenos no América (RJ), desde criança. Começamos juntos no futebol. Eu consegui a minha carreira, eles pararam para estudar, não deram tanta sorte. Mas estavam trabalhando, tendo o sustento deles. Eu pedi a eles para fazer a companhia para mim, como eu pedi para o meu primo. Porque eu estava aqui sozinho, minha esposa estava em Tenerife (Espanha) com a minha família. Eu me sentia muito só. Como eles são amigos, pessoas confiantes, nossa família sempre se reunia, fazia as coisas juntos, eu pedi a eles para virem passar o final de semana comigo. Infelizmente aconteceu essa tragédia.

::: A habilitação
— Eu saí do Brasil em 2004 e retornei em 2009. Em setembro de 2009 eu entrei na autoescola, só que em janeiro (2011) me mudei para Florianópolis, fui contratado pelo Figueirense. Mas eu estava fazendo autoescola, mas tive que vir para cá.

::: O processo das mortes
— Foi fatalidade. Não fiz por querer. Não queria que isso acontecesse. Infelizmente eu estava junto com eles. Agora é esperar para ver.

::: As outras multas
— Eu estava fora do Brasil. Como podem ser minhas? A de Florianópolis sim, na ponte. Eu tava passando mal e ia para o hospital.

::: Futebol
— Primeiro vou tentar resolver da melhor maneira possível esse processo. Já conversei com familiares deles (amigos que morreram). Os familiares me entendem, sabem como é a minha índole, como eu fui criado, que nossa amizade sempre foi acima de tudo. Então vamos ver pela Justiça como eles vão interpretar.

::: Florianópolis
— Eu vou esperar. Quero continuar trabalhando. De maneira alguma vou fugir, porque tenho família, tenho meu nome a honrar, o meu nome a zelar. Com certeza quero ficar e resolver essa questão. A única coisa que eu posso fazer por eles é dar ainda mais orgulho do que eu já vinha dando esse período, jogando o meu futebol (...) eles sempre me quiseram ver no auge (...) eles sempre quiseram fazer também, mas que infelizmente não conseguiram. Tenho certeza que eles estão olhando por mim também para continuar fazendo o meu trabalho.

::: O afastamento do elenco principal
— Não sei também o motivo. Deve ser motivo interno deles. Até entendo o motivo de estar afastado, mas estava trabalhando (...) talvez eventual cartão amarelo (...) então continuei trabalhando, fazendo o meu trabalho normalmente até que pintasse alguma outra equipe. Vou continuar fazendo a mesma coisa, continuar trabalhando e esperar alguma coisa aparecer para mim, se Deus quiser.

Como foi o acidente

Eram por volta de 3h30min da madrugada de domingo. Eduardo Francisco da Silva, o Dudu, 31 anos, jogador do Figueirense, dirigia a caminhonete Hyundai Vera Cruz pela Via Expressa Sul (sentido Aeroporto/Centro de Florianópolis). Tinha ido levar uma amiga no Sul da Ilha depois de uma festa numa cervejaria no Bairro Kobrasol, em São José.

Dudu não tem carteira de motorista. Ele perdeu o controle do veículo e bateu contra o muro de proteção de um poste de sinalização.

O carro explodiu. Morreram no acidente Emerson Neves, Rosemberg Martins Espírito Santo e Edemilson Félix Moreira. Os corpos de Emerson e Rosemberg foram carbonizados.

O jogador do Figueirense foi autuado por homicídio culposo (sem intenção de matar), pagou fiança e foi liberado. Ele não fez o teste de bafômetro.

 
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