Pouco depois das 18h, uma cena para a história. Em meio à tensão que cerca a disputa de penalidades, a cordialidade entre Falcão e Renato desviou o foco das câmeras dos jogadores para os técnicos. Um fraterno abraço, algumas frases ao pé do ouvido entre os ídolos maiores de Inter e Grêmio. A despeito do resultado, que agradou aos colorados, os donos das casamatas da Dupla saíram como vencedores à parte. Cada um a seu modo, viveram intensamente as emoções do Gre-Nal 387.

>> Confira a crônica da partida decisiva
>> Veja como foi o Gre-Nal que decidiu o título
>> Confira fotos do jogo
>> Ouça os gols da partida
>> Inter comemora em restaurante da Capital

Durante a semana, muito se falou sobre a possível falta de vibração de Falcão à beira do campo durante os jogos, mais explicitada após a derrota no Gre-Nal do Beira-Rio. O técnico promete não mudar o seu jeito de comandar. Mas, pelo que se viu no Olímpico neste domingo, algo de diferente aconteceu no vestiário colorado antes do clássico.

Leia mais
> O que disse Falcão na entrevista coletiva

Um Falcão pronto para a batalha. Foi assim que o técnico se revelou ao encarar a torcida do Grêmio, que o provocava na entrada dos times em campo. Com o semblante duro e imutável, dirigiu-se aos gremistas e ali ficou, postado à frente da massa azul, suportando os impropérios. Focado como nunca, Falcão aguardava a bola rolar.

Foto: Diego Guichard

Durante a partida, notou-se um Falcão mais presente à beira do gramado, vibrando mais com os gol e até, por vezes, ignorando a área técnica e colocando os pés no campo. Aos 27 minutos, um momento emblemático para o técnico. Zé Roberto invadiu a área e foi derrubado por Victor. Pênalti. Bastou Leandro Vuaden assinalar a infração para os jogadores próximos à linha lateral cobrirem Falcão de abraços. Isso que nem havia sido confirmado o gol. Kleber se mostrou como um dos mais entusiasmados.

Fim de jogo, título confirmado e Falcão deixa o palco da conquista e ruma direto ao vestiário. Não fica para a festa no palanque montado no centro do campo. Seria o retorno daquele Falcão mais passivo? Nada. Ao surgir na entrevista coletiva, não controlou a emoção e optou por um tom de desabafo nas respostas. Olhos marejados, fala difícil. Chegou até a engasgar em alguns momentos.

Foto: Diego Guichard

— Estou feliz pela torcida, porque eles acreditaram em mim — elogia, para depois frisar que o sucesso não vai amainar a sede desse novo Falcão por mais triunfos: — Isso não vai nos anestesiar.

Assim como Falcão, Renato também buscava seu primeiro título no clube do coração como técnico. Para o gremista, não deu. Durante a partida, no entanto, não faltou vibração para ele. Seguiu sua linha explosiva, sobretudo quando via um atacante perdendo gols inacreditáveis.

Leia mais
> O que disse Renato na entrevista coletiva

Foto: Ricardo Duarte

Logo após o gol de Lúcio, Júnior Viçosa teve a chance do 2 a 0, mas chutou sobre Renan. A bola foi a escanteio, já o pé de Renato procurou a garrafa d'água mais próxima para descontar seu desespero.

Mas ele parou, freou o instinto e poupou a pobre garrafinha do erro fatal de seu centroavante. Talvez o instinto paternal tenha amainado o coração de Renato, que acompanhou toda a disputa de pênaltis abraçado à filha Carolina. A garota veio especialmente para ficar ao lado do pai neste momento decisivo.

Foto: Tatiana Lopes

Se buscou parecer menos irritadiço em campo, na entrevista coletiva Renato dispensou cerimônias. Assim como fizera no último domingo, chorou e se colocou no lugar do torcedor comum, provavelmente dolorido após a derrota no clássico.

— O torcedor está de parabéns pela festa que fez, pelo incentivo. É lógico que o sentimento do torcedor é o meu sentimento. Não é por eu ser só gremista, é porque o grupo merecia, preparei o grupo para ser campeão — lamentou Renato, um campeão ao menos no fairplay, assim como Falcão, dois exemplos da boa rivalidade Gre-Nal.