O local da partida entre Cruzeiro e Grêmio pelas semifinais da Taça Farroupilha virou motivo de discussão após o técnico Renato indicar que o Tricolor não jogaria no Passo D’Areia. O estádio do São José, de grama artificial, foi escolhido inicialmente pelo mandante para sediar a partida, já que o Estrelão não apresenta condições de estrutura e capacidade para atender a uma disputa de alto grau de atração de público e imprensa. Enquanto o Grêmio se preocupa com lesões ligamentares e o tempo de recuperação dos atletas após o jogo no piso sintético, o presidente do Cruzeiro se dispõe a dividir o Passo D’Areia com o adversário para treinos e a empresa responsável pela implementação do gramado garante que o piso sintético reduz o risco de machucados, em vez de aumentar.

Foto: Jean Schwarz

O departamento médico do Grêmio não recomenda a disputa em gramado artificial, porque acredita que o piso eleva o risco dos jogadores sofrerem lesões ligamentares. Segundo o médico Paulo Rabaldo, o piso sintético aumenta o atrito entre a chuteira e o solo. Essa desaceleração mais rápida no movimento do pé pode promover a ruptura de ligamentos, principalmente do joelho e do tornozelo.

— Se você der o carrinho em uma grama normal, escorrega três metros. Na grama sintética, não passa de um — explica Rabaldo.

— O grande problema do sintético é a aderência entre a chuteira e o solo. É mais fácil prender o pé e girar o tornozelo ou o joelho. Diversos atletas referiram isso — concordou o médico do Inter Guilherme Caputo.

Caputo atendeu Sorondo quando o zagueiro se lesionou no gramado do Passo D’Areia. Além de fraturar a clavícula ao cair, o atleta rompeu o ligamento cruzado do joelho direito no mesmo lance. O médico acredita que a grama sintética possa ter contribuído, mas afirma que seria impossível determinar a causa exata da lesão.

Além do temor em relação às lesões, a direção do Grêmio se preocupa com o tempo de recuperação necessária após o jogo. Segundo Rabaldo, após a vitória por 3 a 0 contra o Porto Alegre, pela Taça Farroupilha, os atletas reclamaram de dores, embora não fossem constatadas lesões. Por isso, o departamento médico prolongou as atividades regenerativas no dia seguinte.

A Gramados Sintéticos Assessoria Esportiva, responsável pela instalação no Passo D'Areia, admite que atletas que não estão acostumados com a grama artificial podem se recuperar mais demoradamente. Diretor da empresa responsável pela implementação do gramado, Christian Truda assegura que, em uma semana de prática, os jogadores do São José já estavam adaptados. Essa necessidade de adaptação levou o presidente do Cruzeiro, Dirceu de Castro, a pedir um período de treinamento no estádio.  

Truda afirma que existe uma barreira psicológica quanto à inovação da grama artificial. De acordo com Truda, a única lesão ocorrida no gramado artifical do estádio foi a do zagueiro colorado Sorondo, por motivos – segundo o empresário – alheios ao gramado.

Truda afirma ainda que testes da Fifa mostrariam o contrário: o piso sintético reduz a possibilidade de lesão ligamentar. Isso porque todo gramado homologado pela entidade passa por diversos testes de segurança, com fatores como impacto, deslize da chuteira na grama e resistência rotacional. As verificações no estádio do São José foram realizadas no dia 24 de fevereiro, por dois técnicos do laboratório holandês ISA Sport, empresa independente que presta serviço à Fifa.

— Se times da Champions League podem jogar na grama sintética, por que o Grêmio não pode?

Visando à preservação dos atletas, o Grêmio se reuniu com o Cruzeiro para tentar demovê-lo da decisão de disputar a partida no Passo D'Areia. De acordo com a Federação Gaúcha de Futebol, o clube mandante precisa enviar o ofício formalizando sua decisão ainda nesta segunda-feira.

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