Horas antes de seu retorno à casamata colorada, Paulo Roberto Falcão era um poço de tranquilidade. No saguão do hotel Blue Tree, onde a delegação do Inter estava concentrada, ele leu jornal, conversou com repórteres e deu autógrafos a fãs. Até se permitiu uma ida ao salão de beleza para passar um gel nos cachos. Toda essa serenidade Falcão levou para a sua palestra antes da partida contra o Santa Cruz neste sábado, e impressionou jogadores e dirigentes em 32 minutos de conversa.

Conversa, sim. Muito longe do tom professoral e unilateral, Falcão pediu a participação dos jogadores. Queria saber de seus comandados sugestões e opiniões sobre a melhor forma de enfrentar a decisão que estava por vir no gramado. Com pouco tempo de treinos, quatro dias, o jeito foi ajustar detalhes na base da conversa.

— Repassei a eles o que trabalhamos na semana, revimos algumas situações de jogadas ensaiadas — disse Falcão, após o jogo.

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O capitão Bolívar, os laterais Nei e Kleber e o meia D'Alessandro foram os mais participativos, segundo o vice de futebol Roberto Siegmann, que saudou a maneira serena e democrática com que Falcão começou o seu trabalho no Inter.

— É conhecida a qualidade do nosso grupo de jogadores. E o Falcão parece dar todas as condições e todo o respaldo para os atletas renderem o seu máximo — comenta o dirigente.

Um time "falante" já era possível de ser visto nos treinos. Os jogadores debatiam entre si as mudanças do professor. Buscavam corrigir posicionamento e entender as jogadas ensaiadas.

Mesmo com a tensão pré-jogo, houve até momentos de descontração durante a preleção. E partiu de Andrezinho, que mais tarde seria eleito o melhor em campo pela Rádio Gaúcha. Ao falar sobre jogadas de bola parada, Falcão disse: "De 10, eu guardava 9". Andrezinho riu, o chefe viu e o questionou. Andrezinho retrucou: "E eu, de 10, guardo as 10".

— Ele sabe o que o jogador pensa — elogiou o meia na entrevista depois da vitória. — Ele passa uma tranquilidade impressionante para os jogadores. Isso te dá mais confiança. Os jogadores têm que acreditar. Quando eles acreditam, podem atuar em qualquer esquema.

Falcão também se mostrou sereno à beira do campo. Sem berros ou reprimendas, o técnico optou por passar as orientações ao pé do ouvido, com fala mansa. Explosão mesmo só com o gol de Damião, aos 32 minutos do primeiro tempo. Braços ao alto, grito incontido. E, claro, com um abraço do artilheiro para selar um novo jeito de comandar.