Maycon recolhe a bola no meio-campo, aciona Lima na ponta esquerda. O lateral chega ao fundo e cruza no primeiro poste. Veloz, Léo se antecipa ao zagueiro e torneia de cabeça, para as redes. Até 19 de fevereiro, esse lance poderia ter acontecido no Beira-Rio ou em algum campo acidentado do Interior, pelo Gauchão. Mas, com o fim do Inter B após a eliminação da Taça Piratini, boa parte dos jovens do grupo foi emprestada para times de médio porte espalhados pelo país.

O trio citado rumou ao Paraná Clube, que luta para voltar à elite do Brasileirão (o gol descrito abriu o caminho da vitória sobre o Rio Branco, em 9 de março, pelo Paranaense). Até o momento, poucos brilham, a maioria ainda busca seu espaço nos clubes. A versão 2011 de aspirantes fracassou, não conseguiu encontrar o seu Leandro Damião, hoje um jogador de Seleção Brasileira. Léo é a agradável exceção, mesmo que longe do Beira-Rio.

Relembre:
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Sem oportunidades com Enderson Moreira, Léo já estava negociado antes das quartas de final contra o Cruzeiro. O atacante soube da derrota que mudou os rumos do Inter na temporada ao acessar o site do oficial do clube, numa daquelas manhãs frias de Curitiba, que teimava em contrariar o verão brasileiro. Titular no Paraná, Léo é o jogador mais bem sucedido dos 15 garotos emprestados na reformulação encabeçada pelo vice-presidente de futebol Roberto Siegmann. Em cinco jogos, três gols — sendo dois no último domingo contra o Roma. Destaque na base colorada como jogador de flanco, hoje Léo se redescobriu como centroavante, apesar dos 1m79cm.

Foto: Paraná, Divulgação

Desde que saiu do Joinville em 2008 para viver o sonho de um clube grande, é a primeira vez que Léo deixa vazio o apartamento da Avenida Padre Cacique. Agora, aos 20 anos, ele reside um pouco mais longe do estádio — sua nova morada fica a 15 minutos da Vila Capanema. Mas, por feliz coincidência, está bem perto de sua família. Seus pais vivem em Adrianópolis, a 120 km de Curitiba.

— Perto dos pais fica ainda mais prazeroso — comemora Leo ao telefone, à porta do vestiário.

Além da transferência de clube, casa e Estado, Valério Gomes dos Santos também lidou com mudanças no próprio Paraná. Com uma semana na Vila Capanema, vivenciou a troca no comando, com a saída de Roberto Cavalo e a contratação do técnico Ricardo Pinto. Vinculado com o Inter até 2014, Léo só quer saber de novas guinadas na carreira ao fim do ano, quando o futuro vai lhe apontar novos caminhos. Voltar ao Inter? Renovar com o Paraná? O atacante se exime da resposta.

— Vamos ver lá na frente o que vão decidir — disse, com certa urgência na voz, antes de repassar o telefone à assessora Mariana. O treino da tarde da última segunda estava para começar, e Leo não queria perder de jeito nenhum mais uma oportunidade de se firmar como o dono da camisa 9 paranista.

Confira a situação de outros atletas emprestados pelo Inter:

Lima e Maycon - Colegas de Léo no Paraná, o lateral e o volante são as primeiras opções caso os titulares estejam impedidos de atuar. Mesmo bem cotados, devem seguir no banco de reservas.


Marquinhos (foto) - Com a lesão do centroavante William, ex-Grêmio, o meia ganhou chances como titular do Avaí e caiu no gosto de Silas. Foi chamado pelo técnico como "desafogo" do time. Convivendo com o xará mais famoso, de passagem pelo Santos, o ex-colorado agora atende por Marquinhos Gabriel. Mesmo com os elogios, voltou para o banco assim que William mostrou condições de jogo.

Talles Cunha e Wagner Libano - A dupla de meio-campistas tem um problema semelhante ao de Marquinhos: a concorrência. Roni, garoto-prodígio de 19 anos, vem enchendo os olhos no Criciúma. Como a prioridade do clube catarinense é privilegiar a base, os ex-colorados ainda aguardam nova chance. A importância de Roni é vital ao time, a ponto de o técnico Guilheme Macuglia admitir:

— Quando ele não joga, passamos por dificuldades — atesta.

Kléber Silva e Mineiro - Os laterais fazem companhia a Cunha e Libano no Criciúma. Kléber já jogou duas vezes, é opção para o titular Fabio Santana. Já Mineiro teve problemas com uma pubalgia e está longe de ser titular.


Guto (foto) - Atuou em três jogos, todos começando no banco, e ainda não encantou o técnico Artur Neto, que prefere o titular Hugo. Guto chegou ao Serra Dourada sem o aval do comandante. Quem ajudou a convencer Artur foi Marcão, zagueiro campeão da Copa Sul-Americana com o Inter em 2008.

Wagner Silva - Em recuperação de uma artroscopia, o zagueiro não passou nos testes médicos ao chegar a Ponte Preta. Deve ser reavaliado clinicamente no Beira-Rio.

Thiago Humberto - Revelação do extinto Barueri (hoje Grêmio Prudente), o meia já havia sido emprestado em 2010, quando chegou ao Inter. Este ano, rumou ao Ceará, clube no qual pouco produziu até então. Segundo jornalistas locais, dificilmente encerra o ano lá. Conservador, o técnico Dimas Filgueiras joga com apenas um meio-campista. Humberto teria, portanto, apenas a distante ficha 3 para ingressar entre os titulares. Pode aparecer no time se Dimas resolver poupar jogadores, já que o Ceará conquistou o primeiro turno do Estadual.


Ytalo (foto) - Surgiu bem no Inter B de 2010, junto com Walter e Damião. Após o Gauchão, sumiu. Agora, no Mogi Mirim já atuou como titular, mas ainda não se firmou. Depende muito do esquema. Com três zagueiros, ele deixa o time, como aconteceu na vitória sobre o Ituano, no último fim de semana. Em sua estreia, havia entrado no segundo tempo e marcado um gol. Apesar de ser uma indicação de Celso Roth para o técnico Guto Ferreira, ex-auxiliar no Beira-Rio, Ytalo ainda não se encaixou no esquema.

Fabinho - Seria colega de Ytalo no clube do interior paulista, mas acabou deixando Mogi Mirim, alegando falta de adaptação. A atitude intempestiva do atacante irritou Guto Ferreira, na ocasião: "faltou maturidade", entendeu o técnico.


Dalton (foto) - Apresentado na última sexta-feira no Atlético-PR, Dalton chegou ao Beira-Rio ano passado como promessa do Fluminense. O zagueiro foi convocado para a partida do fim de semana, mas não participou da derrota, diante do Operário.

Joabe - Comparado ao atacante Fabiano pela semelhança física, Joabe começou a despontar no Cruzeiro. Em 2010, chegou ao Beira-Rio, onde pouco destoou. No Gama, já atuou como titular em sua estreia. Sem brilho, foi substituído na derrota para o Ceilândia.

O que diz Siegmann, vice de futebol do Inter

"Todos que foram emprestados têm chance de retornar ao Inter. Se não fosse assim, nem seriam emprestados, mas mandados embora simplesmente. Vamos monitorar e fazer a avaliação ao final do ano, quando os contratos de empréstimo se encerrarem."