Qualquer adversário que pretenda superar o Grêmio dentro do Estádio Olímpico sabe, de antemão e com sobra de exemplos, que precisa antes encarar um inimigo muito mais implacável: aquela tremedeira que prejudica o funcionamento da perna. Se não vencer os próprios temores, as próprias dúvidas, o receio de arriscar algo diferente face à tradição e ao poderio, inclusive político, dos donos da casa, time algum pode sequer sonhar com a façanha. No caso do Caxias, o título do primeiro turno do Gauchão Coca-Cola.

E mais do que as amostras alheias, o clube grená tem as suas próprias em uma sequência recente de jogos decisivos na Capital, a alertá-lo de que a situação requer abordagem diferenciada. O duelo anterior entre as duas equipes, ainda pela fase classificatória da Taça Piratini, foi mais um capítulo da mesma série. Dois jogadores, entretanto, já deram indícios, ainda naquela ocasião, de que não pretendem vê-la se repetir agora.

— Me preparei bastante durante aquela semana, independentemente de entrar ou não no time. O que eu sabia é que precisava mostrar atitude, força. Acredito que evoluímos no segundo tempo — lembra Pedro Henrique.

Que entrou no segundo tempo, quando o Caxias marcou seu gol, descontando os dois sofridos com facilidade na etapa anterior, e até fez a defesa gremista ter de trabalhar. Outro caso é o do então capitão do time, que não baixou a guarda durante os 90 minutos.

— Perdemos quando poderíamos perder. Agora será diferente. Eles têm a responsabilidade de jogar em casa e do maior investimento. Nós queremos um título que será de todo o Interior — proclama Neto.

A formação escolhida por Lisca para o reencontro passa diretamente pela presença de ambos. Pedro Henrique, curtindo a titularidade, não se mostra preocupado com a hipótese de perder o assento. Aliás, não se mostra preocupado com nenhuma outra coisa.

— Meu foco é o título para o Caxias. Sabemos que eles são uma grande equipe, mas ninguém é imbatível. Mas pelo que muita gente fala, o Grêmio já é campeão. Vamos trabalhar com isso. Temos muita confiança no nosso trabalho.

Neto, após lesão muscular, tem retorno praticamente garantido. Com dupla satisfação. Primeiro, pelo adiamento da final, provocado pelo próprio interesse gremista.

— Para mim ainda foi bom. Aproveitei para me recuperar bem.

Segundo, pelo alívio de não ter mais de acompanhar uma decisão nas cadeiras do estádio.

— Jogo, ver de fora, já é ruim. Pênaltis, pior ainda. Do lado de fora é o que o torcedor passa. Por isso o futebol é tão apaixonante. Mas é muita emoção. Prefiro ficar no campo.

Vetado para o combate, Neto ofereceu o que pôde da personalidade para quem encararia o São José-PA, no último domingo. À paisana, mobilizou os companheiros em círculo, no gramado, pouco antes do jogo:

— Falei que o time não é apenas 11. Eles tinham que entrar com o coração, representando os 30 do grupo.

Além daqueles milhares de apaixonados que sofrem do lado de fora, sonhando com uma façanha.