| 03/12/2010 09h12min
Motoboy, funcionário de lava-a-jato, vendedor de pamonha e sacolé. Derley já fez de tudo nessa vida. Futebol, para o garoto pobre de Luziânia, interior de Goiás, era apenas uma das poucas diversões a que tinha direito na infância. A outra era acompanhar o pai, caminhoneiro, nas viagens.
Até os 21 anos, Derley só sonhava em ser jogador de futebol. O máximo que alcançara, entretanto, era uma vaga no único time da cidade, que lhe pagava R$ 150. Isso durante os três meses de campeonato. Nos outros nove, ele tinha de se virar para conseguir dinheiro.
– Minha mãe e minhas irmãs faziam pamonha e dindinho (sacolé), e eu vendia na vila. Também fui motoboy, daqueles que carregam caixa de som para fazer propaganda – lembra.
Chance para mudar a vida
Em 2007, a sorte sorriu-lhe, e o guri recebeu a chance de mostrar que seu talento com a bola poderia mudar a vida da família humilde _ o pai, Joadir, a mãe, Terezinha, e os irmãos Tatiana, Rosângela e Wenderson. O presidente do Luziânia conhecia o auxiliar técnico do Inter, Guto Ferreira, e convidou-o para ver Derley: bastou um jogo, à noite, para Guto levar o guri para um teste no time B do Inter.
– Eu nunca havia andado de avião nem saído da minha cidade! Parecia um sonho – conta.
Carreira começou aos 45 do segundo tempo
Faz três anos que Derley entrou para o mundo da bola. Agora, é jogador do Internacional até 2013
– A maior alegria da minha vida foi quando assinei meu primeiro contrato. Mudou muita coisa em pouco tempo – diz.
Para quem começou tarde na carreira – só jogou em um clube de Goiás, a realidade ainda parece sonho. Que se tornou real graças à persistência e apoio da família.
– Meu pai falou milhões de vezes para eu largar a bola e procurar trabalho fixo. Eu já estava com 21 anos, mas quando surgiu o teste, me deram o maior incentivo – conta, com orgulho.
"Não é um bicho de sete cabeças jogar em time grande"
Logo no primeiro mês como jogador do Inter B, o volante viajou para a Coréia do Sul para disputar um torneio. Com apenas alguns jogos, recebeu proposta para permanecer por lá, mas queria mesmo brilhar no Colorado:
– Dei uma balançada, mas os dirigentes falaram que, em seguida, eu iria para o profissional.
Na pré-temporada de 2008, o então técnico Abel Braga mandou chamá-lo. Devido à falta de experiência de espaço no grupo, o clube emprestou-o, para que ganhasse experiência. Ficou um ano e meio no Náutico, onde, além de conquistar a torcida, ganhou duas vezes o prêmio de melhor volante do Campeonato Pernambucano.
– Foi muito bom. Faltava muito para mim de trabalho de base. Lá, cheguei na segunda, e domingo já era titular – afirma.
O destaque em Recife fez o Inter trazê-lo de volta e renovar seu contrato até 2013.
– Com a confiança que ganhei, vejo que não é um bicho de sete cabeças jogar em um time grande – analisa.
Computador é o grande companheiro
Apesar de ter apenas 14 jogos no time principal, Derley é um dos 23 homens de Celso Roth para o Mundial. A oportunidade de disputar o torneio mais importante do mundo enche o garoto de orgulho:
– Será uma sensação única. Sair de onde saí e ter uma oportunidade dessas... Parece que foi ontem que eu jogava descalço no campinho. Terei muitas coisas para contar aos filhos.
Casado há poucos meses com Fabiana, que conheceu em Recife, Derley diz que é muito caseiro: gosta de almoçar em shopping center e de ficar em casa nas folgas. Seu hobby é navegar na internet, vasculhando sites de esporte:
– Meu passatempo é o computador. Como meus pais moram longe, não dá para visitá-los toda hora.
Conheça um pouco mais:
• Nome: Wanderley de Jesus Sousa
• Data e local de nascimento: 2/8/1986, em Anápolis (GO)
• Comida preferida: arroz, feijão e bife
• Filme preferido: Código de Conduta
• Último filme que viu: Tropa de Elite 2
• Jogo inesquecível: "Minha estreia no profissional do Inter, em 2008. Ganhamos de 1 a 0 do Vasco."
• Onde passa as férias: "Na minha casa, no interior de Goiás."
• Ídolo no futebol: Zidane, ex-seleção francesa
• Ídolo na vida e por que: "Meus pais, Joadir e Terezinha, porque me criaram na dificuldade e fizeram de tudo para eu estar aqui hoje."
• Se não fosse jogador de futebol, seria? "Caminhoneiro, como meu pai."
• Grau de escolaridade: Ensino Médio incompleto
• Pior situação por que passou em campo: "Quando caímos para a Série B, no Náutico. Atrasaram os salários e eu tinha de pedir dinheiro emprestado. Isso interferia em campo."
• Música preferida: "Gosto de sertanejo. Foi Deus, de Edson e Hudson é uma das preferidas."
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