| 10/08/2010 08h27min
Mano Menezes começa hoje uma caminhada rumo a julho de 2014. Contra os Estados Unidos, no estádio New Meadowlands, o Brasil estreia sob o comando do gaúcho, que passou as duas últimas semanas dividido entre dar entrevistas e conhecer sua nova estrutura de trabalho. É na parte operacional que Mano aponta a necessidade mais urgente de mudança: para renovar, é preciso integrar as categorias de base da CBF com a principal, tarefa a cargo de um coordenador de seleções ainda a ser escolhido.
Em entrevista a Zero Hora no sábado, por telefone, Mano falou também da mudança que deseja em campo.
— Temos qualidade para manter a posse de bola, temos drible para nos livrarmos de marcação mais forte. Esse papel sempre foi nosso.
Confira os principais trechos da conversa.
Zero Hora — Como a Seleção vai jogar daqui para frente?
Mano Menezes — De uma forma que privilegie nossos jogadores. Em determinado momento não tivemos tantos meias e atacantes se destacando, aí se mudou a característica de jogo. Agora podemos voltar a jogar como antes. Na Europa, praticamente todas as equipes estão jogando com três atacantes ou em uma linha de três na frente. É assim que o futebol brasileiro hoje pode render mais. Você pode mudar naturalmente para um 4-4-2 durante o jogo, sem violentar a característica do jogador.
ZH — Muitos viram sua disposição de "retomar o protagonismo" como uma volta do futebol-arte. É esse o caso?
Mano — A relação de protagonismo e coadjuvante não tem obrigatoriamente a ver com futebol-arte ou competitivo. Trata-se de propor o jogo. Durante algum tempo se jogou mais no erro do adversário, e isso é aceitar a proposta do outro. A Espanha é o exemplo mais objetivo de jogar o tempo inteiro dentro do campo adversário. No futebol brasileiro, não podemos abrir mão disso. Temos qualidade para manter a posse de bola, temos drible para nos livrarmos de uma marcação mais forte. Esse papel sempre foi nosso no futebol mundial.
ZH — Na Seleção, o contato com os jogadores é bem menos frequente do que no clube. Como você vai driblar isso?
Mano — Uma forma é não variar tanto no universo de observação (de jogadores). A outra é: se Maomé não vai à montanha, vamos levar a montanha a ele. O técnico da Seleção precisa ir até seus jogadores, observar o seu dia-a-dia nos clubes. E não só ele: descobrimos que em muitos dos problemas físicos e clínicos faltava ao jogador uma metodologia melhor nos clubes europeus. Fisioterapeutas e médicos devem acompanhar nossos jogadores da Europa mais de perto e ajudar a enfrentar problemas.
ZH — Era o caso do Kaká?
Mano — Nominar sempre cria polêmica. Mas vocês acompanham e sabem que, às vezes, as coisas acontecem assim. Estamos cientes dessa dificuldade e vamos tentar minimizá-la.
ZH — Sua convocação teve muitos rascunhos?
Mano — Chegamos a uma lista de 50 nomes. A triagem teve três diretrizes. Eu não queria chamar a maioria dos que jogaram a Copa, por desgaste físico e também mental. Eu queria também convocar mais atletas de clubes brasileiros. E, por fim, diminuir a média de idade para projetar uma renovação.
"Temos qualidade para manter a posse de bola, temos drible para nos livrarmos de marcação mais forte", diz Mano sobre o futebol brasileiro
Foto:
CBF, Divulgação
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